O mosquito e a limpeza urbana


Por Vanderlei Tomaz, Colaborador

30/01/2020 às 06h01

Há alguns anos, a Prefeitura de Juiz de Fora realizou uma importante campanha contra os possíveis criadouros do mosquito Aedes, responsável por três doenças que alarmam o país inteiro. Estávamos no terceiro ano de governo.
Foram milhares de toneladas de lixo recolhidas em um fim de semana apenas numa região da cidade. Recolhimento parecido aconteceu em outros fins de semana em todas as outras regiões.

Recordo de um secretário municipal dando-me a notícia e comemorando o resultado. Eu disse a ele: “Isso não é para comemorar. Estamos quase chegando ao fim do governo e em pleno verão é feita uma campanha dessa?! Deveríamos comemorar quando não se recolhe nada. Sinal de que não existe lixo acumulado no quintal de ninguém. Milhares de toneladas de lixo recolhidas em um fim de semana é prova de que este lixo deixou de ser recolhido ao longo do ano ou dos últimos anos”.

Vejo uma grande apreensão, agora, diante da divulgação do novo índice de focos positivos do mosquito, levantado em toda a cidade.

É preciso preparar Juiz de Fora para o evento com muita antecedência. Penso que o período de julho a novembro deveria ser de intensa campanha de varrição, capina, recolhimento de entulhos de obras, vistorias de calhas e coberturas, limpeza de lotes vagos e de imóveis abandonados, incentivo aos agentes de saúde e fiscais de postura para intensificarem as ações que lhes dizem respeito, fortalecimento da vigilância epidemiológica e dos serviços de limpeza urbana… E, ainda, desenvolver ao longo de todo ano um amplo projeto de recolhimento do lixo que pode ser reciclado, estimulando que não haja sua mistura ao lixo doméstico e que aumente a renda de quem recolhe e comercializa.

É urgente que a população assuma sua grande parcela de culpa pelo descarte errado dado ao lixo que produz. Mais de 90% dos focos identificados do mosquito estão em imóveis particulares. A simples observância de quintais, varandas e telhados já permite a localização e o extermínio dos criadouros. Também é preciso pensar em um projeto permanente que envolva Demlurb, Defesa Civil, escolas, clubes, igrejas, associações de moradores, secretarias de Educação, Saúde e de Atividades Urbanas e Meio Ambiente, na formação de crianças e jovens agentes fiscais da comunidade.

Será que falei de algo impossível de ser feito? Será que falei de algo caro demais para realizar? Ou são menos dolorosas e mais econômicas as despesas imprevisíveis que teremos com o tratamento dos doentes? Ou fica mais fácil organizar campanhas apressadas, imprimir e espalhar cartazes e panfletos, mobilizar em poucos dias exército, secretarias, igrejas, escolas, servidores municipais, cansados pelo volume de serviço e pressões internas, e lideranças comunitárias para, em poucas semanas, darem um fim no mosquito?

O mosquito do verão presente se reproduziu com a liberdade que teve ao longo das estações anteriores. Desejamos que ele não apareça no próximo. Teremos três estações antes dele para consumi-lo.

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