A Natureza avisa
As fortes chuvas que afetam a região são sinais de mais temporais quando começar o verão; a questão é saber se as cidades estão preparadas para a fase mais aguda do ciclo das águas
Desde o início da semana, a Defesa Civil do Estado vem emitindo alertas à população por causa dos fortes temporais que chegaram à região e podem continuar ao curso dos próximos dias. O La Niña, de acordo com os meteorologistas, tem forte influência sobre o clima, o que aumenta ainda mais as preocupações. E há motivos. As cidades do entorno de Juiz de Fora já registraram fortes chuvas seguidas de raios e trovoadas. Em Muriaé, os ventos causaram graves prejuízos. As imagens que circulam pelas redes sociais impressionam.
Os juiz-foranos já tinham vivido experiência semelhante no final de setembro, quando ventos de até 90 quilômetros atingiram a cidade, especialmente o Centro, com pontos de ônibus sendo danificados e até um motorista ficando ferido por conta da cobertura que caiu sobre o seu carro.
De acordo com a Defesa Civil, a despeito de as previsões serem menos precisas na primavera, por ser uma estação de transição, é preciso estar atento aos informes. Os alertas têm sido emitidos com pelo menos 12 horas de antecedência.
O que ora ocorre pode ser apenas um ensaio para o verão, que só chega em dezembro. O ciclo das águas, que normalmente começa em outubro, foi antecipado, e setembro já teve um dos mais altos índices de precipitação. E a questão que fica em aberto é se as cidades se prepararam para esse período.
Em Juiz de Fora, já foram iniciadas as obras de drenagem das áreas críticas, mas são projetos de longo prazo. Por isso, medidas provisórias devem ser necessárias para, pelo menos, mitigar possíveis danos na época mais crítica das chuvas.
Na cidade de Petrópolis, palco de uma tragédia no início deste ano, a população voltou a se preocupar, uma vez que – a despeito de todos os anúncios de investimentos na ocasião dos deslizamentos e dos soterramentos – pouca coisa foi feita. Muitas famílias, por não terem para onde ir, retornaram aos lares em áreas de risco.
O mais grave desse processo é a não implementação de medidas preventivas. Os institutos de previsão do tempo estão cada vez mais sofisticados, podendo fazer previsões com maior antecedência, mas nem assim são tomadas providências. As chuvas são sazonais – ocorrem em épocas específicas -, mas os anos passam, e a situação continua crítica pelo país afora.
Situada num vale, Juiz de Fora tem dificuldades próprias que devem ser enfrentadas não apenas pelas instâncias públicas, mas também pela população. Os mapeamentos já revelaram diversas áreas críticas; muitas delas já receberam projetos de contenção de encostas, mas ainda há outras regiões que carecem de outras ações.
A ocupação desordenada tem sido um desafio para as administrações, já que os autores agem à espera de intervenção do Estado para melhorar suas condições, mas isso nem sempre é possível em decorrência da clandestinidade e dos riscos que o próprio local oferece.