Escrevo essa crônica de hoje com a presença em mim e acredito que em muitas pessoas também, de muita esperança e fé na retomada do nosso (novo?) futuro. Com o avanço da vacinação em todo o país, caiu, em muito, o número de pessoas hospitalizadas por Covid-19 não só na nossa cidade, mas em todo o Brasil. O que é muito bom! O deboche presidencial na eficácia da vacina, “isso é só uma gripezinha”, não foi suficiente para impedir a mobilização, a competência e a dedicação de todas e todos o/as trabalhador/as da rede SUS na manutenção da vida de muita gente. Sem esse equipamento público de saúde – direito de todas e de todos – a tragédia humana, com mais mortes, poderia ser ainda maior. Registro aqui a minha eterna gratidão e reconhecimento ao SUS da nossa cidade, com excelentes profissionais.
Em relação às pessoas idosas, a pandemia deu visibilidade a esse grupo populacional, que mais cresce no mundo e, diga-se de passagem, em nossa cidade não é diferente. O contingente expressivo de idosos em JF nos coloca bem posicionados no ranking demográfico em população envelhecida, que não deve ser ignorado pelas autoridades públicas do Município, sob o ponto de vista de direcionamento de políticas públicas para esse segmento muito importante de nossa comunidade.
Refletindo um pouco mais sobre o momento pandêmico, que está em queda livre graças à vacinação, percebi e percebo que os cuidados dispensados às pessoas idosas foram secundarizados ou até mesmo desprezados em função da idade delas. O que ficou evidente, e está muito arraigado no nosso país e na nossa cultura, é o preconceito etário ou o ageismo de algumas autoridades públicas sanitárias (e tantas outras) que não deram e não dão importância social e pública a todos nós que envelhecemos. E elas também. Ou envelhecer é só para alguns?. Precisamos mudar essa realidade. Como? Eu não tenho receitas. Nem tenho como cravar comportamentos. Longe de mim ter essa pretensão. Mas penso e acredito que, como já escrevi aqui, caros leitores e leitoras, precisamos conversar mais sobre esse assunto. Trazer a realidade do envelhecimento para dentro da nossa casa, da nossa cidade, nos espaços públicos, nossos bairros, nossos relacionamentos sociais.
O que a pandemia nos ensinou? Do meu pequeno quintal herdado da minha Porciúncula, entendo que pouca coisa mudou ou vai mudar. Principalmente para o desenvolvimento humano das pessoas e de todos os povos. O que não me traz pessimismo. Pelo contrário. Para mim, ficou claro o quanto que nós precisamos uns dos outros, de uma geração e outra. E que só uma política social amorosa é capaz de mudar uma nação ou uma cidade. E que são as pessoas, todos nós, com nossas vidas, diferenças e diversas subjetividades, capazes de mudar o mundo na direção de mais solidariedade e de mais justiça social. Vida em abundância. Para a consolidação desse sonho, que não é só meu, é fundamental a participação de todas as pessoas.
É o que eu sempre digo nessas linhas. As pessoas idosas, as que têm autonomia e independência, e são a maioria, têm muito o que contribuir com a cidade. Aos poucos, mas sem interrupção, e agora, com a retomada do “normal”, estamos cada vez mais criando canais de participação social na cidade para as pessoas idosas. Temos que estar juntos e juntas. “Se a sociedade inventou a velhice, cabe aos idosos reinventarem a sociedade.” (Marcelo Antonio Salgado). Nunca é demais repetir. Por uma cidade para todas as idades.