Agentes das forças de segurança de Minas ameaçam ‘parada geral’
Manifestação na capital mineira reuniu bombeiros e policiais militares, civis e penais, que reivindicam recomposição salarial
Pela segunda vez, em menos de um mês, os agentes das forças de segurança de Minas Gerais realizaram, nesta quarta-feira (9), uma manifestação de grande porte, em Belo Horizonte, reivindicando recomposição salarial. A organização do ato estimou que haveria cerca de 50 mil presentes. Na manifestação do último dia 21, cerca de 30 mil pessoas teriam participado do ato. A categoria promete uma “parada geral”, caso o Governo não sinalize um acordo com as liderança sindicais. De Juiz de Fora, ao menos 11 ônibus, com cerca de 500 agentes de segurança pública em atuação no município, partiram para a capital mineira.
O ato começou, por volta das 9h, na Praça da Estação, na região central de Belo Horizonte, e foi encerrado pouco antes das 18h, na Cidade Administrativa, sede do Governo de Minas. A Tribuna conseguiu conversar, logo após o término do ato, com o presidente da Associação do Sistema Socioeducativo e Prisional de Juiz de Fora (Assprijuf), Wanderson Pires. Ele estava em trânsito de volta a Juiz de Fora.
Segundo ele, o governador Romeu Zema havia marcado uma reunião para as 17h desta quarta, com o seu secretariado, a fim de definir os contornos da situação. Todovia, conforme Pires, até o momento que ele pegou a estrada, não havia informações sobre o resultado dessa reunião. “Se nada for feito para atender nossas reividicações nos próximos dias, vamos partir para o tudo ou nada e serão dias difíceis para a segurança pública. Temos que mudar nossa forma de agir, porque já esgotamos todas as nossas possibilidades de negociação”, afirmou. Ainda segundo ele, ao longo do tempo, a categoria vem trabalhando de forma a superar todas as dificuldades. Pires citou, por exemplo, que celas destinadas a seis pessoas, atualmente, estão superlotadas com cerca de 50. “Nossa cobrança não é apenas por aumento salarial, mas por melhores condições de trabalho também”, ressaltou.
A estimativa de que cerca de 500 manifestantes de Juiz de Fora marcaram presença na capital foi repassada à reportagem por representantes do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol/MG) e da Associação do Sistema Socioeducativo e Prisional de Juiz de Fora (Assprijuf). Segundo os órgãos, participaram do ato bombeiros e policiais militares, civis e penais de todo o estado. Os profissionais reivindicam o cumprimento de acordo estabelecido em 2019 entre a categoria e o Governo de Minas Gerais para a recomposição salarial dos trabalhadores.
No dia seguinte ao primeiro grande ato realizado em Belo Horizonte, a insatisfação dos policiais e dos bombeiros gerou efeitos. Desde o dia 22, os trabalhadores passaram a operar em regime diferenciado. A Polícia Civil mantém o funcionamento da Delegacia de Plantão, em Santa Terezinha, para atendimento apenas de flagrantes, com redução a 30% do quadro. A Delegacia de Trânsito também mantém operação com percentual reduzido de servidores. Os bombeiros e a PM atendem os chamados de casos graves, que exigem intervenção imediata.
Quanto aos policiais penais, por falta de pessoal, a categoria suspendeu o banho de sol dos detentos e a visitação. A interrupção das visitas gerou, inclusive, início de motim de presos na Penitenciária Professor Ariosvaldo Campos Pires no último sábado (5).
Insatisfação
“Estamos com expectativa de ter cerca de 50 mil policiais em Belo Horizonte para, realmente, mostrar ao Governo Zema a nossa insatisfação em relação ao projeto de reajuste de 10% que ele encaminhou à Assembleia Legislativa. Nós queremos apenas os nossos direitos que foram acordados em 2019, de 41,7% de recomposição das perdas inflacionárias”, afirma o vice-presidente do Sindpol, o delegado Marcelo Armstrong.
Segundo a categoria, apenas a primeira parcela da recomposição acertada com o Governo de Minas há três anos foi paga desde então, restando 37,75% a serem concedidos. “Os policiais estão todos unidos e mobilizados por este objetivo comum. Queremos apenas as duas parcelas que nos faltam do acordo de 2019”, avalia Armstrong. “Esperamos uma negociação do Governo com as entidades de classe para chegar nestes termos acordados em 2019. Enquanto isso, nós mantemos a estrita legalidade. Esperamos que, nesta quarta-feira, o Governo tenha bom senso, dialogue com a categoria e resolva esses problemas”.
A reportagem da Tribuna entrou em contato com o Governo de Minas para solicitar posicionamento sobre o ato realizado pelas forças de segurança do Estado nesta quarta. Entretanto, até o momento, não houve resposta.
Motim ainda gera discussão
O motim iniciado por detentos na Penitenciária Professor Ariosvaldo Campos Pires no último sábado ainda é alvo de discussão, sobretudo pela recorrência de movimentos parecidos em todo o estado desde o início do movimento paredista dos servidores da segurança. No último dia 28, foi registrado um motim em Governador Valadares.
Já em março, presos atearam fogo em colchões em presídio de Montes Claros, no Norte de Minas, contra a redução das visitas, mesmo motivo que levou ao incêndio na prisão em Linhares. Na terça-feira (8), outro caso foi registrado em Janaúba, também no Norte mineiro, onde detentos utilizaram cobertas para iniciar um incêndio no local.
“O motim começou porque, depois de horas esperando para entrar para a visitação, o assistente social falava que ou os agentes estavam de atestado ou que não tinha gente suficiente para acompanhar a visita”, explica a presidente da Associação de Familiares e Amigos dos Presos de Juiz de Fora e região, Miriam Louzada. “Quando iniciou a greve (das forças de segurança), eles começaram a não agendar visita, tanto a íntima quanto a social”, conta Miriam, lembrando que alguns familiares chegam a realizar o teste de Covid-19 exigido para as visitas íntimas, mas são barrados na entrada.
Sejusp diz que suspensão de visitas não tem relação com a paralisação
À Tribuna, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG) informou que as visitas não estão suspensas na Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires. Segundo a pasta, no último final de semana, elas foram suspensas na unidade prisional devido à situação de “subversão da ordem” que ocorreu no local. “No próximo fim de semana, 12 e 13 de março, as visitas estão previstas para ocorrer”, informou.
Ainda conforme a Sejusp, a suspensão das visitas nas unidades prisionais administradas pelo Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG) ocorreu entre março a setembro de 2020, como medida para evitar a propagação e contaminação da Covid-19, situação que não tem correlação com a paralisação de algumas atividades proposta pelo Sindicato dos Policiais Penais.