Cuidado com os números

Mesmo casos como o duplo homicídio de quarta-feira não indicam, necessariamente, que o número de crimes contra a vida cresce em Juiz de Fora


Por Tribuna

08/08/2019 às 06h46

O Atlas da Violência, que na versão divulgada na última terça-feira incluiu Juiz de Fora entre as 120 cidades brasileiras com maior número de homicídios, é um documento importante para a elaboração de políticas públicas, mas não deve ser lido sob a ótica leiga, sob o risco de má interpretação. A inclusão da cidade nesta lista, por exemplo, não pode ser considerada sob uma leitura linear, uma vez que é necessária a elaboração de proporções. Desde 2017 – ano da amostragem -, o município passa por uma ostensiva queda nos crimes consumados contra a vida, a despeito de ainda serem preocupantes. Como bem destacou o delegado Rodrigo Rolli, titular da delegacia de combate aos homicídios, os dados estão sendo reduzidos no decorrer dos últimos anos.

É fato que o Atlas aponta para uma guerra urbana que ainda deve ser considerada como um flagelo. O país apresenta números extremamente altos, sobretudo nas metrópoles, embora o ranking seja puxado por pequenos municípios, a maioria no Nordeste. De novo, a proporcionalidade é um ponto a ser considerado, mas é nas grandes e nas médias cidades que a situação é mais crítica.

Os especialistas apontam uma série de fatores, a começar pela desigualdade social, mas a matriz continua sendo o trânsito de armas ilegais e o tráfico e uso de drogas. O enfrentamento entre quadrilhas pelo controle de território é um dos indutores de tais números, acoplado a outras consequências.

Tramita no Congresso o pacote anticrime elaborado pela equipe do ministro da Justiça, Sérgio Moro. A tentativa é positiva, mas é fundamental trazer junto um elenco de medidas de viés econômico e social a fim de mudar a realidade de comunidades conflagradas, nas quais o preço da vida é muito baixo, e o apelo lúdico das drogas, muito alto. Mudar a realidade social de tais comunidades é um dado fundamental por atuar diretamente na causa.

O pacote faz algumas previsões, mas seu viés é mais punitivo. A repressão é sempre necessária, mas ela só funciona com outros ingredientes, como está claro em outros projetos ora em desenvolvimento, como o “Fica Vivo”, em Juiz de Fora.

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