No trabalho social que desenvolvi com algumas pessoas idosas, vinculado à PJF, durante mais de trinta anos, aprendi muito. Tanto para a minha vida profissional quanto para a minha vida pessoal. Eu opto para compartilhar com vocês alguns pontos de aprendizagem pessoal para nossa reflexão sobre tomada de consciência de alguns aspectos da nossa vida. Primeiro. Querendo ou não, todos nós vamos envelhecer. E é preciso preparar para essa nova realidade. Conscientização e mergulho em nós para a vivência do nosso envelhecimento. Não tem como oferecer receitas. Mas dicas e orientações de especialistas largamente divulgados e muito pouco executados funcionam: prática regular de atividades físicas, culturais e sociais; atenção ao que come e ao que entra na nossa cabeça também. Mas ainda é grande, o número de pessoas sedentárias. E, com a pandemia, ficamos mais isolados e longe dos encontros com as pessoas amigas. Um outro ponto de aprendizagem. Bem a propósito. A Dionysia, artista da nossa cidade, está aí mostrando para o Brasil que efetivamente, sonhos não envelhecem. Aos 90 anos, está dando um show de coragem e competência com sua brilhante participação no The Voice+. Podemos começar a lutar pelos nossos sonhos, desde já. Começando o quanto antes. Fazendo da velhice um tempo de colheita do que semeamos.
Nesse momento, faz-se necessário contextualizar que nos tempos em que estamos vivendo, envelhecer para uma grande maioria das pessoas, não é uma condição social das melhores. Muito pelo contrário. Ficamos mais pobres. Não só financeiramente, como também de afetos, de cuidados e de amor. Sozinhos e abandonados. Não temos proteção social e nem amparo político e público para a vivência de uma longevidade melhor e com qualidade de vida. De que nos adianta vivermos mais cronologicamente se estamos cada vez mais esquecidos? Daí a necessidade de uma mobilização política e social inadiável de luta diária pela defesa da vida em todas as idades.
Um terceiro ponto que destaco da minha caminhada profissional para a minha vida pessoal. É a realidade da morte. A minha, a nossa finitude. Deixando bem claro aqui – para sair do senso comum – que essa situação não é específica, própria e natural do envelhecimento. Morrer faz parte da vida.
E para finalizar essa reflexão, vou entrar um pouco no conteúdo existencial que deu o título à crônica de hoje. Trata-se de mais uma experiência de vida pessoal que tive na vida com a despedida do meu pai. Acompanhei seu processo de adoecimento e, além de resgatar o amor recíproco entre pai e filho, tivemos um adeus bonito. Libertador e cheio de sentimentos verdadeiros. Um momento de muita luz. Um evento que marcou definitivamente minha caminhada por aqui. De todo esses três pontos que destaquei, o certo para mim é afirmar que o trabalho social com as pessoas idosas me fortaleceu como pessoa, com todas as contradições pertinentes à jornada humana, para o preparo do meu próprio envelhecimento e para o cuidado dos idosos de casa. Ontem, meu pai; hoje, minha mãe.