Covid-19 e seu impacto na saúde mental
Com o propósito de explorar os impactos da Covid-19 sobre a saúde mental das pessoas, Li e equipe analisaram na Int. J. Environ. Res. Public Health em 2020 as postagens de Weibos (palavra chinesa para microblogs) de 17.865 usuários, dando especial atenção à frequência das palavras, bem como a escores de indicadores emocionais (ansiedade, depressão, indignação e felicidade) e escores de indicadores cognitivos (julgamento de risco social e satisfação com a vida) dos dados coletados. As análises visaram a verificar as diferenças no mesmo grupo de postantes antes e após a declaração de pandemia efetuada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os resultados mostraram que as emoções negativas e a sensibilidade aos riscos sociais aumentaram, enquanto as emoções positivas e satisfação com a vida diminuíram. Ademais, as pessoas estiveram mais preocupadas com sua família e sua saúde do que com lazer e amigos.
Por sua vez, Lai e colaboradores, na Jama Network Open 2020, mensuraram o grau de sintomas de depressão, ansiedade, insônia e estresse em 1.257 profissionais de saúde, de 34 hospitais chineses, entre 29 de janeiro e 3 de fevereiro de 2020. Para isso, foram aplicadas versões chinesas do Questionário de Saúde do Paciente, uma Escala de Desordem de Ansiedade Generalizada, um Índice de Severidade da Insônia e uma Escala de Impacto de Eventos. Do total de participantes, 764 foram enfermeiras e 493 foram médicos, dentre os quais 760 trabalhavam nos hospitais de Wuhan, e 522 foram profissionais de saúde na linha de frente. Os dados mostraram que uma grande proporção de participantes registrou sintomas de depressão (50,4%), ansiedade (44,6%), insônia (34%) e estresse (71,5%). Merece destaque que enfermeiras, mulheres, trabalhadores da linha de frente e aqueles trabalhando em Wuhan registraram graus mais severos de todas as mensurações de sintomas associados à saúde mental do que quaisquer outros trabalhadores em geral.
Wang e colaboradores relatam na Psychology, Health & Medicine a aplicação de uma Escala de Autoavaliação de Ansiedade e uma Escala de Autoavaliação da Depressão em 605 participantes. Os dados mostraram que o risco de ansiedade para as mulheres foi de 3,01 vezes comparado àquele para homens. Comparado com as pessoas abaixo de 40 anos, o risco de ansiedade para as mais velhas foi 0,40 vezes mais elevado. Comparado a pessoas com mestrado e com níveis superiores mais alto, aqueles com grau de bacharelado tiveram risco de depressão 0,39 vezes mais elevado. Comparado com profissionais, trabalhadores industriais e outros funcionários tiveram risco de depressão 0,31 vezes e 0,38 vezes mais elevados que a população em geral.
Finalmente, na revista General Psychiatry 2020, Qiu e colaboradores aplicaram um questionário on-line, denominado Índice do Estresse Peritraumático da Covid-19, capturando a frequência de ansiedade, depressão, fobias específicas, mudança cognitiva, comportamento compulsivo e de fuga, sintomas físicos e perda do funcionamento social na última semana, numa escala variando de 0 a 100. Um total de 53.730 questionários válidos foi obtido de 36 províncias chinesas. Destes, quase 35% experenciaram estresse psicológico, e as mulheres mostraram escores mais elevados que suas contrapartes masculinas. Também, pessoas entre 18 e 30 anos, e com mais de 60 anos, apresentaram escores mais elevados no questionário.
Em conjunto, esses estudos demonstram que intervenções preventivas devem ser dadas a grupos mais vulneráveis, como jovens e idosos, e uma atenção especial também dever ser dada aos profissionais de saúde diretamente engajados no diagnóstico, tratamento e cuidados de pacientes com Covid-19.
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