Um guarani infalível
Não há zagueiro mais zagueiro do que Gustavo Gómez no Hemisfério Sul. Gómez desceu no Palestra Itália de uma estrela colorida, brilhante, de uma estrela que veio em uma velocidade estonteante. Qualquer palmeirense sabe dizer de modo explícito as coisas que Gómez disse, fez. Danilo, Gabriel Menino, Patrick de Paula saltam os olhos, claro, mas o Palmeiras de Abel Ferreira é o Palmeiras de Gustavo Gómez. Porque o guarani de San Juan Bautista é infalível, certo. Nenhum movimento de Gómez denuncia hesitação. Se porventura Filipe VI tentasse tomar os rincões do Paraguai, não há dúvidas de que o zagueiro enfrentaria a infantaria espanhola de peito aberto.
O Palmeiras desfaleceu quando Gómez, lesionado, deixou o gramado do Allianz Park na semifinal da Libertadores contra o River Plate. Àquela altura, o compatriota Robert Rojas, que nem de longe tem a cátedra de Gómez, já havia aberto o placar. Qualquer palmeirense pessimista, ali, daria a ida à final como favas contadas. Embora o River já empurrasse o Palmeiras para a trincheira, não há quem me tire da cabeça que, com Gustavo Gómez em campo, aquele palestrino de Santa Bárbara d’Oeste pouparia ao menos outros cinco de anos de vida. É que ainda havia Weverton, somente Weverton, tão intransponível quanto a barragem de Itaipu.
Se o palmeirense às vezes tem o coração na mão, o paraguaio se oferece para segurá-lo. Como se as rebatidas fossem pouco ou quase nada, Gómez ainda cumpre o ofício de centroavante como se fosse Óscar Cardozo. A memória nos é infiel como um amor adolescente, então, fresca, nos lembra de antemão do tento em Porto Alegre que deu ao Palmeiras a dianteira pela Copa do Brasil contra o Grêmio. Mas, na semifinal, o zagueiro ainda evitou que o Palestra fosse até Belo Horizonte com um gol de desvantagem. Já nos descontos do primeiro tempo, contra o América, Gómez lançou-se ao ataque para um estadia só, mas esticou as pernas. Entre dois adversários, testou, de costas, para igualar o marcador.
Não há zagueiro que se imponha com tamanha hierarquia por essas bandas de cá quanto Gustavo Gómez. Embora não seja o último dos moicanos, Gómez já tomou para si o legado de Carlos Gamarra dentre a nova geração de beques paraguaios, e, impávido como Muhammad Ali, está armado em busca de assumir um posto na linhagem de Luís Pereira. Enquanto permanecer no Palestra, a sentença sumária é de que não haverá um palmo de terra fiada ao adversário sem ao menos uma gota de sangue.