Extinção de municípios na Zona da Mata
Todo mundo sabe, mas finge que não sabe, que a criação de municípios independentes é, na maioria dos casos, obra de lideranças políticas locais por interesse pessoal. É uma ideia sedutora ao cidadão comum, simples e pouco informado, lutar pela “independência” e pelo progresso de seu pequeno distrito.
As pessoas tendem a acreditar que o local onde vivem está sendo explorado por uma comunidade mais poderosa, que fica com todo o dinheiro arrecadado no distrito. Não fazem ideia de que o distrito não possui dinâmica suficiente para arrecadar o que é preciso para cobrir as despesas elementares. A exceção fica por conta de comunidades que floresceram em torno de uma grande indústria, como é o caso de Ouro Branco, que “explodiu” seu desenvolvimento em torno da Açominas.
A administração municipal compreende uma prefeitura (prefeito, vice, secretários e funcionários) e uma câmara municipal (vereadores e funcionários). Esses são, geralmente, os melhores empregos do lugar. Tudo pago pelos menos de 5 mil habitantes, a maioria pobre. Tudo para satisfazer a vaidade e a ânsia de poder de uma ou duas famílias dominantes. Vivem dos fundos repassados pelos estados e pela União, enquanto boa parte da população sobrevive graças ao Bolsa Família e às aposentadorias e pensões. Os mais novos que se formam nos cursos médios são obrigados a se mudar para os municípios maiores em busca de estudos superiores e empregos.
É o caso do município de Tabuleiro, que possui menos de 4 mil habitantes e que conheci quando meu pai, engenheiro civil, que residia em Rio Pomba, construiu lá um grupo escolar estadual situado em frente da matriz de São Bom Jesus e uma ponte estreita localizada no trevo de entrada da cidade. Accacio Ferreira dos Santos Jr, que era nascido em Juiz de Fora e foi ex presidente da CDIMG, tinha uma pequena fazenda na região candidatou-se a prefeito. Tinha como objetivo principal, caso eleito, construir um pequeno distrito industrial para atrair indústria para a cidade. Perdeu a eleição por menos de 400 votos para o outro candidato da terra que era simples funcionário de uma agência bancária.
Como resultado dessa errada escolha da população, Tabuleiro continua sendo a mesma cidade que conheci 60 anos atrás, com simples e pequenas alterações. Esse é só um retrato do que acontece com alguns dos 211 municípios mineiros com risco de extinção. As populações preferem “deixar tudo como está para ver como é que fica”. A mentalidade desenvolvimentista criada por Juscelino Kubitschek não parece existir na maioria desses pequeninos municípios. Nada adianta um município ser “independente” com essas condições: não tem renda e nem bons empregos em geral e seus jovens são obrigados a procurar uma situação melhor em outros municípios maiores.
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