Tempos atrás, acompanhei uma entrevista da escritora mineira Adélia Prado. Sou mais um fã dessa filha ilustre de Divinópolis. Que me respondeu uma carta, feita em aerograma – lembram desse papel de carta? – dispensava selo. Idos de 1980. Onde me agradecia por todas as coisas de um menino que dediquei à ela. Depois ela ganhou muita visibilidade na mídia. Fernanda Montenegro levou sua vida e sua escrita aos palcos com “Dona Doida”. Nessa participação, com essa entrevista, ela dizia que os escritores russos, de um modo geral, todos eles, tem as mãos no barroco de Minas Gerais. A busca de Deus, o teocentrismo. Uma visão pessimista da realidade recheada de conflitos existenciais. A onipresença da morte no enredo das páginas da nossa vida. É o que li nas linhas do livro, novela, que leva o título dessa Coluna, na autoria de um grande representante da literatura russa. Lev Tolstói. É uma leitura apaixonante que expõe abertamente as necessidades da alma humana: ser amado e amar. O mais incrível de tudo isso é que estamos falando de quase 150 anos atrás na Rússia da segunda metade do século XIX. E como é atual esse desejo de sermos reconhecidos e amados nas nossas relações sociais, familiares e de trabalho. Nesse ambiente social em que estamos metidos, que muitas das vezes, na família encontramos futilidades e vazios de afetos. No trabalho, quase que cem por cento das vezes, vivenciamos relações de interesses mesquinhos e puxa-saquismos desembestados visando a promoção pessoal. Ou seja, no mundo real, prevalece a valorização de tudo aquilo que está fora de nós, sem se importar e reconhecer e dar valor aos nossos sentimentos e nossos desejos de sermos amados e respeitados. É o que nos apresenta o personagem protagonista de Tolstói; que doente vai à morte, mas o jogo de cinismos e mentiras que o rodeia prevalecem. Sem dar “spoiler”, sugiro sem medo de errar, que a leitura dessa obra, é uma boa pedida; entrar nesse universo e observar o que nós somos e como nos relacionamos. A descrição da nossa aldeia é a história do mundo! O que vou falar da minha pequena-grande Porciúncula/RJ? Amo-te.
A leitura de Tolstói me trouxe reflexões imediatas para o meu cotidiano. Eu que acompanho o processo de adoecimento de minha mãe. Muito bem cuidada pela equipe de profissionais de saúde, mas que não deixa de estar presente, em alguns deles, a preocupação muito maior com a doença do que com a pessoa que está doente. É o que encontro na narrativa de Ivan, depois de sofrimentos seguidos, quando ele diz, “queria ser acarinhado, beijado e que chorassem sobre mim, como se costuma acarinhar e consolar crianças. E não ouvir: o idoso quando sai de casa, é assim mesmo, fica muito confuso! Mas e quando essa confusão já acontece na casa do idoso? Mais cedo ou mais tarde a medicação administrada vai anular todos esses sintomas. Fica patente o quanto que na formação profissional, os conteúdos de Geriatria e de Gerontologia precisam fazer parte dos currículos das Instituições de Ensino Superior. Como na voz de Ivan, nós pedimos por humanidade. Tal como na Rússia do século XIX e no Brasil do século XXI, as relações humanas devem ser desenvolvidas de forma a respeitar todas as pessoas sem distinção de cor, sexo, idade, religião, condição financeira, opção política e de vida.