Desestatizações desastrosas
Vender empresas que criam importantes infraestruturas é uma temeridade. Pode resolver uma situação de curto prazo, mas e o futuro, como será? É uma pergunta cuja resposta não convence a todos. Vender a Cemig, a Copasa e a Codemig pode dar uma folga financeira no presente, mas o Governo, que, na atualidade, nada investe em novas infraestruturas como fez Juscelino Kubitschek, quando governador de Minas, pode resolver só um problema de curto prazo. JK criou a Cemig para resolver um problema de infraestrutura em termos de energia elétrica. Foi uma acertada aposta no desenvolvimento mineiro.
Antes que essas vendas possam ser feitas, o Governo Zema pede à Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais autorização para receber por antecipação os possíveis recursos futuros das vendas e das explorações do nióbio de Araxá, calculada por alguns técnicos em R$ 5 bilhões. Essa proposta do novo governo mineiro já está sendo contestada pelas procuradoras mineiras Sara Meinberg e Maria Célia Borges, que disseram dias atrás: “Podemos até receber dinheiro agora, mas e no ano que vem?”.
Vendas de empresas que representam enorme importância no desenvolvimento mineiro não deixam de ser uma operação de risco. A Cemig foi criada pela visão desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek quando governou Minas nos anos 1950. Ele estava em permanente aborrecimento quando via a antiga Cia. Força e Luz de Minas Gerais não ter energia elétrica suficiente nem para abastecer a capital mineira. Fornecer a energia que a cidade industrial de Contagem estava precisando, nem pensar. Só para demonstrar essa situação, vou citar um exemplo desse apagão mineiro: para dar conta de suas obrigações, a Cia. Força e Luz desligava uma parte da cidade para que, com os apagões de algumas regiões, conseguisse abastecer outras. Lembro que trabalhava no 18º andar do Edifício Acaiaca e tinha que subir e descer todos esses andares. Não havia energia, e os elevadores estavam parados.
A Codemig, por sua vez, é a Cia. de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais. Privatizá-la significa abrir mão de uma obrigação para passar esse trabalho para uma empresa privada que só visa obter lucros. Sem infraestruturas amplas e confiáveis, o Governo renuncia indiretamente sua obrigação de criar uma boa parte de desenvolvimento econômico e social em termos de impostos, rendas e empregos. Tudo isso para a iniciativa privada é, na minha opinião, uma equivocada aposta no futuro mineiro. A Codemig não cumpriu no governo anterior sua obrigação de promover o crescimento e o desenvolvimento, mas renunciar a essas obrigações é uma temeridade. Quem viver verá.
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