Emanuelle Ferruggini lança “A menina da sapatilha vermelha”, livro em que aborda bullying e autoestima

Por Marisa Loures

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Membro da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora (LeiaJF), Emanuelle Ferruggini lança a história da pequena Luciana dia 1º de junho – Foto Divulgação

Em seu novo livro, “A menina da sapatilha vermelha” (Editora Paratexto, 64 páginas), com lançamento previsto para 1º de junho, a partir das 17h, no Espaço Excalibur (Rua São Mateus, 265, São Mateus, Juiz de Fora), Emanuelle Ferruggini leva o leitor a fazer uma reflexão sobre bullying e autoestima a partir da história da pequena Luciana, uma garotinha de 9 anos supermeiga, carinhosa, tímida, que não sabe que é encantadora, e é apaixonada por livros.

“Como não tem muitos amigos, são eles – os livros – seus grandes companheiros. Tem a pele negra, da cor do seu doce preferido, o brigadeiro. Usa óculos, tem os cabelos crespos e está um pouquinho acima do peso que a sociedade impõe como ideal. Acha que, por ter a aparência assim, as pessoas não gostam dela”, adianta Emanuelle, derretendo-se por sua protagonista. “Uma pena ter essa visão de si mesma, pois ela é uma menina muito linda.”

Membro da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora (LeiaJF), Emanuelle luta para que a literatura produzida na cidade seja reconhecida. Seu primeiro livro publicado – “Em busca do sol”-, chegou às prateleiras com uma tiragem de 1500 exemplares e é adotado por escolas aqui do município. Embora seu público-alvo, nas duas obras, seja o infantojuvenil, a escritora garante que cria para todas as idades. É só esperar que vêm novidades por aí.

Emanuelle Ferruggini é formada em Letras, pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES), e tem especialização em Ensino de Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Juiz de Fora. “A menina da sapatilha vermelha” poderá ser adquirido pelo site da editora (www.editoraparatexto.com.br) ou com a própria autora.

Marisa Loures – Neste livro, você trabalha o bullying e a autoestima. Por que decidiu trabalhar essas temáticas?

Emanuelle Ferruggini – Em tudo o que escrevo, procuro deixar um “algo a mais” para o leitor. Não quero que meus livros tenham apenas histórias simples; quero levar a todas as pessoas um motivo para elas refletirem sobre a vida e quererem ser seres humanos melhores. A história da menina da sapatilha vermelha surgiu em minha mente meio pronta; quando comecei a pensar, alguns detalhes já estavam mais ou menos definidos. Mas, dentro da personalidade da protagonista e de como a história desenrolou-se, vi que poderia acrescentar algo que atingisse esse objetivo de ensinamento. Bullying e autoestima são temas que estão altamente “na moda”, pois é a realidade das nossas crianças. Infelizmente, é o que vemos acontecer todos os dias, em todos os lugares – principalmente nas escolas – e que têm gerado consequências gravíssimas, em alguns casos. Eu mesma sofri muito bullying quando estive no ensino médio. Saía praticamente todos os dias da escola chorando e sei o quanto é ruim ser julgada ou rotulada. E o carinho e atenção de meus pais fizeram toda a diferença em minha vida, para que eu não deixasse que esse fato negativo definisse minha vida e a maneira como as pessoas me veem hoje.

– Sua obra é principalmente voltada para crianças e adolescentes. O que te motiva a contar uma nova história para esse público?

Na verdade, escrevo para todas as pessoas, para todas as idades. Tanto que, no meu primeiro livro “Em busca do sol”, como neste “A menina da sapatilha vermelha”, busquei trabalhar uma narrativa infantil, pois penso que, numa linguagem mais simples, a mensagem é entendida mais facilmente. Apesar de não ser nada fácil escrever para crianças, pois o cuidado com as palavras tem que ser redobrado. O feedback por parte dos adultos é muito maior. Muitos se identificam com a história e conseguem absorver algum ensinamento, mesmo que numa estorinha para crianças. Mas não sou escritora de um estilo só. Já escrevi uma biografia de uma grande empresa aqui da cidade, que será lançada ainda este ano e já preparo meu primeiro romance.

– E como foi o processo de construção desse personagem?

