Superávit de otimismo

Por João Víctor Lavorato e Bruno Gomes.

Após um ano extremamente adverso e repleto de dificuldades econômicas para o Brasil e o mundo, o fluxo comercial global parece se recuperar e retomar níveis elevados. Os países desenvolvidos largaram na frente com guinadas na flexibilização das atividades e o avanço da vacinação, acompanhados das principais economias emergentes. Diante desse contexto e com olhar otimista para os próximos meses, a balança comercial brasileira que, mesmo com desafios, conseguiu alcançar resultados positivos em 2020, vislumbra repetir bons números.

Segundo dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior, o Brasil registrou balança comercial superavitária em US$ 10,349 bilhões no mês de abril, resultado superior ao atestado no mesmo mês do ano anterior, que havia sido de US$ 6,163 bilhões. Apesar dos números, cabe destacar que um dos fatores responsáveis por eles é a alta do dólar ante o real, o que torna as exportações brasileiras mais rentáveis. Além disso, também está relacionado o forte aumento da demanda mundial por produtos básicos, como alimentos e minério de ferro, que por sua vez desencadeou o volume recorde de soja exportado para o restante do mundo. Assim, no acumulado dos últimos quatro meses a balança teve saldo positivo de US$ 18,257 bilhões, valor 103,9% maior do que o registrado no mesmo período do ano anterior.

Ao detalhar as contas comerciais por atividade econômica é possível observar que mesmo com a recuperação dos setores mais afetados pelo choque da pandemia e que inclusive tiveram retração em 2020, como o extrativista e de indústria de transformação, a agropecuária mantém protagonismo ao ser responsável por 22% do volume das exportações já em 2021, montante total estimado em US$ 82,116 bilhões. Por esse motivo, a continuidade da magnitude do agronegócio se alia à retomada dos demais setores da economia, para que o ano seja de ainda maior superação em relação ao passado.

Pelas estimativas do Banco Central, a balança brasileira poderá atingir em dezembro superávit histórico de US$ 70 bilhões, ultrapassando o maior valor da série registrado em 2017. Tal projeção deve-se à expectativa de nova safra recorde de grãos – de acordo com o IBGE será 4,1% maior que a última, e ao patamar elevado para preços das commodities, além dos outros motivos da demanda supracitados. O BC prevê ainda que as contas externas cujo balanço engloba o saldo comercial de mercadorias e serviços, as remessas de lucros e dividendos e os juros pagos pelas empresas, além das transferências pessoais terão um superávit de US$ 2 bilhões, e caso seja confirmada será o primeiro saldo positivo desde 2007 (+US$ 408 milhões).

Dessa forma, observando o amplo andamento da vacinação nos principais parceiros brasileiros como China e Estados Unidos além, claro, da imunização nacional, cria-se o panorama otimista traçado para o retorno do crescimento do comércio global e não mais apenas a recuperação dos níveis pré-crise. O papel fundamental dos produtos agropecuários ainda se fará presente no cenário das exportações, entretanto terá maior “competitividade” dos demais setores que agora buscam suprir uma demanda mundial aquecida, reservando assim prósperos resultados para o Brasil.

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