Há dois tipos de breguice no Brasil. Uma é aquela breguice estampada no impecável visual de Agostinho Carrara, personagem de Pedro Cardoso em “A grande família”. Aquele brega legítimo e que pouco se dá conta de sê-lo, uma instituição nacional. É o brega de Reginaldo Rossi. De Joelma. Da novela de televisão. Da capa de selim com escudo do Flamengo e franjinhas vermelhas. Cortina de contas. Do roqueiro doido que se entrega quando os alto-falantes tocam “Evidências”.
É a breguice que faz parte da identidade brasileira, de nosso DNA mestiço, de nosso sangue latino. Por que outro motivo as breguíssimas novelas mexicanas e o imortal seriado Chaves tão bem se aclimataram por aqui, senão pelo fato de terem encontrado corações ávidos por um melodrama? A gente acha ruim, mas assiste tudo. Credo que delícia. O brega é massa.
Mas o Brasil tem outro brega, que é aquele que se envergonha exatamente de todo o supracitado. O que gosta de chamar “serviço” de “job”. Porque serviço é coisa de faxineira, de pedreiro, então você não pode pedir pra te arrumarem um serviço, um trampo, e grita: “manda jobs!”. Esse cafona não consegue começar um serviço, ele tem que “startar um job”. Nem tampouco conhece “prazo final”, só “dead line”.
O jeca bilíngue não pergunta se pode embrulhar pra viagem, questiona se tem “take away”. Ou “grab and go”. O jeca bilíngue é uma marmota, mas, coitado, também não se dá conta disso. É cafona, é brega, mas falta-lhe a espontaneidade do bom brega, aquele que se orgulha do que sente, de onde veio e de como fala.
Nada contra estrangeirismos, que se registre: sei que a língua é viva e que o trânsito de vocábulos é imemorial. O que me causa cócegas é a patética tentativa de envernizar com o inglês aquilo que já está posto e consagrado no populacho: assim “desconto” vira “off”, “promoção” vira “sale”, “ponta de estoque” vira “outlet”. Mas quem sou eu pra mudar a mentalidade dos outros. Ou o “mindset”.
O jeca bilíngue