Popularidade do Flamengo é tema de conferência historiográfica na UFJF
Análise vem após tese de doutorado de professor de História do Brasil Republicano; inscrições são gratuitas, e evento começa às 14h desta quarta
O que fez do Flamengo o clube mais popular do Brasil? Este e outros questionamentos serão debatidos nesta quarta-feira (16) na conferência “Flamengo: a invenção do clube mais querido do Brasil nos anos 1930”, ministrada pelo professor adjunto de História do Brasil Republicano da Universidade Federal Fluminense (UFF) Renato Soares Coutinho. O encontro, às 14h, com inscrições gratuitas pelo link do evento, será realizado no Anfiteatro 3 do Instituto de Ciências Humanas (ICH) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
A ideia da discussão vem de resultado da sua tese de doutorado em História, pela UFF, com orientação do professor Jorge Ferreira, também organizador do debate, planejado em parceria do Laboratório de História Política e Social (LAHPS), do Departamento e Programa de Pós-Graduação em História da UFJF, com o Laboratório Brasil Republicano da UFF.
Coutinho reitera que o evento é destinado a todos os estudantes de História, de Ciências Sociais, e que tem como principal objetivo debater o desporto, mais especificamente o Flamengo, como um espaço de construção de identidades sociais. O Rubro-Negro deu um salto de popularidade na década de 1930, curiosamente em período com apenas uma conquista de expressão, o Carioca de 1939.
“O objetivo da conferência é discutir, debater e compreender, historicamente, a construção da popularidade do Flamengo enquanto uma instituição desportiva de amplitude nacional. Mas não a partir de questões direcionadas ou relacionadas ao desempenho esportivo, e sim fazer uma história social do clube. Compreender o processo que faz o torcedor se identificar com o clube. O que aquele clube oferece, enquanto representatividade de projetos culturais e políticos? O que faz alguém dizer que torce para um clube? O que esse clube está veiculando, propagandeando e criando um elo de relação, de representação com o seu próprio torcedor? Entender como o Flamengo conseguiu estabelecer esse vínculo de identificação com as camadas populares”, esmiuça.
O desafio da pesquisa foi descobrir como uma instituição, de origem atrelada aos princípios higienistas e excludentes da Primeira República, tornou-se, no século passado, um fenômeno de popularidade. Coutinho analisou as transformações administrativas e simbólicas ocorridas no clube no momento de implantação do regime de trabalho profissional no futebol brasileiro. Na conferência, irá abordar as ações de publicidade da gestão do Presidente José Bastos Padilha (1933-1937) e o processo de (re)significação simbólica que alterou as identidades do clube por meio da apropriação do discurso nacional-popular que dialogava com os símbolos nacionalistas do Estado nos anos 1930.
Segundo 0 professor Jorge Ferreira, a relação dos temas existe porque “adotar um clube para chamar de seu é expressar determinada identidade social. Por essas e outras razões, o futebol tornou-se objeto de estudo de historiadores, sociólogos e antropólogos”. Não haverá, ainda de acordo com o organizador, uma exaltação ao Rubro-Negro, mas sim um debate sobre o que motivou a popularidade do clube carioca. Entre as possibilidades, ele rechaça a identificação com os trabalhadores, característica atrelada a outro clube do Rio de Janeiro. “Esse seria o caso do Vasco da Gama. Até os anos 1920, o Flamengo era como a maioria dos outros clubes: lugar elitizado. Alguns falam no poder da Rádio Nacional de alcançar diversos estados do país, irradiando jogos do Rubro-Negro. Mas a Nacional transmitia igualmente jogos de outros clubes cariocas”, pondera Ferreira.
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