Amor de pai e filho

Por Marcos Araújo

Quando entrei de férias, nos primeiros dias de julho, inocentemente pensei que, quando retornasse ao trabalho, algumas coisas estariam diferentes no Brasil. Sei que é impossível mudar o rumo do país em apenas 30 dias, mas os bons ventos que as férias me traziam, naquele momento, refrescavam o meu coração de esperança. Mas volto nesta semana e me deparo com a situação na qual um adolescente de 15 anos precisou dizer a um homem, de 66, que ele nunca entenderá o que é o amor. Ou seja, nada mudou!

Tomás Covas precisou dizer ao governante do Executivo do Brasil que sua ida ao Maracanã com o pai Bruno Covas, que morreu em maio deste ano vítima de câncer, era uma demonstração de amor, uma oportunidade de pai e filho curtirem seus últimos momentos juntos em razão da gravidade da doença de seu pai.

O que esse episódio envolvendo o jovem Tomás traz à tona é só mais uma demonstração de que estamos diante de um governo cuja política tem pouco zelo pelos brasileiros vivos e pela memória dos brasileiros mortos. A sensação que fica é a de que fomos abandonados pelo líder, mas ressalto que não acredito na figura de uma única liderança que seja capaz de minimizar nossas mazelas, mas sim em um conjunto de instituições capazes de gerenciar políticas públicas focadas na melhoria da nossa sociedade como um todo.

Esse sentimento de abandono foi confirmado pela pesquisa de opinião Broken-System Sentiment in 2021, realizada pela empresa Ipsos e divulgada pela BBC Brasil no último dia 28. Segundo tal estudo, os brasileiros lideram o ranking mundial de sensação de viver em um “país em declínio”. A pesquisa mostra que nosso país está em primeiro lugar entre 25 nações no que diz respeito ao sentimento de desamparo em relação aos governantes.

Como aponta a BBC, de modo geral, a pesquisa traz um panorama de desconexão e decepção das pessoas com suas instituições: na média, 71% dos entrevistados globais concordam com a frase de que “a economia está manipulada para favorecer os ricos e poderosos”. E 68% concordam com a ideia de que partidos e políticos tradicionais não se preocupam com as “pessoas como eu”.

Diante de tal constatação, decepção e medo são os sentimentos que nos restam. Então concordamos com Tomás, pois temos alguém que se diz governante, mas que não entende o que seja amor. O adolescente não nos ensina nenhuma novidade, só confirma, por meio de seu olhar juvenil, algo que milhares de pessoas maduras fingem não ver, porque há tempos já está claro que, para esse governo, os indígenas são quase tão “humanos como nós”, os negros “nem para procriadores servem mais”, as mulheres são fruto de uma “fraquejada”, e é preferível “um filho morto em um acidente de trânsito a um filho gay”.

O amor passa longe dessas que, até então, seriam as políticas que nosso Estado vem nos apresentando. Dessa forma, é difícil não sentir abandono e insegurança. Juro que, quando me coloquei para começar este texto, gostaria de tocar em assunto mais ameno, mais conveniente com meu regresso das férias. Todavia, os fatos não têm nos permitido amenidades. Aproveito a demonstração de amor de Tomás a seu pai para homenagear meu pai e todos os pais, antecipando as comemorações do próximo domingo.

Marcos Araújo

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