Dedico essa coluna à minha mãe. Dona Lúcia. Que tinha o sonho de estudar para ser professora primária. E fez de mim e do meu irmão, profissionais formados pela educação pública. Do antigo primário a uma vaga na UFJF. Meu pai, ao seu modo, orgulhou-se dos filhos. Que seria de mim se não tivesse a oportunidade, o acesso à educação pública? Fui salvo por ela. Me deu futuro. Minha eterna gratidão a todas as professoras e professores que me educaram para a vida. Na entrada do envelhecimento, acompanhando as mudanças no mundo, cada vez mais, cresce em mim, para ficar, a importância da educação. A certeza de que a vida só tem sentido na presença da coletividade, da comunidade. Da atuação pública. Na preocupação e implicação com as pessoas. A memória traz a minha casa, desde cedo, desde criança, ela sempre cheia de gente. Familiares e vizinhos. Minha sociabilidade tem a ver com a rua, com o futebol, com a família e com os amigos. A busca por Deus me abriu as portas para o encontro com a espiritualidade. Participei, quando novo, de grupos de jovens, ligados à Igreja Católica. Na Igreja Nossa Senhora da Cabeça, no bairro Fábrica. E também na Igreja do bairro Bairu. Esses encontros, de finais de semanas, foram fundamentais para a minha formação humana, ética e cidadã. E sementes para a minha conscientização política. Na leitura do evangelho e sua interpretação para a realidade diária, eu tive a noção e a percepção da
existência das classes sociais e certamente, de onde eu vim e de onde eu me situava. Pobre. E que se não estudasse, minha mãe estava muito certa, quando dizia que “o estudo é a luz da vida”, eu não teria a chance de escrever semanalmente essas Colunas. A vida é muito estranha: nessa trajetória, de construção do meu amanhã, muitos dos meus amigos e amigas se perderam no caminho.
Já na UFJF. Na Faculdade de Serviço social. Anos 80. Selei para valer meu compromisso político e público com a luta pelas melhorias das condições de vida da população. No sonho e na utopia de contribuir para a transformação do mundo. Estou aqui, estou presente no ativismo social pela educação de nossa cidade para o envolvimento com a sua população idosa. Me tornei um banner contra o etarismo. Li essa expressão em algum lugar e me identifiquei com ela. Essa é a minha bandeira. Precisamos lutar por alguma causa que nos torne pessoas melhores. Reconheço que o mundo mudou e está ao avesso para as expectativas e desejos de uma vida melhor para todas e todos. Até pouco tempo atrás, na política social, lutávamos por ideias, hoje, não. Almeja-se os interesses próprios, “o que eu vou ganhar com isso?”. Acredito com altivez e sabedoria que a história não acabou. E que podemos virar o jogo.
Que no jargão político, por mais desgastado que esteja, um outro mundo é possível. Minha resistência renova-se na alvorada de um novo dia. A luta continua.
Mais uma semana municipal da pessoa idosa é entregue à cidade. Para que ela não se esqueça de seus filhos mais velhos. Não se esqueça do tanto que elas e eles fizeram. E continuam a fazer. Mas que precisam de serem lembrados. Vistos e revistos. Reconhecidos. Reconhecidas. Pelo exemplo de resistência e de fé na vida, meus parabéns.