A hora é de sensatez


Por Paulo César de Oliveira, jornalista e diretor-geral da revista Viver Brasil e do jornal TudoBH

29/10/2019 às 07h00- Atualizada 29/10/2019 às 07h03

Num regime de exceção, ou de quem tem espírito totalitário, o risco fica com o guarda da esquina, que se sente com poderes para fazer o que ele entende das ordens ou da lei. O que ele entende não necessariamente é o que elas determinam. Uma verdade que Pedro Aleixo, um dos mais sérios e competentes políticos mineiros, que infelizmente igual não se vê mais, procurou mostrar ao presidente Costa e Silva, pouco antes da edição do Ato Institucional 5, que, em 1968, jogou o país na ditadura militar. Pedro Aleixo era vice de Costa e teve a coragem de votar contra a edição do ato. Acabou isolado pelo regime e impedido de assumir a Presidência quando do afastamento do presidente, vitimado por uma trombose. Ato dos guardas da esquina, gente de alta e baixa patentes, mas de pouca expressão.

Mas por que lembrar isso agora se não estamos numa ditadura? É verdade, ainda vivemos numa democracia. Embora muitos desconheçam isso e busquem radicalizar, criando inimigos a serem abatidos nas próximas eleições. Estabelecendo diferenças que na prática não existem ou, pior, estimulando o uso da força em nome do Estado. São situações que fogem inteiramente do controle de quem as estimula. Controlar o guarda da esquina que pratica as maiores barbaridades – ou não foi uma barbaridade o que aconteceu numa escola militarizada de Goiás, onde jovens, meninos e meninas, foram submetidos a revistas íntimas que, supostamente, buscavam drogas ? -, se sentindo protegido pela lei ou pela vontade do governante.

Foram os guardas da esquina que, sentindo-se protegidos pelas opiniões do presidente Bolsonaro, colocaram fogo na Amazônia para mostrar quem manda lá. São os guardas da esquina de que falava Pedro Aleixo, que, protegidos pelas manifestações do governador Witzel de que bandido bom é bandido morto, passaram a abrir fogo contra qualquer um, aqueles que julgam suspeitos, matando trabalhadores e crianças na certeza da impunidade. Agiram como guardas da esquina os agentes da Receita que quebraram sigilos de cidadãos, sem autorização judicial, seguindo a lógica vesga da Lava Jato.

Tão perigosos quanto estes são os que compõem um novo batalhão de “guardas de esquina”. Os que agem nas redes sociais, estimulados e ajudados por gente íntima do poder, quando não gente que é o poder, que colocam a estabilidade política e econômica do país em risco pelo desejo de demonstrar poder. Um poder que sabem não ter, mas que precisa ser apresentado aos seus incautos guardas de esquina, facilmente manipuláveis e, preocupante, extremamente agressivos.

Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail ([email protected]) e devem ter, no máximo, 35 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.