Nossa cidade tem um elevado grau de politização de sua gente. Desde as crianças, com a Câmara Mirim. Os adolescentes, com o Parlamento Jovem. E as pessoas idosas, com o mais novo instrumento de participação cidadã, que é a Câmara Sênior. Todos esses grupos etários representados estão vinculados institucionalmente à Câmara de Vereadores. Fazem parte da rotina administrativa da Casa Legislativa. O que dá à cidade de Juiz de Fora uma elevada cultura cívica de participação social de seus habitantes. Aqui, desde cedo, se aprende a importância da Política na vida de todos nós. Mesmo com todo o desgaste, é pela participação política que podemos transformar a nossa realidade e a vida de outras pessoas.
Em se tratando de participação das pessoas no processo de vida da cidade, me deparei com a palavra gerúsia, quando fui conversar com um grupo de idosos na Escola Municipal Álvaro Lins do Bairro São Judas Tadeu. No quadro da sala de aula, onde fizemos nossa reunião, estava escrito essa palavra. Numa rápida pesquisa pela Wikipédia – a enciclopédia livre – quis saber o que é gerúsia? Eis a presposta. Em grego antigo significa, senado. Um conselho de anciãos da Grécia Antiga, em especial de Esparta, que liderava juntamente com os reis. O grupo de conselheiros era composto por 28 membros ou gerontes, com idade de 60 anos, e 2 reis. A gerúsia, nesse caso, tinha o controle da Constituição de Esparta. Escolhido pelo povo, era um dos órgãos de governo da antiga Esparta. Sua criação é atribuída a Licurgo, nas reformas que introduziu no final do século VIII a.C..
E eu achando que a ideia da Câmara Sênior era uma grande novidade para nós. Reconheço. Não deixa de ser. E é. A sua existência no nosso Legislativo é novidade, sim, mas, a ideia, não. Como vimos, data de anos antes de Cristo. Numa analogia imediata com a Câmara Sênior, me permito fazer algumas observações. De pronto, dizer que, nossa Gerúsia é muito importante para o fortalecimento de participação democrática das pessoas idosas em nossa cidade. As pessoas idosas tem muito o que dizer para a cidade. Ajudaram na sua construção. Dizer também, que com o tempo longo de vida, as pessoas idosas desejam influir ativamente no cotidiano da cidade: não sendo mais vítimas fatais e morrendo nos acidentes de trânsito no centro da cidade. Ou sendo roubados em saídas de bancos ou em suas residências. Elas querem e merecem viver e não morrer.
A cidade precisa oferecer condições materiais para o bem estar das pessoas idosas. Não é favor, é reciprocidade. É direito. É civilidade. Como na Grécia Antiga, os gerontes ou os que faziam parte da Gerúsia fiscalizavam as ações públicas dos governantes. É o que fazem também as pessoas idosas integrantes da Câmara Sênior, ainda pouco conhecida da sociedade local. Desde a sua origem, o Conselho de Anciãos tinham poderes sobre os que mandavam na cidade. Tanto é que, em anos seguidos, com o passar do tempo, esse Conselho foi destituído pelos poderosos, de plantão. Eu não tenho dúvida em escrever aqui, que a Câmara Sênior de Juiz de Fora é um instrumento belíssimo de estímulo para a presença forte das pessoas idosas no cotidiano da cidade: dando sugestões, fazendo críticas construtivas, mostrando caminhos, avaliando os prós e os contras de determinadas medidas, elaborando leis que atendam não só aos seus interesses mais próximos, mas também, a sociedade, de um modo geral, independente do ciclo geracional. Relacionar a Gerúsia de Esparta com a nossa Câmara Sênior, em pleno Século XXI, é um exercício de generosidade histórica, de que as ideias não se perdem com a passagem do tempo. E que a Política está no DNA de todo ser humano. Ou para um lado. Ou para um outro.
Outra dúvida que eu não tenho também, é a de que a Câmara Sênior representa um frescor no clima de participação dos atores políticos da comunidade. São caras novas (outsiders). Pessoas idosas que desejam e têm competência e capacidade para dizer o que pensam sobre a cidade. E que querem continuar contribuindo para o futuro da cidade. Um futuro com todo mundo junto. Uma cidade para todas as idades. Fica a lição, vinda dos tempos outros, dos nossos antepassados: a comunidade não tem como prescindir de ninguém, muito menos, dos mais experientes. Dos gerontes do Conselho de Anciãos de Esparta. Pela nossa conquista da longevidade, principalmente, nos paíse europeus, tem sido comum a criação dos “Clube dos Cem”. Centenários que se reúnem para falar da vida, das esquinas e das cidades. Daqui a pouco, será uma prática comum entre nós. No mesmo tom de esperança de que um dia faremos do Rio Paraibuna um cartão postal da cidade.