O processo criativo deste livro foi diferente do que normalmente acontece comigo. Eu tenho uma amiga chamada Luciana que tem uma sapatilha vermelha muito bonita. E sempre que eu a via com a sapatilha, eu dizia a ela: “olha aí a menina da sapatilha vermelha! Um dia eu ainda vou escrever um livro que terá o título de A menina da sapatilha vermelha!” Mas eu só tinha o título, não a história. E nos meus outros livros, nas minhas outras histórias, acontece sempre de eu pensar uma história e a última coisa que penso é o título. A Luciana surgiu em minha mente meio que pronta. Certo dia, enquanto trabalhava, veio à minha mente uma história de uma menininha tímida, calada, que, depois de algo que aconteceria em sua vida, desperta para o seu verdadeiro potencial. E comecei a desenvolver aquela ideia, do que poderia acontecer com ela. E, num estalo, de repente, algo dentro de mim despertou para que aquela história seria a da menina da sapatilha vermelha. Não a criei, ela que veio se apresentar a mim, em meus pensamentos. E eu adorei conhecê-la. E espero, do fundo do meu coração, que todos gostem dela também.

– Luciana não comentava muito com sua mãe sobre a nova escola, pois sabia que ela trabalhava muito e ainda estudava. Não queria preocupá-la. Pelo que você andou pesquisando para a escrita do livro, é o que acontece com a maioria das crianças que sofrem com os mesmos problemas que ela?

É sim. Vemos muitos casos de “falta de tempo” dos pais para estar com seus filhos, e isso, acaba por inibir as crianças de comentarem seus problemas do dia a dia. O que os filhos mais querem dos pais é atenção. Eles querem contar sobre algo da hora do recreio, sobre algo que o amiguinho disse e que acharam muito divertido, ou até mesmo um fato simples que aconteceu na escola. Só querem falar e serem escutados. Mas a rotina intensa da maioria dos pais nos dias de hoje – que trabalham em dois, três empregos, ou que trabalham e estudam – às vezes impede esta troca entre pais e filhos. E se a criança tenta falar uma vez, duas e percebe que não está tendo um retorno, ou que os pais têm que parar seus afazeres para lhe responder e ainda respondem de maneira ríspida ou sem paciência, ela começa a se fechar e falar cada vez menos. E, quando os pais percebem, o filho/a já está sofrendo há muito tempo. Conheço um caso de um menino, filho de pais separados, que começou a se automutilar, cortando-se. A professora foi quem descobriu, e, ao conversar com a criança para entender o porquê daquele ato e tentar ajudar, descobriu, através do relato do próprio menino, que ele sentia muita falta do pai e fazia aquilo como forma de chamar atenção dele e da mãe. Ou seja, atenção. É isso o que as crianças mais necessitam dos pais. Nenhum presente material, nada que o dinheiro possa comprar substitui um ato de amor e carinho por parte dos pais.

– Luciana achava-se feia. Ela colocou na cabeça que a escola não era legal, que ninguém gostava dela, inclusive a professora. A mãe não percebia a baixa autoestima da menina. Foi dona Júlia, a “avó”, quem percebeu isso, conversando e dando carinho para a menina. Depois disso, tudo mudou. Falta à criança e ao adolescente essa figura da dona Júlia?

Não digo que falta uma figura como essa, mas atitudes como as dela. Foi a maneira como ela, dona Júlia, olhou para Luciana, com mais atenção e carinho, que fez com que percebesse a real situação. Tanto pai, quanto mãe, irmãos, avôs e avós, tios e tias, independente se é parente ou não, quem está próximo às crianças e adolescentes podem ajudá-los. E não só com os mais novos. Nós mesmos, adultos, muitas vezes, queremos alguém para conversar, para nos ouvir, apenas. Por que os consultórios de psicólogos estão cada vez mais cheios? Por que muitos adultos estão em depressão? Porque somatizamos problemas, as dores, fecham-se em “casulos”. Às vezes, porque não têm com quem conversar, de fato. Talvez empatia seja a palavra que defina as atitude de dona Júlia e que ajudaram tanto Luciana. Porque ser empático é identificar-se com outra pessoa ou com a situação vivida por ela. É saber ouvir os outros e se esforçar para compreender os seus problemas, suas dificuldades e as suas emoções e ajudá-las.

“Mas eu digo: ‘somos bons, sim! Nossos livros têm qualidade, sim! Basta nos dar uma chance de mostrar que produzimos literatura de alta qualidade!'”

– Seu primeiro livro – “Em busca do sol” – teve uma tiragem de 1500 exemplares esgotada. Foi adotado por escolas aqui da cidade. Como membro da LeiaJF, acredita que o juiz-forano está valorizando mais a literatura local?

