Minha mãe me ligou indignada, porque todas as mensagens de voz que recebia no whatsApp estavam aceleradas. Segundo ela, alguma coisa havia acontecido no aparelho celular dela, o que dificultava no entendimento do conteúdo dos áudios. Pouco afeita à tecnologia, minha mãe ainda não tinha se dado conta de que o aplicativo havia lançado um recurso para a aceleração em até o dobro da velocidade dos áudios enviados pelos usuários na plataforma.
Depois de explicá-la sobre as novas possibilidades (1x, 1,5x e 2x), ela lançou: “Mas por que tanta pressa?”. E diante dessa questão, eu me pergunto: “Por que tanta pressa?” e complemento: “Até onde essa necessidade de aceleração das coisas vai nos levar?”
A aceleração no aplicativo, à primeira vista, parece algo simples, mas também pode explicar muito sobre nós e nosso tempo. Um amigo chegou a me dizer que, como andava muito sem paciência em tempos de isolamento, depois de começar a ouvir os áudios só na velocidade “2x”, começou a achar que a humanidade estava lenta demais e que as pessoas estavam falando em slow motion na vida real. Eu brinquei e perguntei se ele achava melhor ouvir os amigos no ritmo daqueles comerciais na TV que terminam com a frase: “Este medicamento é contra-indicado em caso de suspeita de dengue”, em que a frase toda é dita em dois segundos.
Confesso que, para mim, essa possibilidade de aceleração não teve muito impacto, pelo menos por enquanto, porque continuo a ouvir os áudios que me chegam na velocidade normal, digo “1x”. Mas, não posso garantir que será sempre assim, e, quem sabe, no futuro, apele para o recurso a fim de adiantar aquele áudio arrastado de alguma mala-sem-alça. Tudo é possível!
Quando a nova ferramenta surgiu, diversas opiniões foram suscitadas. Havia aqueles que logo se mostraram preocupados com o sentido desse aceleramento na vida cotidiana, outros consideraram que não tinha motivo para preocupação, uma vez que a tecnologia estava aí para facilitar nossas tarefas, e houve também quem apreciasse e criticasse, ao mesmo tempo, a nova função do whatsApp.
Especialistas estão dizendo que, para muitos, essas novas tecnologias são viciantes e que isso é reflexo do desejo de que a vida sempre acompanhe o ritmo dos aplicativos, dispositivos e redes disponíveis. Eles alertam para a necessidade de que as pessoas têm de submeter-se a esses tipos de arranjo, como forma de evitar o fracasso social, o medo de ficar para trás e ser considerado antiquado.
É fato que, neste mundo acelerado, existe uma demanda muito grande de nossa atenção, sendo preciso estar sempre alerta e correndo para dar conta de tudo. Nada pode ser perdido. Só que, com tanta atenção dispensada para tudo, a gente acaba se esquecendo de coisas básicas, que, geralmente, são as mais essenciais para o nosso bem-estar. Nesse sentido, talvez minha mãe esteja certa em ficar alheia para certas modernidades.