Uma paixão amputada
“A regra é clara”, diz o famoso comentarista, que apitou final de Copa do Mundo. Mas será que é mesmo? Quando eu era garoto, todos sabiam que “mão na bola” era diferente de “bola na mão”. No primeiro caso, era falta; no segundo, não.
Hoje, sendo a tecnologia elemento essencial em todas as atividades, nada mais natural que utilizá-la para evitar os erros inerentes à percepção humana, que sempre será limitada, e tornar os esportes mais “justos”. Funciona bem no tênis, no vôlei, no caratê. Já no futebol, houve durante anos resistência em incorporá-la. Mesmo chacoalhado por escândalos de corrupção e de manipulação de resultados, ainda havia gente com a pachorra de dizer que “a graça do jogo está nos lances polêmicos”. Sinais de um esporte decadente.
Quando finalmente se renderam ao inevitável, conseguiram tornar o jogo ainda mais confuso com a introdução do árbitro de vídeo (VAR). Alguns erros básicos poderiam ser evitados simplesmente copiando o que funciona em outras modalidades: (I) cada equipe deveria ter direito a um número predefinido de pedidos de revisão pelo vídeo e utilizá-los quando se sentisse prejudicada; (II) o lance em revisão deveria ser exibido em um telão para todos verem, e não apenas o árbitro; (III) as imagens deveriam ser avaliadas sempre em movimento (nunca congeladas), pois, sendo o futebol um esporte de contato, nem todo toque caracteriza falta.
Em adição a esses equívocos, mudou-se a regra de maneira esdrúxula: agora, se a bola tocar no braço do jogador dentro da área, mesmo sem qualquer intencionalidade, é marcado pênalti. São patéticas as tentativas dos zagueiros de prender os braços atrás das costas, perdendo totalmente o equilíbrio que seu movimento exige.
Isso é gravíssimo quando lembramos que o futebol é o esporte de placar médio mais baixo. Um gol vale muito mais que um ponto no tênis ou no vôlei. Assim, não são poucas as partidas cujo vencedor é decidido por uma regra mal aplicada.
Se quiserem tornar o futebol mais atrativo, apresento duas sugestões. A primeira, acabar com o “impedimento”. Tenho certeza de que a maioria dos homens e a quase totalidade das mulheres concordarão com essa medida. A segunda é mais controversa, mas não tenho dúvidas de que tornará os resultados mais justos: acabar com o “pênalti” enquanto falta cometida dentro da área. Permaneceriam apenas os “tiros livres da marca do pênalti” como critério último de desempate.
A outra alternativa não me parece muito salutar: amputar os braços de todos os jogadores de defesa (exceto do goleiro, por motivo óbvio). Dessa forma, haverá menos pênaltis não intencionais, e, quem sabe, ao final do campeonato, o time dos amputados venha a somar mais pontos.
Como essas mudanças não serão implementadas no curto prazo e não quero passar mais raiva, no próximo domingo, irei me juntar a um grupo crescente de brasileiros que liga a TV para assistir ao melhor campeonato de futebol do mundo: a NFL.
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