O amor está no ar


Por Olívia de Paula Lopes Velloso, professora aposentada da UFJF

30/07/2019 às 06h59

“Porque só o estado de paixão e enamoramento faz aflorar em nós o sentimento de gentileza, cordialidade, leveza, compaixão e tolerância, enfim, o que há de melhor em nós mesmos”

Nenhuma das nações ou religiões atuais existia quando os humanos colonizaram o mundo, domesticaram animais e plantas, construíram as primeiras cidades ou inventaram a escrita e o dinheiro. Moralidade, espiritualidade, criatividade e arte são aptidões humanas universais, são conceitos incorporados em nosso DNA, suas origens estão na África da Idade da Pedra. É, portanto, egotismo nosso atribuí-los a um lugar e a um tempo mais recente, seja à China Imperial, à Grécia de Platão ou à Arábia Islâmica.

Podemos, portanto, dizer que, desde tempos imemoriais, os humanos são seres que precisam de histórias que expliquem suas origens, suas funções na vida, enfim, o sentido de sua existência. Seu arcabouço humano é forjado sobre as narrativas que lhe dão sustentação e o tornam diferente dos outros seres vivos.

Na verdade, são as narrativas ficcionais ideológicas, religiosas, políticas, que nos moldam e alimentam nossas atitudes e nossos posicionamentos ao longo de nossas vidas.

Somos, então, os humanos seres mantidos pelas narrativas e que se fortalecem compartilhando-as entre seus iguais. No entanto, nesse momento, estamos vivendo uma fase muito complexa, em que as narrativas não estão conseguindo acompanhar as mudanças vertiginosas que estão ocorrendo e, por isso, já não satisfazem as necessidades e as demandas que assoberbam o Homo Sapiens.

Narrativas apocalípticas, antes remotas, que tanto assustavam os humanos, hoje, eclodem nos mais diversos pontos do planeta, deixando-nos perplexos com seus rastros de destruição, sem sabermos o que se poderia ter feito para evitar tamanha catástrofe. São os chamados desastres ambientais, um dos nossos grandes desafios.

Isso nos leva a pensar que, diante de tantos desafios para os quais não estamos preparados, só nos resta investir em nós mesmos e buscar no âmago de nosso ser, através de muita meditação, o amor essencial que nos torna capazes de nos apaixonarmos e nos enamorarmos. Porque só o estado de paixão e enamoramento faz aflorar em nós o sentimento de gentileza, cordialidade, leveza, compaixão e tolerância, enfim, o que há de melhor em nós mesmos. Inclusive, tornando-nos bem-aventurados a ponto de respondermos a nossos opositores que desejam nos ver apodrecer no fundo de uma cela prisional, com a capacidade, não só de amar, como de planejar um casamento futuro.

Em 1848, Marx e Engels, referindo-se às estruturas econômicas e sociais, afirmaram: “Tudo que é sólido se desmancha no ar”. Em 2048, estruturas físicas e cognitivas também se desmancharão no ar ou numa nuvem de dados, se você quiser manter algum controle sobre sua existência pessoal e o futuro de sua vida, terá de correr mais rápido que os algoritmos, que a Amazon e o governo, e, o principal, terá que conhecer a si mesmo melhor do que eles conhecem.

Para se conhecer, comece logo a praticar a meditação. Para correr tão rápido, não leve muita bagagem. Deixe para trás suas ilusões, elas são pesadas demais. Para ser feliz, resgate sua capacidade de se apaixonar. Enamore-se. Tem coisa melhor?

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