Certa vez me perguntaram sobre quais seriam meus critérios para escolher um candidato apto a ganhar o meu voto. De imediato, respondi que minha preferência tende sempre para aqueles que têm como pauta a defesa dos direitos humanos. Meu interlocutor ficou surpreso, porque, na visão dele, os “tais direitos humanos” teriam serventia apenas para a proteção de criminosos. Equivocadamente, ele fez referência à ideologia formada nas redes sociais que, de forma pejorativa, chama os direitos humanos de “direito dos manos”.
Pensar dessa forma é ignorar a história e a importância da criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que prega que todos os cidadãos devem gozar das mínimas condições necessárias para viver em sociedade. Quando ela surgiu, lá em 1948, o intuito era proteger a pessoa humana diante da máquina da guerra, de uma sociedade em que a violência aumentava, a cada dia, sob a influência da Segunda Guerra Mundial. Naquele contexto, era necessário a criação de freios que pudessem barrar a onda de violência social.
No passado e ainda agora, a relevância dos Direitos Humanos está na compreensão de que nós, seres humanos, somos frágeis diante de um mundo notadamente marcado por atrocidades, que, muitas vezes, são patrocinadas pelo próprio Estado. Os Direitos Humanos são para todos e obrigam os governos a fazerem algumas coisas, ao mesmo tempo que os impedem de fazer outras. Sim, porque ninguém está livre de sofrer algum tipo de violação estatal, mesmo que seja por engano.
É preciso lembrar que, dentro da Declaração Universal dos Direitos Humanos, está o direito à saúde associado ao direito à vida. Esse é um exemplo para aqueles que se dizem contrários aos Direitos Humanos, mas fazem uso do Sistema Único de Saúde, o SUS, que é uma conquista de acesso à saúde garantida em nossa Constituição Federal, inspirada na noção dos Direitos Humanos de que todo o ser tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a saúde e o bem-estar de si mesmo e de sua família.
Diante disso, a discussão sobre o real sentido dos Direitos Humanos e sua abrangência é muito importante, principalmente neste momento de proximidade das eleições. Não é possível deixar que percepções equivocadas passem por cima de princípios tão caros para nossa sociedade.
Recentemente, li um texto de Frei Betto, no qual ele aborda o tema dos Direitos Humanos. Ele conta que, ao sair da prisão, depois de quatro anos, muitos lhe perguntavam se ele nutria ódio contra seus torturadores. O frade, que também é jornalista e escritor, respondia que no início, sim, mas logo se curou, ao descobrir que o ódio destrói apenas quem odeia. “O ódio é um veneno que se toma esperando que o outro morra”, refletiu o frei, que também prega o afeto e a solidariedade como base de nossas construções sociais.
Essa é a síntese da minha ideia ao escrever este texto. Não podemos deixar que o ódio nos cegue de tal maneira e nos leve a colocar por terra progressos obtidos pela humanidade ao longo dos tempos. Os Direitos Humanos são nossos direitos!