Obrigado, onça-pintada!

Por Marcos Araújo

A sexta-feira, 26 de abril, amanheceu diferente. Mais leve e em tom “estampado”! A notícia de que uma onça-pintada havia sido filmada nas cercanias das instalações administrativas do Jardim Botânico da UFJF foi como um respiro diante do peso dos acontecimentos em âmbito nacional! Como eu disse, na ocasião, era a prova de que, apesar dos pesares, a natureza, a seu tempo, mantinha o controle de tudo. Ela jogava na nossa cara que, à revelia do que acontecia na política, se mantinha no poder acima de todos, como mãe suprema, nos mostrando que a esperança jamais deve esmorecer.
Tão logo ficou conhecido, o felino, que hoje sabemos se tratar de um macho, tomou os noticiários, ultrapassando os limites de Juiz Fora. Como um embaixador, que entre suas funções está a de representar o seu país, o animal se tornou um mascote e divulgou o nome da cidade para todo o Brasil. Das bocas maledicentes podia-se ouvir que as capivaras, que sempre ocuparam essa posição com louvor, se retorciam, internamente, de inveja. Todavia, ao serem questionadas sob olhares desconfiados, afirmavam se tratar de uma inveja branca. Até o dominical Fantástico se rendeu ao bichano, e as capivaras engoliram mais essa a seco. A presença delas ficou menos perceptível ao longo das margens do Paraibuna. Preferiram não ofuscar a beleza da pintada!

O fato é que a onça rolezeira, como também ficou conhecida, virou o centro das atenções nos 17 dias em que nos brindou com sua presença. O animal foi visto no Jardim Botânico, foi flagrado na entrada de um hotel às margens do rio (muitos inclusive já solicitam a mudança do nome do estabelecimento para Hotel da Onça), numa ponte perto da rodoviária, na Praça do Bairro Industrial e no estacionamento de uma igreja.
Nas salas de aulas, nos bares, na missa, no culto, nas reuniões de família, nos cafezinhos no horário de trabalho, o animal era assunto, despertando paixões para alguns e impropérios para outros. Teve gente que gritou contra a UFJF sem entender a importância da criação do Jardim Botânico, bradando para o fechamento do espaço. Outros se regozijaram com o aparecimento do bicho que, há pelo anos 80 anos, não era registrado oficialmente nestas terras e torceram para que a universidade cuidasse do caso da melhor forma possível. Foi exatamente o que aconteceu. A onça foi capturada por uma equipe especializada e transferida para um local onde pudesse continuar sua vida sem riscos e sem colocar a das pessoas em perigo.

Além das anedotas, memes, torcidas e reportagens, que legado a onça nos deixa? Acho que, primeiro – e aí digo acho porque não tenho a pretensão nem capacidade de ser absoluto – tudo na natureza está em constante movimento. Dessa forma, considero que nossa sociedade, assim como a natureza, não descansa, e é preciso sempre buscar o progresso. Em tempos tão sombrios e desanimadores, o aparecimento do felino nos prova a incrível capacidade de adaptação e recuperação do meio-ambiente. Esse é um aprendizado que devemos mirar! Por último, enxergo esse episódio como uma lição que a mãe natureza quis nos passar, lembrando-nos da necessidade de sermos mais flexíveis diante das situações que nos são impostas no dia a dia. E sabemos o quanto isso é difícil e, ao mesmo tempo, necessário.

Para terminar, vou mandar um recado para aqueles que ainda criticam a transferência da onça para um ambiente mais seguro, por meio da visão de mundo da minha filha de oito anos: quando ela soube do surgimento do animal poucos dias depois de visitar o Jardim Botânico, a menina ficou superanimada. Quando contei para ela que a onça tinha ido embora para outro lugar a fim de ficar segura, a criança entendeu a mudança e concluiu: “Lá, ela vai ser mais feliz, porque vai encontrar com outros amigos para brincar, né, papai?!”

Marcos Araújo

Marcos Araújo

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