Pesquisa aponta que 70% dos alunos da UFJF estão em situação de vulnerabilidade social
Pesquisa também revela que maioria dos estudantes da instituição é composta por mulheres e estudantes oriundos de escolas públicas
Quase 70% dos estudantes de graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) têm renda familiar mensal per capita de até 1,5 salário mínimo. O dado é um dos resultados da V Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Universidades Federais, realizada no primeiro semestre de 2018. As informações sobre os alunos da instituição foram divulgadas nesta quinta-feira (16), em entrevista coletiva organizada pela UFJF.
Na ocasião, estiveram presentes o reitor da UFJF, Marcus Vinícius David, o pró-reitor adjunto de Graduação da UFJF, Cassiano Caon Amorim, e o titular da Diretoria de Ações Afirmativas, Julvan Moreira de Oliveira. Além da divulgação do resultado da pesquisa, os titulares também comentaram os dados apresentados. O valor de 1,5 salário mínimo familiar mensal per capita – correspondente, em 2018, a R$ 1.431 – é usado como limite para acesso a vagas reservadas por meio de cota social e a programas de assistência estudantil na universidade. Esse teto define, para fins legais, a população em vulnerabilidade social. Conforme analisa o reitor, o dado corrige, portanto, “um equívoco que muitos analistas cometem: acreditar que as universidades públicas eram espaços apenas para a elite e para pessoas privilegiadas”.
“Estes dados demonstram que as universidades estão participando de um processo de profunda mudança da nossa sociedade. A partir do momento que as universidades abriram as suas portas para segmentos sociais que antes não tinham a expectativa de entrar em um universidade pública, gratuita e de muita qualidade, nós oferecemos para essa parcela da comunidade a possibilidade de mudar as suas vidas”, analisou Marcus David.
Conforme ainda revelou o inquérito, realizado pelo Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Estudantis (Fonaprace) da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), dentro desses 70%, 14,5% dos alunos da instituição têm renda mensal per capita de até meio salário mínimo (R$ 477 em 2018) e 34,9% tem renda entre meio e um salário mínimo (R$ 954 em 2018). Portanto, na avaliação dos titulares, políticas de permanência estudantil são essenciais.
“A partir desses dados, a gente pode e deve implementar uma série de políticas que venham contribuir com a permanência desses estudantes na universidade. Nós vivenciamos nas universidades federais, de maneira geral em todas as instituições de ensino superior, uma evasão de estudantes de diferentes cursos de graduação, por diversos fatores. Então, dados como esses, estudados por um painel de especialistas como estamos sugerindo, vão permitir que políticas específicas de ação com os estudantes de graduação possam ser implementadas”, pontuou o pró-reitor Cassiano Caon Amorim.
De um modo geral, todos os dados levantados com a pesquisa irão nortear políticas estudantis na instituição, conforme assegurou o reitor Marcus David. “As políticas de assistência estudantil, de ações afirmativas e de acompanhamento e monitoramento da graduação dependem de informações sobre o perfil dos nossos estudantes. Então, essa pesquisa é muito importante para que a gente possa definir essas políticas como os nossos estudantes exigem”.
A pesquisa
A pesquisa nacional foi realizada em 63 universidades federais em todos os estados e em dois centros federais de educação tecnológica (Cefet). Os dados foram coletados entre fevereiro e junho de 2018, a partir de amostra de 35,34% do total de 1.200.300 estudantes matriculados em cursos presenciais naquele período. Os questionários foram aplicados diretamente aos alunos, via internet.
Na UFJF, foram validadas 3.344 respostas, representando 18,74% do total de 17.838 estudantes no período, nos campi de Juiz de Fora e Governador Valadares. Além da renda, a pesquisa traz informações relativas ao perfil básico, origem familiar, histórico escolar, vida acadêmica, atividades culturais, saúde e qualidade de vida, além de levantamento sobre dificuldades estudantis e educacionais. Os dados revelam que a composição social das instituições federais de ensino superior e o perfil universitário se aproximam das características sociodemográficas da população brasileira nos aspectos da renda, cor ou raça e sexo. A pesquisa completa pode ser acessada nos sites da UFJF e da Andifes.
