Saí para procurar uma farmácia, a fim de comprar um sabonete específico para a pele, e acabei entrando num shopping. Enquanto estava na escada rolante, ouvi uma adolescente, que devia ter lá seus 17 anos, dizendo para outra adolescente, que talvez também tivesse a mesma idade ou um pouco menos: “distopia é o contrário de utopia”. Claro que diante de uma frase como essa, tentei prestar atenção no pouquinho de conversa que conseguiria ouvir até a descida terminar. Não que eu seja abelhudo e goste de ficar ouvindo conversas alheias, mas foi muito bom saber que existem adolescentes pensando na diferença entre utopia e distopia.
Do pouco que consegui acompanhar da conversa das duas, elas falavam sobre o Brasil e do tipo de nação que gostariam que o país fosse. Os degraus acabaram sob meus pés e não tive como saber mais sobre o que aquelas jovens sonhavam para que nosso Brasil fosse ideal. Ao caminhar só pelo shopping, comecei a lembrar de quando também era adolescente, dos sonhos que guardava, da esperança inocente de que, realmente, vivia no “país do futuro” e de que esse futuro estava por ser inventado e que chegaria de portas abertas, trazendo possibilidades.
Lembrei-me também dos meus amigos daquela época. Todos nós éramos sedentos de utopia, queríamos mudar o mundo e nossos corações eram cheios de ideais, assim como os daquelas meninas na escada rolante. Acho que, de certa forma, adolescente acaba sendo tudo igual. A gente sabia muito bem o que era utopia, que podia ser o novo que estava por vir, e quase nada de distopia, algo que só queríamos negar.
O tempo passou e cá estamos nós, vivendo praticamente em tempos distópicos. Uma época de pouca mobilidade, indiferença e quase sem empatia pelo outro. Há tanta desesperança, pelo menos no mundo dos adultos, que estamos todos mais propensos a ficarmos ilhados, presos em certos confortos. Ou será medo de nos arriscarmos e termos de lidar com uma nova frustração? Estamos em crise e, apesar de saber que tudo isso só nos desumaniza ainda mais, não sabemos o que propor.
Se existe saída? Tem que existir. Ela talvez dependa de uma ação coletiva apoiada em um novo jeito de pensar e de agir. Estou torcendo para que aquelas adolescentes da escada rolante, duas meninas quase mulheres, tenham mais sorte e encontrem as condições para que a geração delas seja o prenúncio dessa mudança, para que possamos estar mais perto da almejada utopia.