Há cinco anos, escrevi um livro pequeno sobre crônicas – “Esse é o meu lugar” – que já tinham sido publicadas nos principais jornais impressos da cidade. São registros pessoais ligados ao nosso envelhecimento. Como os que produzo aqui nessas colunas semanais de domingos. Lá se vão quase quatro anos de páginas que contêm impressões, apostas, realidades e fantasias sobre alguns aspectos humanos da passagem do tempo em nós.
Gosto de escrever porque gosto de literatura. E não tenho nenhuma dúvida em afirmar e dividir com vocês, prezadas leitoras e leitores, que alguns livros salvaram a minha vida para sempre. É um caminho sem volta. O retorno que recebo de vocês em comentários positivos e abordagens elogiosas, nas ruas e nas redes sociais, me oferecem estímulo e coragem para buscar a produção de um outro livro, nos moldes do que fiz referência no início desta Coluna. Será também recheado e temperado com os sabores e saberes do nosso processo de envelhecimento.
Escrevo para dizer das minhas impressões da vida no envelhecimento: um tema, assunto, conteúdo, que me é muito caro por dever do ofício profissional. Busco no exercício da escrita uma expressão de mim, e aí me vem uma questão: mais para me candidatar a ser um cronista ou um colunista? Na tentativa de me apaziguar internamente, faço uma rápida pesquisa nos arquivos da Coluna “Sala de Leitura”, da competente e sensível jornalista, Marisa Loures. Uma entrevista com o renomado e admirável também jornalista e cronista, Arthur Dapieve. Essa entrevista está nas páginas da Tribuna, publicada na edição do dia 12 de janeiro de 2021. Mas, por que eu trago essa consulta? Porque ao responder uma questão da Marisa, sobre o que é ser um colunista e o que é ser um cronista, nesses termos, mais ou menos, ele diz o seguinte: “… a crônica tem que ser pessoal, mas, ao mesmo tempo, compartilhável. Outras pessoas precisam se identificar com elas, se sentirem representadas”.
Lido isso, pessoal, eu não tenho dúvidas em afirmar: o que eu mais desejo aqui neste privilegiado espaço que a Tribuna me convidou é falar de mim, não no tom narcisista e egocêntrico, mas, olhar para vocês, que me leem, na tentativa, por alguma palavra, ter a identificação de vocês (alguns) ou chegar perto disso. E a certeza de que precisamos falar/escrever cada vez mais sobre o nosso envelhecimento.
Assim sendo, nesse tom mais pessoal, já que estou no caminho de fazer crônicas, divido sentimentos, angústias e inseguranças sobre a saúde da minha mãe. O que me tem proporcionado muitas reflexões e percepções sobre a vida. Na direção das observações feitas por Vera Iaconelli, psicanalista e colunista do jornal Folha de São Paulo, que, no início desta semana, escreveu o seguinte, entre outras colocações autorais: “…nunca estamos preparados para os acontecimentos fundamentais da vida: o nascimento, o envelhecimento e a morte”. É verdade. Não somos treinados, educados para fecharmos a última página do livro da vida da gente.
Como pai que sou, lembro-me de uma experiência de morte que meu filho vivenciou. Eu e ele. A de um peixe (peixinho) de rabo meio alaranjado, desses de aquário redondo. Eu tive junto com o Pedro a mais importante lição colocada pela vida: a de que não só os peixes morrem, mas todos nós.