Mulheres e estudantes de escolas públicas também são maioria
Superando em quase seis pontos percentuais o dado nacional, a presença de pessoas do sexo feminino na UFJF é maioria absoluta. Segundo a pesquisa, 60% dos estudantes da instituição se declaram do sexo feminino. O sexo masculino soma 39,7%. Pessoas sem declaração de sexo chegam a 0,3%. Outro dado mostra que 60,4% dos alunos são oriundos de escolas públicas, sendo 32,1% de escolas particulares e 7,5% bolsistas em instituições de ensino privadas.
Para o reitor, o levantamento evidencia a desconstrução do senso comum de que os alunos oriundos de escolas públicas ingressam menos em instituições públicas de ensino superior. “Todos os dados apontam o contrário: alunos de escolas públicas podem chegar à universidade pública. Esse dado, inclusive, mostra que a instituição pode e deve ampliar ainda mais o debate com a comunidade escolar”, disse Marcus David.
A maioria dos estudantes também é jovem. Segundo a pesquisa, graduandos com até 25 anos representam 80,9% do total de alunos, enquanto pessoas entre 26 e 30 anos somam 10,6%; os estudantes com idades entre 31 e 66 anos são 8,5%. Este índice, na avaliação do pró-reitor de Graduação, pode auxiliar na análise de outros dados relacionado à educação básica no Brasil. Ele afirma que, cruzando informações de pesquisas de educação, é possível analisar se os estudantes do país têm concluído o ensino fundamental e médio com a idade recomendada.
Outro ponto sintetizado pelo pró-reitor de Graduação, Cassiano Amorim, é a grande presença de alunos de outros estados. “A nossa universidade tem uma abrangência regional no Sudeste, como os dados demonstram, mas estudantes do Brasil inteiro, hoje, frequentam os cursos de graduação da universidade. A gente acha que o Sisu, desde o momento em que foi criado, impulsionou a democratização do acesso. E, no nosso caso, monitoramos o ingresso na universidade por meio do Pism, o nosso vestibular, e tínhamos os dados de que estudantes de diversos estados brasileiros vêm fazer o Pism. A pesquisa reforça que parte destes que vêm pelo Pism passam e ficam na UFJF. Outros dados importantes são a diversidade (…) com relação a gênero e outras questões do aspecto cultural dos nossos estudantes.”
Percentual de negros chega a 40%
O percentual de estudantes negros na UFJF é de 40,3%. Desse total, 29,4% consideram-se pardos e 10,9% pretos. Amarelos são 1,2% do total e indígenas, 0,3%. Outros 2,6% dos entrevistados não declararam cor. Nacionalmente, o percentual de estudantes negros equivale a 51,2%, chegando a 65,8% nas universidades do Nordeste. O número expressivo é, segundo o relatório executivo, reflexo da adoção de políticas de ações afirmativas, de maneira especial com a criação de um programa de ação afirmativa obrigatório, por meio da Lei das Cotas.
“Acho que a importância das cotas é mostrado no resultado desta pesquisa. Não era observada, há alguns anos atrás, a presença de negros na universidade. Então, a criação das cotas e, então, a entrada de negros na universidade, vem contribuindo para a democratização também do perfil racial das universidades brasileiras. Isso tem uma importância fundamental. A maioria da população negra brasileira é pobre. A partir do momento em que esses jovens negros vêm entrando na universidade e tendo o ensino superior, isso possibilita uma melhoria nas condições da vida das suas famílias. Aos poucos, a gente vai também contribuindo para a superação dessa desigualdade econômica entre pretos e brancos na sociedade brasileira”, considera Julvan Moreira, titular da Diretoria de Ações Afirmativas.