Cineasta mineira Elza Cataldo é homenageada em mostra no Polo Audiovisual TV
Seleção de cinco obras ressalta a história das mulheres, uma marca de sua filmografia
Cineasta e pesquisadora, Elza Cataldo dedica sua filmografia à história das mulheres. Homenageada pelo Polo Audiovisual TV (poloaudiovisual.tv), cinco de seus filmes estão em exibição na plataforma de streaming até 31 de julho. Dentre os títulos está o longa “Vinho de rosas”, que retrata a história de Joaquina, filha de Tiradentes. Essa é uma entre tantas mulheres a quem Elza busca dar voz, recuperando registros ao longo dos anos, mergulhando em seus universos, séculos atrás.
“Acho que conhecemos muito pouco da nossa história, e o cinema é um instrumento de entretenimento e emoção muito poderoso. Se associado à história do Brasil, aporta conhecimentos sobre personagens e tramas muito ricas e fascinantes. Sempre tive esse interesse em tentar tirar essas mulheres do silêncio que a história nos impõe. A minha abordagem pretende enfatizar, pesquisar, construir e registrar a existência dessas personagens”, destaca a diretora, roteirista e produtora natural de Tocantins (MG).

Para ser fiel à história de suas personagens, Elza encara anos de pesquisa, um reflexo de sua dedicação à vida acadêmica. Formada em cinematografia pela Universidade de Nanterre e doutora pela Sorbonne – ambas na França -, atuou ainda como professora na Universidade Federal de Minas Gerais. A escolha por retratar a história de Joaquina do Espírito Santo Xavier em “Vinho de rosas” partiu de uma curiosidade: quase ninguém conhecia a história da filha de Tiradentes. “Achei um tema instigante e, quando comecei a pesquisar, vi que estava ligado a outras mulheres da época, como Marília de Dirceu, Bárbara Heliodora e Quitéria Rita, filha da Chica da Silva. Fui buscando essas mulheres e unindo-as de uma forma ficcional. É uma ficção que poderia ter acontecido”, conta a cineasta.
Em meio às descobertas, Elza encontrou um convento feminino, no município Santa Luzia, onde se produz até hoje o chamado “vinho de rosas”. A cineasta chegou a frequentar o Convento de Macaúbas por cerca de quatro anos, e até se hospedou por um tempo para observar a rotina e os detalhes do ambiente. “Não filmei lá, por ser ainda um convento de contemplação e clausura, mas me inspirou. Então coloquei a Joaquina sendo criada em um convento, aprendendo a fazer o vinho de rosas”, explica.

Outros títulos disponíveis
Um passeio ao Museu Mineiro, em Belo Horizonte, rendeu a Elza uma nova inspiração. Em uma parede branca, um óleo sobre tela de Belmiro de Almeida retratava uma mulher debruçada sobre o apoio de braço de uma poltrona, sofrendo o conteúdo de uma carta. O título “A má notícia”, pensou Elza, dava um bom filme, que acabou sendo lançado em 2013. “Então convidei pessoas para escrever algumas cartas, cada uma com uma má notícia diferente. O processo criativo era desafiador, pois eu queria reproduzir o quadro nas imagens, e cada carta voltava-se para aquela tela. O desafio foi criar aquele contexto, a direção de arte, o figurino, a escolha da atriz, é quase uma metalinguagem, que é sempre uma coisa perigosa.”
Muitas das histórias surgem de forma casual, revela Elza. “O crime da atriz” (2007), por exemplo, partiu de um antigo livro de contos russo, apresentado por uma amiga. A trama rendeu uma comédia, encenada por atores do Grupo Galpão como uma homenagem à trupe. “É a história de uma pessoa muito ligada ao teatro e que tem paixão por se tornar atriz. O filme aborda a condição da mulher artista, atriz, e sua relação com o teatro”, destaca a cineasta.

A mostra se encerra com dois documentários com traços de ficção. “Lunarium: sonhos e utopias” (2011) conta a trajetória da militante Sissi no contexto de 1968, durante a ditadura militar brasileira. Já “Lunarium: retratos em azul” (2011) resgata a memória da poetisa Henriqueta Lisboa e da escultora Jeanne Milde, que tiveram importância na história de Belo Horizonte. “Fico muito feliz quando meus filmes ajudam as pessoas a conhecer mais a história do Brasil e das mulheres. Acho que essa mostra é muito boa por poder disponibilizar esses filmes (ao acesso público)”, ressalta Elza.
Filmes futuros
O próximo filme de Elza Cataldo está em processo de finalização. “Órfãs da rainha” conta a história de três irmãs que chegaram ao Brasil sob proteção da rainha de Portugal, após os pais serem mortos durante a Inquisição, no final do século XVI. Outro projeto é “O silêncio de Eva”, que teve a produção paralisada pela pandemia. O longa retrata a história da atriz Eva Nill, conhecida por atuar em cinema mudo, com destaque para os filmes de Humberto Mauro. “Ela tem uma história peculiar por ter largado o cinema, era uma mulher cheia de personalidade. Estamos recuperando seu olhar através da atriz Inês Peixoto. A proposta é reconstituir alguns frames dos filmes da Eva, pois ficou pouca coisa sobre ela.”