Ética: o coração da liderança


Por José Aparecido da Silva, professor visitante na UFJF

24/10/2019 às 06h58

Há tempos, Bill Clinton, ex-presidente norte-americano, num encontro de líderes das 20 nações mais desenvolvidas, comentou a Nelson Mandela, líder da África do Sul, que o mesmo transparecia, exageradamente, honestidade. Ao que Mandela imediatamente replicou não ter mais nem menos honestidade, ele simplesmente a tinha. Contrastando a isso, tempos atrás vários líderes de nossos parlamentos, rebatendo críticas ao pretendido aumento requerido pelos nossos nobres, e incansáveis, representantes do povo, contra-argumentaram que tal aumento era necessário para protegê-los da corrupção, o que, a mim, imediatamente, pareceu que cada representante, substancialmente diferente de Mandela, tem um preço, bem como fez-me lembrar da importância da ética na liderança.

Ética, tendo suas raízes na palavra grega “ethos”, significando costumes, conduta ou caráter, refere-se aos tipos de valores e moral que um indivíduo, ou sociedade, entendem desejável e/ou apropriada. Ademais, ética envolve a virtuosidade dos indivíduos e seus motivos. Com respeito à liderança, ética tem a ver com o que os líderes fazem e quem os líderes são. Refere-se, portanto, à natureza do comportamento do líder e sua virtuosidade. Em qualquer situação envolvendo tomada de decisão, temas éticos são, implícita ou explicitamente, envolvidos. As escolhas que os líderes fazem, e como eles respondem, numa dada circunstância, são norteadas e dirigidas por sua ética.

Há cinco princípios éticos que fornecem as bases para o desenvolvimento da liderança ética. São eles respeito, servidão, justiça, honestidade e comunidade. Em relação ao respeito, os líderes éticos sabem respeitar os outros. Entendem que as pessoas devem ser tratadas como tendo sua própria autonomia, metas estabelecidas e nunca devem ser tratadas como meios para se alcançar objetivos pessoais de outra pessoa. Os líderes éticos também devem servir aos outros. Este princípio de servidão aos outros é exemplo típico de altruísmo. Líderes que servem são altruístas; colocam o bem-estar de seus seguidores como a meta maior de seus planos. No ambiente de trabalho, comportamento de servir pode ser observado em atividades como suporte, organizar a equipe e em comportamento de cidadania. Líderes éticos preocupam-se com a imparcialidade e a justiça. Eles tratam todos os subordinados de maneira igual, e, por isso, aspectos referentes à imparcialidade e justiça estão no centro de sua tomada de decisão. Líderes éticos são honestos. Desde criança, ouvimos a frase “nunca diga uma mentira”. Isto significa que nós devemos sempre dizer a verdade. Para os líderes a lição é a mesma. Para ser um bom líder, necessita-se ser honesto. Finalmente, os líderes éticos devem construir uma comunidade, significando que um líder ético leva em consideração os propósitos de cada envolvido no grupo e é atentivo aos interesses da comunidade e da cultura nas quais os liderados pertencem. Assim, um líder demonstra uma ética de carinho em relação aos outros e não os forçam, ou ignoram, as intenções dos outros. Em outras palavras, eles necessitam atender aos objetivos e propósitos da comunidade.

Assim considerando, qualquer que seja a teoria da liderança, os princípios éticos devem nortear todas as ações de um líder. Dizendo a verdade, o líder torna-se confiável; dando aos pobres o líder torna-se benevolente; sendo confiável aos outros ele torna-se justo. Nossas virtudes são derivadas de nossas ações, e nossas ações manifestam nossas virtudes.

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