“Cerração baixa, sol que racha”, assevera o dito popular, muito comum lá na roça. E na cidade também, posto que todo brasileiro urbano é, quando muito, um roceiro metido a besta. E, neste caso particular como em qualquer outro, repete o provérbio da matutagem.
Mas sempre teremos Juiz de Fora para nos provar o contrário de qualquer brocardo. Nesses dias de umidade relativa do ar atingindo níveis subaquáticos, aqui nas cercanias do Jardim da Serra, Marilândia e Nova Califórnia, onde não se seca toalha nem ceroula, a neblina reina imperecível. De seis a seis, não se enxerga um palmo à frente da venta na noite mantiqueira.
O cenário é lúgubre, o nevoeiro desmancha as cores e a gente fica assim, trancado num filme preto e branco. Nas ruas, os motoristas ajuizados conduzem lentamente seus automóveis, os faróis melancólicos vaga-lumes eletrificados. Dentro das casas, a gente que pode se enrola nas cobertas, faz sopa, vê TV, inventa moda pra meninada e mofa um pouquinho. Fica meio borocoxô, mas dá-se um jeito.
A lubrina é danada. Nesses dias de ar irrigado, o sol, quando se anima a botar a cara pra fora, é uma cara pálida, descarnada, que não chega a esquentar chapa, embora anime os cachorros e passarinhos a se aventurar na luz magricela.
No negrume dessas noites a gente costuma se encaramujar, mas não se desespera. É que todo brasileiro nasce sabendo que, mais dia ou menos dia, o sol volta. Não esse sol mirrado que arremeda alegria, mas o solzão vigoroso da América tropical.
Então os varais estarão de novo cheios de roupas coloridas, as moças se bronzeando na laje e a meninada a jogar bola na rua, os pés na terra fofa e agradecida por aqueles dias feios e fecundos.
Dias nebulosos