Nuances olímpicas
Beatriz Ferreira torna-se um ótimo exemplo em como uma Olimpíada pode dar luz à vida de um atleta. Digamos que atrair os holofotes seja a recompensa por tantos e tantos dias de trabalho no anonimato
Se nenhuma condição adversa acontecer no Japão, no momento da leitura desta coluna, certamente já teremos o resultado de Beatriz Ferreira nos ringues de Tóquio: se ela avançou à decisão de domingo (8), na luta pelo ouro, ou se ostentará o bronze no peito durante a cerimônia de pódio da categoria peso-leve – independentemente da cor da medalha, ela será inédita e histórica para o pugilismo feminino brasileiro.
Beatriz, filha de Raimundo, ou Sergipe para os mais próximos, será Bia para boa parte do país. Dos veículos e profissionais de imprensa, passando por celebridades, influenciadores digitais e chegando até mesmo em políticos – que poucas políticas fizeram por ela, verdade seja dita -, a menina receberá muitas homenagens. Se um dia foi desconhecida aqui em JF, onde mora há bons anos, o estrelato virá. Ainda mais se o espaço mais alto do pódio for conquistado. Sobre a trajetória da atleta, Bruno Kaehler detalhou com maestria em sua Prancheta desta quarta-feira.
Mas, por ter esse vínculo com a cidade, Bia torna-se um ótimo exemplo em como uma Olimpíada pode dar luz à vida de um atleta. São apenas 15 dias de Jogos, com uma extensa possibilidade de histórias para serem contadas. Digamos que atrair os holofotes seja a recompensa por tantos e tantos dias de trabalho no anonimato.
Poucos, talvez duas dezenas de integrantes da delegação brasileira, voltarão para casa com medalha e com uma imagem mais popularizada. Outros, como no caso dos atletas do vôlei de praia, retornam sob duras críticas, mesmo sendo da categoria que foi pódio sem seis das sete participações em sua recente história olímpica. Críticas que, neste caso, não levam em consideração de que Letônia, Suíça, Polônia e tantos outros países deram passos largos na profissionalização de seus atletas. E que praia e calor pouco importam no processo de avanço da modalidade.
Chega até a um aperto no peito saber que uma Olimpíada pode ser tão gloriosa para uns e tão cruel para outros. Ainda bem, no entanto, que ela é de ciclos. Rafaela Silva, a macaca em Londres 2012, foi a menina de ouro em 2016. As meninas de Zé Roberto Guimarães, do vôlei campeão em Pequim e Londres, mas eliminado sem medalha no Rio, viveram ontem novamente essa chama linda de página virada, derrotando a Rússia e avançando à semi.
Por tantas nuances, que vão além das disputas em si, Olimpíada é algo assim tão raro e apaixonante. Que os deuses reservem boas histórias até domingo, inclusive para Bia.