Através dos espaços públicos de manifestação que tenho aqui nesta coluna dominical e nas minhas redes sociais, escrevo e falo sobre os diversos aspectos do envelhecimento de todos nós, do meu e o das pessoas que me são muito próximas, como o envelhecimento da minha mãe. Tomei essa postura porque – é o que não me canso de dizer por aqui – precisamos cada vez mais falar sobre essa fase da nossa vida, que é o envelhecimento. Desejo, com o seu apoio e participação, leitoras e leitores, colocar pra valer esse tema no dia a dia da nossa cidade. Por isso que ocupo, toda semana, este espaço aqui com vocês, para promover alguma reflexão ou aprendizagem e contar com o apoio de vocês para a multiplicação e engajamento de mais pessoas nessa pauta.
Nossa educação ainda exclui essa realidade do contexto social em nossas relações cotidianas. Minha expectativa é a de que falando mais, escrevendo mais sobre a velhice, ela possa ser vivida de uma forma mais leve e com apoio social. Ainda mais, se desejamos criar uma nova sociabilidade, uma solidariedade intergeracional, lançar um novo olhar sobre JF. Tendo em vista a inauguração de um próximo futuro para a nossa cidade, não tem como deixar as pessoas idosas de fora da sala, não ouvir as suas narrativas, suas esperanças e desejos de cidade.
Neste compartilhamento das minhas experiências pessoais, até como exercício e treino de perdas que existem na vida, falo e escrevo sobre o processo de saúde da minha mãe, com o intuito de criar um lugar de trocas de vivências e de sentimentos trazidos por um envelhecimento mais dependente e de menos autonomia, como o que estou vivendo dentro de casa. Até como uma projeção para os dias do meu próprio envelhecimento e o de outras pessoas também. O que falo e escrevo aqui não estaciona em mim. Segue, vai até você que me lê. Porque falamos tão pouco do nosso fim? Minha proposta de trabalho e de vida é saber lidar com o que nos assusta e nos causa medo. Aprendi sobre isso _ de conviver com as sombras e fantasmas humanos – nas aulas de Geriatria e Gerontologia e nos livros, mas, também, com os meus próprios músculos emocionais na sustentação diária de ouvir histórias e mais histórias por mais de trinta anos com algumas pessoas idosas da cidade. Principalmente as das classes sociais mais desfavorecidas/injustiçadas.
Neste mês de julho escolhi, como arena temática para escrever e falar, a minha relação e os cuidados dispensados à saúde da minha mãe. E compartilhar com vocês o que essa realidade traz para o meu mundo íntimo e interior. Certo de que, pelo retorno que tenho, pelo que encontro de ressonância positiva, estou compartilhando situações pessoais muito próximas às que vocês passam no dia a dia. O que me dá uma grande sustentação espiritual para caminhar adiante.
Dizer também que além desses importantes canais de expressão pública _ jornal e redes sociais – de meus pensamentos e sentimentos, criei também – realimentei – uma relação sagrada com Deus, com quem converso diariamente. Diante da finitude, numa desejável e poética dimensão do tempo: o passado, o presente e o futuro fazem de conta que escapam de mim. Não é verdade. Sofro, portanto, vivo. Minha religião é o amor.