Estádio Salles Oliveira completa 80 anos de história

Placa da inauguração do estádio
A casa mais tradicional do Tupi comemora aniversário hoje. O Estádio Salles Oliveira completa 80 anos de inauguração e, apesar de não receber mais jogos oficiais do time profissional do Carijó desde o final do século passado, continua sendo a referência do Alvinegro de Santa Terezinha como principal local de treinos e base de apresentação do elenco para todos os trabalhos diários.
Antes mandando seus jogos em duas praças de esporte tradicionais de Juiz de Fora, os campos da Alfândega, na Avenida 7 de Setembro (no Bairro Costa Carvalho), e do Mané dos Ferros, às margens da Avenida Francisco Bernardino, no Centro, o Tupi inaugurou sua casa própria no dia 19 de junho de 1932. "O terreno no qual foi construído o Salles Oliveira foi aterrado à base de carroças de burro. Me lembro de ter ido à inauguração, era muito pequeno, tinha apenas 5 anos. Minha principal memória de infância com o Tupi no estádio era que, nós, crianças, aguardávamos o início dos jogos junto ao portão, ainda na Rua Santa Terezinha, pois a diretoria liberava a entrada dos menores", conta o hoje presidente do Conselho Deliberativo do Tupi, Geraldo Magela Tavares.
Herdando seu nome do principal responsável pela construção de sua praça de esportes, o presidente do clube Francisco de Salles Oliveira, o estádio teve, no confronto inaugural, o duelo entre Tupi e Vasco da Gama, então campeão do Torneio Início do Campeonato Carioca. Os locais entraram em campo com Pachoal (Armando), Nariz e Belozzi; Caiana, Lima, e Magalhães; Vavá, Miro, Lage, Bianco e Nery. Já os vascaínos eram Marques, Domingos e Itália; Tinoco, Mamão e Lino; Baiano, Paschoal, Russinho, Mário Matos e Santana. Jogando em seu terreiro, o Carijó abriu o placar com Bianco, e o empate de 1 a 1 veio com gol de Russinho.
Trocas
Os anos se seguiram, e o clube, precisando de um local para atender a seus sócios, chegou até a deixar de ser dono do Salles Oliveira em 1950. Cedeu o estádio e mais 600 mil cruzeiros à Prefeitura em troca do local onde hoje se localiza a sede social, na Rua Calil Ahouagi. O time continuaria mandando seus jogos na arena até que o município requisitasse sua posse definitiva.
Porém, alguns meses depois, o poder público municipal devolveu o Salles Oliveira ao Carijó, em uma troca pelo terreno onde foi construído o Pronto Socorro Municipal, na Avenida dos Andradas. Quanto à dívida com o município, o prefeito Olavo Costa, sob influência do notório carijó Gabriel Gonçalves da Silva, o Bié, perdoou o clube.
Na maior reforma de sua história até hoje, o Salles Oliveira contou com investimentos do Ministério da Educação e foi remodelado na gestão de Maurício Batista de Oliveira. O obra, entre julho de 1988 e maio de 1989, remodelou o local para um aspecto bem próximo do que é encontrado hoje em santa Terezinha, exceto pelas arquibancadas, que não existem mais. No fim dos anos 1980, o estádio poderia abrigar até 25 mil espectadores.
Porém, com a construção do Estádio Municipal em 1988 e a proibição do uso das arquibancadas tubulares em competições oficiais , o Tupi se viu obrigado a mudar o local de mando de campo do Salles Oliveira definitivamente para o Mário Helênio, depois de uma década revezando entre uma e outra arena. O estádio de Santa Terezinha recebeu seu último jogo oficial de profissionais do Carijó no dia 4 de julho de 1999, no empate de 1 a 1 com o Uberlândia, pelo Módulo II do Campeonato Mineiro. Mais tarde, as arquibancadas seriam desmontadas, deixando o local com o aspecto que conserva até os dias de hoje.
Alçapão
Quem enfrentou o Tupi como jogador e teve o Salles Oliveira a favor tanto como atleta quanto como treinador destaca a principal característica da casa: a pressão sobre o adversário. "Joguei aqui pelo Sport e vesti a camisa do Tupi, além de ter sido técnico também. Posso dizer com toda certeza: isso aqui era um alçapão", conta o ex-lateral-direito Augusto Clemente. "Desde a entrada em campo até o último minuto os oponentes eram pressionados. A favor era uma delícia; contra, muito ruim." Clemente jogou pelo Carijó em 1971, foi treinador da equipe nas décadas de 1980 e 1990, e hoje é responsável pela administração do estádio.
Comandante do Tupi no último jogo de profissionais do clube no Salles Oliveira e também ex-lateral-direito do clube, Evaldo Carolino faz coro com Clemente. "Fui muito feliz aqui em Santa Terezinha, tanto como jogador quanto como treinador. A torcida quase dentro do campo, empurrando, pressionava os adversários. Dessa maneira, em casa, fizemos frente a grande times do Atlético-MG e do Cruzeiro, por exemplo", lembra o carijó, que atuou nas décadas de 1980 e 1990 e hoje administra o bar da arena de Santa Terezinha.
O futuro
Depois de se tornar apenas base de treinos do Tupi, o Salles Oliveira já correu risco de ser comprado por terceiros. Afundado em dívidas com o INSS, o clube teve o local penhorado pela Justiça federal, que chegou a leiloar a praça esportiva no dia 26 de abril de 2007. Nenhum comprador apareceu, e uma nova data seria marcada.
Foi então que surgiu uma hipótese salvadora: tombar a arena, beneficiando também outras praças de esporte locais, como o José Paiz Soares, do Tupynambás, e o José Procópio Teixeira, do Sport. O processo de tombamento chegou ser iniciado, mas não foi a diante. Em 2009, a dívida federal do Tupi foi paga com dinheiro apurado da venda de parte do terreno da sede social, e o Salles Oliveira deixou de correr risco.
Pelo menos para os próximos anos, não está nos planos da diretoria do Tupi se desfazer do Salles Oliveira. "Temos que cuidar bem daquele patrimônio. Hoje, não está em condições ideais. Precisa de um vestiário maior e mais moderno para atender aos atletas, e o campo também precisa de nova grama. Essas vão ser as principais buscas em um futuro próximo para nosso eterno estádio", projeta o presidente Áureo Fortuna.