Infelizmente, ainda não temos um reconhecimento por parte da população juiz-forana. Quando a LeiaJF foi fundada, em novembro de 2015, a situação era bem pior. Já conseguimos conquistar um grande espaço na cidade, mas ainda nos olham de maneira atravessada. A liga participa de várias feiras literárias – inclusive em muitas escolas – e percebo que as pessoas nos olham como meros vendedores nos stands. Muitos pais preferem comprar livros que já estão “bombando” na mídia, mesmo sem ter um bom conteúdo, a apostar nos escritores locais. Comprar um livro “desconhecido” parece ser algo ruim. Mas eu digo: “somos bons, sim! Nossos livros têm qualidade, sim! Basta nos dar uma chance de mostrar que produzimos literatura de alta qualidade!” Apesar de o meu primeiro livro ter sido adotado por algumas escolas da cidade, muitas ainda preferem adotar livros de fora. Uma pena, pois, quando se escolhe livros de autores locais, quem se beneficia com isso são os próprios alunos, que podem ter a chance de ter contato com os escritores. Acho que existe um preconceito muito grande com os autores locais e com a literatura nacional, de uma maneira geral. As grandes editoras, mesmo, preferem investir em obras estrangeiras, que já estão fazendo sucesso no exterior, a “abraçar” os autores nacionais e construir uma literatura forte. Em Juiz de Fora, temos muitos autores e autoras excelentes, que merecem destaque e que precisam ser valorizados. E é esse o objetivo da LeiaJF: fortalecer e divulgar a literatura de Juiz de Fora, elevá-la ao patamar que ela merece.

– Foi você quem escolheu as palavras ou foram elas que te escolheram?

As palavras sempre me escolhem. É algo divino. Parece que as palavras são sussurradas em meus ouvidos. Muitas vezes, do nada, vem algo à minha mente, como se alguém tivesse depositado ali uma sementinha. E começo a pensar, a desenvolver aquela ideia, e, quando já tenho algo mais consistente, paro tudo o que estou fazendo para anotar. Por vezes, nem consigo escrever, pois os pensamentos vêm na velocidade da luz, e a mão não acompanha a rapidez. Ultimamente, tenho recorrido ao gravador de voz do celular para gravar as primeiras ideias e, aí sim, depois transcrevê-las no papel. Desde menina, eu já tinha verdadeira paixão por escrever, amava as aulas de redação. E, por ter tido excelentes professoras de Português no ensino médio e fundamental, essa paixão só foi aumentando. Até hoje, guardo meus caderninhos de redação e já penso em transformar algumas em livros. Fiz faculdade de Letras para aprimorar minha escrita, ou seja, as palavras, sejam elas escritas ou pensadas, escolheram-me, definem quem eu sou e o que quero para o resto da minha vida.

“Quero ser conhecida no mundo todo pelos meus livros. É esse o reconhecimento que busco e batalho por ele. E, para isso, estudo diariamente sobre escrita criativa e técnicas que me ajudam a aprimorar minha narrativa. Porque não quero ser apenas mais uma escritora, quero estar entre as melhores do mundo.”

– O que você sonha como escritora?

Sonho em poder ser como o sol, que caminha devagar, mas consegue atravessar oceanos e iluminar e aquecer cada cantinho do mundo. Sonho fazer isso através da minha escrita. Quero ser conhecida no mundo todo pelos meus livros. É esse o reconhecimento que busco e batalho por ele. E, para isso, estudo diariamente sobre escrita criativa e técnicas que me ajudam a aprimorar minha narrativa. Porque não quero ser apenas mais uma escritora, quero estar entre as melhores do mundo. Vejo esta minha habilidade em transformar pensamentos e palavras em livros como um dom divino. E nada mais do que justo e correto em usar esse dom para ajudar as pessoas. Então, procuro escrever histórias que possam, além de entreter o leitor, deixar um “algo a mais” em seus corações quando eles lerem a palavra “fim” na última página. Sonho em poder encantar as pessoas como os grandes autores me encantaram um dia.

a menina da sapatilha vermelha“A menina da sapatilha vermelha”

Autora: Emanuelle Ferruggini

Editora: Paratexto, 64 páginas

Lançamento: 1º de junho, a partir das 17h, no Espaço Excalibur (Rua São Mateus, 265, São Mateus, Juiz de Fora).

 

 

Marisa Loures

Marisa Loures

Marisa Loures é professora de Português e Literatura, jornalista e atriz. No entrelaço da sala de aula, da redação de jornal e do palco, descobriu o laço de conciliação entre suas carreiras: o amor pela palavra.

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