Museu abre mostra sobre suas obras de restauro
Tribuna visita restauro da Villa Ferreira Lage, no Museu Mariano Procópio; andamento das obras será compartilhado com público na Primavera dos Museus este mês
O barulho característico de obra em andamento, o grande número de pessoas trabalhando em detalhes e o cheiro de sinteco e tintas – além dos que o olfato de uma leiga não permite identificar – não deixa dúvidas a respeito da vida que pulsa no Museu Mariano Procópio, cujas obras de restauro estão a pleno vapor. Apesar da grande movimentação de pessoas e instrumentos, a etapa de trabalho na Villa – também chamada de Castelinho – exige minúcia e delicadeza, pois trata dos detalhes de finalização e acabamento do imóvel, com procedimentos como o restauro da pintura marmorizada de alguns cômodos e o douramento dos fios das sancas e do florão central de alguns ambientes – processo feito, de fato, com a aplicação de folhas de ouro à estrutura, que acaba deixando os cômodos com uma “aura” dourada, do pó excedente da técnica. Mais de 20 profissionais especializados das áreas de restauração, engenharia, arquitetura e construção civil atuam nesta etapa, que ainda não tem previsão para ser concluída.
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Segundo a arquiteta gerente da obra, Janaína Genaro, esta e todas as fases do restauro foram baseadas, primeiramente, em um trabalho de pesquisa e resgate histórico e também em conformidade com um mapeamento de danos e dos usos de cada ambiente. “Primeiramente buscamos respeitar o uso de materiais e técnicas compatíveis com os que foram usados originalmente. Digo compatíveis até porque alguns deles podem nem existir mais atualmente, ou porque a tecnologia atual permite utilizações que evitem problemas decorrentes destas técnicas ou materiais originais. Também levamos em conta o uso que a instalação terá: por conta dele, precisará, por exemplo, de energia elétrica? Porque isso direciona a maneira como trabalhamos.”
Na visita da Tribuna às obras de restauro, também estavam presentes o prefeito Antônio Almas e o diretor-superintendente do Museu Mariano Procópio Antônio Carlos Duarte. “A transformação que já pode ser observada no Castelinho emociona. O prédio agora se revela como era originalmente, depois de ter passado por anos de pinturas e coberturas de papel de parede indevidas, por exemplo. Ver esse resultado é muito animador. Poderemos resgatar o museu não apenas em sua dimensão nacional – quiçá internacional – como segundo maior acervo imperial do país, mas também devolveremos aos juiz-foranos este patrimônio, que também é da ordem afetiva”, destaca Duarte.
O prefeito Antônio Almas ficou impressionado com a minúcia dos trabalhos de restauro – “quem vê a obra concluída não tem ideia do quão detalhado é cada um destes processos” – e comemorou o investimento de R$ 1,2 milhão da MRS Logística, via Lei de Incentivo à Cultura (Rouanet) para a realização do restauro. “Espero que seja um incentivo para que outras empresas apliquem na cultura da cidade e da região recursos que trazem um impacto direto neste cenário. O cidadão não vive em um Estado fictício, quer ver as transformações e investimentos em seu cotidiano”, ressalta Almas.
Público pode acompanhar obras
Como parte da programação elaborada pela Fundação Museu Mariano Procópio para a 13ª edição da Primavera dos Museus, realizada em diversas instituições do país de 23 a 29 de setembro, o Museu exibirá ao público vestígios do restauro da Villa Ferreira Lage. Alguns deles são bem curiosos, como jornais da época da construção no imóvel, encontrados por baixo dos papéis de parede de alguns cômodos, trazendo anúncios típicos da época como o de venda de escravos, folhetins e dando destaque, por exemplo, à Rua do Ouvidor (RJ), uma meca cultural para a elite do século XIX. “Os jornais utilizados na estrutura do imóvel são um vestígio histórico que estava encoberto e que inclusive provam que a Villa não estava pronta em 1861, época da visita da Família Real para a inauguração da Estrada União Indústria”, pontua o historiador Sérgio Augusto Vicente.
Além dos jornais, o público terá acesso a fotografias de etapas diversas do restauro e a artefatos como a coletânea do periódico português “Semanário Ilustrado”, de meados de 1861, sobre a Villa, dentre outros itens. A mostra “Retalhos do passado: histórias descobertas pelo restauro da Villa” terá início na terça-feira, 24, e ficará em exposição até o final de outubro, na Galeria Maria Amália.
Segundo a programadora de atividades educativas e culturais da Primavera dos Museus Laura Freesz, a ideia é aproximar (ou reaproximar) o museu da população, sob o oportuno tema da primavera deste ano, “Museus por dentro, por dentro dos museus”. “É um convite a se apropriar dos museus, a pertencer àqueles espaços. No caso específico do Mariano Procópio, que tem uma relação íntima com a população de Juiz de Fora, também vai como uma amostra do que está sendo feito. Nós que estamos aqui sabemos que o museu não está apenas fechado, há muito trabalho sendo realizado para que ele seja ‘devolvido’ à população. Nada mais justo do que ela ter acesso a isso”, observa Laura, que também destaca a abertura à população das reservas técnicas (mediante inscrição prévia), geralmente restritas a fins de pesquisa ou à imprensa. Além disso, o Mariano realiza o projeto “Museu vai à Escola”, com exposições itinerantes e atividades temáticas variadas em instituições públicas de ensino. Haverá oficinas temáticas, palestras, apresentações diversas, concurso fotográfico, dentre outros.
“Retalhos do passado”
Abertura da exposição nesta terça-feira (24). Visitação de terça-feira a sexta-feira, das 10h às 17h, até fim de outubro, na Galeria Maria Amália. Para a visita técnica, oficinas infantis e palestras, inscrições pelo telefone do Departamento de Acervo Técnico e Cultural (Datec), 3690-2027. Programação completa no site da PJF.