Geralmente, no nosso dia-a-dia, quem nos fala que estamos ficando velho, é uma outra pessoa. Um amigo. Uma colega. A consciência pessoal dessa realidade é muito rara de acontecer. O envelhecimento em nós é prorrogado o quanto possível para mais tarde. Não faz parte comumente da nossa educação para a vida. O quanto que a nossa cultura, a nossa sociabilidade precisa ser transformada. Por força mesmo das grandes mudanças societárias que o mundo está passando. Entre tantas situações preocupantes da contemporaneidade, como mudanças climáticas, degradação ambiental, guerras étnicas; o envelhecimento também se faz presente. O mundo está envelhecido. Nosso país e nossa cidade também.
A literatura gerontológica nos informa que do ponto de vista social, o envelhecimento sempre foi e continua sendo um tema controverso, de difícil aceitação cultural. Envelhecer nunca foi uma realidade de fácil assimilação social. Na esfera pessoal, subjetiva, a situação é ainda mais complexa. Para não dizer complicada. Porque não temos uma educação instituída no nosso meio para a educação dessa grande novidade do século XXI: o envelhecimento populacional!
Ao invés de crescer, envelhecemos. E agora? Se por um lado é louvável e até mesmo desejável, viver mais, conquistar a longevidade; esse desejo por si só, desacompanhado de medidas e políticas públicas que contribuam para as melhorias das condições de vida das pessoas idosas, de nada valerá. Teremos mais idosos. E seremos idosos cada vez mais pobres. É o que está acontecendo. Com essa nova ordem mundial. Da supremacia do interesse econômico sobre o aspecto social e humano. Se não fosse assim, não teríamos militância digital dando conta de que vidas humanas importam (de pessoas idosas e negras, por exemplo). É preciso que essa longevidade seja instrumentalizada politicamente para fazer com que a Gestão Pública movimente-se na direção de, ao se sensibilizar, invista em ações públicas e programas sociais para a população idosa.
Uma cidade, como a nossa, que conta com mais de 100 mil pessoas com a idade igual ou superior de 60 anos, não pode ficar parada no tempo. Sem ter avanços e progressos no trabalho social e de saúde com o seu cidadão idoso e cidadã idosa que merecem mais atenção e dignidade pública. Nossos idosos tem futuro! Nós seremos idosos, amanhã. Uma nova mentalidade de direcionamento público e político tem que existir na cidade. Precisamos de uma narrativa política eficaz. Comprometida. Envolvida com o desenvolvimento humano de sua gente. O melhor de qualquer cidade tem que ser as pessoas que vivem nela: que amam onde moram. A cidade tem que ser o nosso melhor lugar no mundo. E que seja, uma cidade para todas as idades!
Ontem, dia 1º de outubro foi comemorado, ou consta no calendário de eventos, como sendo o Dia Internacional da Pessoa Idosa. Em todo o mundo. Como estamos em Juiz de Fora?
Se as pessoas idosas não se envolverem pra valer com as suas demandas e com as questões da cidade que as atingem, pouco ou quase nada sairá desse lugar de indiferença e de desprezo público em que elas foram colocadas. Nesse momento atual da sociedade brasileira, em que o nosso futuro é incerto, diante de um novo normal, a participação de todas as pessoas é muito importante e necessária. E as pessoas idosas não podem dizer não a esse trabalho de reconstrução do país e de nossas cidades.
Um novo e tão esperado ator social se faz urgente com sua presença pública e social na cena urbana de nossa cidade: as senhoras e senhores da Terceira Idade. O futuro de todos nós! Envelhecer com mel ou com fel? Nos indaga o poeta e escritor mineiro Affonso Romano de Sant’Anna em uma de suas belas crônicas. Como envelhecer é uma experiência de vida muito pessoal e construída ao longo de nossos dias, a colheita vai depender muito do que espalhamos pelo caminho. Ninguém colhe espinhos se tiver dado rosas. É lei da natureza. Precisamos ficar atentos para perceber que tipo de casa estamos construindo. Porque, se tudo correr bem, um dia, você será uma pessoa idosa. E eu, como vocês, caros leitores, leitoras, que ainda não somos pessoas idosas, como desejamos chegar mais à frente na idade: com mel ou com fel?
Finalizando. Tem uma reflexão de uma estudiosa da matéria que diz o seguinte e é verdade: tão como a gente vive, assim a gente envelhece.