A inércia na recuperação das famílias

Por Iris Maria Barquette

O volume de consumidores considerados inadimplentes cresceu 0,9% no primeiro semestre de 2019, na comparação com o final do ano de 2018. Segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) é a segunda menor variação nos atrasos, desde 2012, quando a inadimplência havia crescido 5,8% no primeiro semestre.

O fato da inadimplência apresentar crescimento mais modesto é considerado um fator positivo, já que tem acompanhado a lenta recuperação da economia. Contudo, o número de pessoas com atraso nas contas ainda é muito elevado. Até abril deste ano, eram 62,6 milhões de pessoas nessa situação, o que representa quase 41% da população adulta. Embora os juros estejam menores e a inflação controlada, o desemprego ainda é elevado e acaba reduzindo tanto a capacidade de pagamento das famílias, quanto o interesse pelas compras. De acordo com a pesquisa dos SPC Brasil, somando todas as pendências, cada consumidor inadimplente devia, em média, R$ 3.252,70 no mês de julho deste ano, valor 0,4% inferior constatado em relação ao mês de junho. O valor representa quase três vezes e meia o salário mínimo no país (R$ 998,00). Em média, cada devedor tem duas contas em aberto.

O atraso nas despesas básicas para o funcionamento do lar, como contas de água e luz, está entre o que mais cresceu em junho de 2019, com alta de 17,2% na base anual de comparação. Segundo o indicador do SPC Brasil, 53% das dívidas pendentes de pessoas físicas no país têm como credor algum banco ou instituição financeira, seguido do comércio, que concentra 17% do total de dívidas não pagas e do setor de comunicação (11%).

A fim de se estabilizar a inadimplência dos consumidores, alternativas como o Cadastro Positivo, método que considera a análise de todo o histórico de endividamento e de que modo empresas e consumidores efetuam o pagamento de dívidas contratadas com bancos e estabelecimentos de comércio e de serviços a fim de valorizar aspectos positivos, como o hábito do consumidor de pagar suas contas, são bem-vindas. Emergencialmente, a expectativa é de que a liberação de parte do saldo do FGTS, do 13º salário e dos lotes remanescentes da restituição do imposto de renda sejam usadas com consciência pelos consumidores, para reduzir o número de dívidas antes de decidir novas compras. É esperar para ver se vai prevalecer o bom senso nas decisões financeiras das famílias ou se, mais uma vez, o problema será adiado.

Conjuntura e Mercados

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