Especialista em doenças fĂșngicas estreia consultoria numa parceria com o Monte Sinai
PUBLIEDITORIAL
Um dos maiores experts em tratamento das complicaçÔes infecciosas de pacientes com cĂąncer hematolĂłgico e receptores de transplantes de medula Ăłssea, o mĂ©dico hematologista e infectologista e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), MĂĄrcio Nucci desembarca em Juiz de Fora para compartilhar seus conhecimentos no planejamento, manejo e protocolos com as equipes do Serviço de Hematologia e Transplante de Medula Ăssea (TMO) do Hospital Monte Sinai, um dos mais avançados e referĂȘncia em Minas Gerais. Com mais de 25 anos dedicados as doenças infecciosas, atuando especialmente na ĂĄrea das infecçÔes fĂșngicas, Nucci tambĂ©m chefiou o LaboratĂłrio de Micologia da UFRJ. Nesta entrevista, o especialista Âexplica como estas infecçÔes, que atingem entre 10% e 20% dos pacientes com cĂąncer hematolĂłgicos e transplantados, podem ser prevenidas e controladas, ampliando o sucesso do tratamento.
Como esta ĂĄrea da medicina surgiu em sua vida profissional?
Sou hematologista e infectologista e a histĂłria das infecçÔes fĂșngicas surgiu por demanda. No inĂcio da dĂ©cada de 1990, depois de um doutorado em Infecto na ItĂĄlia, voltei para minhas atividades de professor de Hematologia da UFRJ. Acabei me aproximando do laboratĂłrio de Micologia, pois as doenças fĂșngicas invasivas sĂŁo grande problema para os pacientes com leucemia e transplantes de medula. Em 1996, assumi o laboratĂłrio e fiquei atĂ© agosto de 2018. Neste perĂodo, expandi minha atuação para alĂ©m do Hematologia, contemplando nĂŁo sĂł complicaçÔes infecciosas nesse cenĂĄrio (bacterianas, virais, fĂșngicas), mas tambĂ©m doença fĂșngica invasiva em outros cenĂĄrios.
O que sĂŁo as infecçÔes fĂșngicas?
As infecçÔes fĂșngicas sĂŁo divididas em dois grandes grupos. O primeiro grupo compreende infecçÔes causadas por fungos que naturalmente habitam o corpo (intestino, boca). Portando, sĂŁo de aquisição endĂłgena na maioria das vezes. O fungo protĂłtipo deste modelo Ă© Candida, que causa a candidĂase oral, o âsapinhoâ da criança, a candidĂase vaginal, frequente na mulher em idade fĂ©rtil, mas que no hospedeiro imunodeprimido pode causar doença sistĂȘmica e fatal. O outro grupo sĂŁo fungos que estĂŁo presentes no ar. Todos nĂłs estamos em contato com esses fungos, inalando suas partĂculas, mas sĂł os pacientes imunodeprimidos adquirem tais infecçÔes.  O agente mais frequente de infecção adquirida de forma exĂłgena Ă© Aspergillus. No ambiente hospitalar um elemento que impacta na frequĂȘncia de infecção por esse agente Ă© qualquer ação que disperse partĂculas no ar, como obras, reparos, construçÔes, demoliçÔes. Ă necessĂĄrio que essas partĂculas nĂŁo cheguem perto dos pacientes de risco. DaĂ o fundamental papel da engenharia clĂnica para proteger o paciente imunodeprimido. O Monte Sinai, por exemplo, dispĂ”e de quartos com filtragem de ar para a segurança do paciente.
E como serĂĄ esta sua parceria com o Hospital Monte Sinai?
Nossa meta Ă© aprimorar os Serviço de Hematologia e TMO a partir de um diagnĂłstico dos recursos disponĂveis no hospital, discussĂŁo de protocolos e rotina com os mĂ©dicos e profissionais do setor e, posteriormente acompanharmos, em tempo real, o dia a dia dos pacientes.
Qual a prevalĂȘncia destas infecçÔes nos pacientes oncohematolĂłgico ?
Em estudo publicado em 2013, avaliamos quase mil pacientes com leucemia aguda e transplante, durante um ano, em hospitais pĂșblicos. Encontramos entre 10% e 20% de complicaçÔes, especialmente em pacientes que realizaram transplante alogĂȘnicos (de um doador).O problema Ă© que estas doenças sĂŁo difĂceis de diagnosticar e podem ser fatais. Por isso, as medidas de prevenção sĂŁo importantes.
As infecçÔes fĂșngicas estĂŁo aumentando?
O tratamento dos pacientes com cĂąncer e, no caso, de cĂąncer hematolĂłgico,estĂĄ avançado, com o desenvolvimento de novos produtos. Pacientes que antes tinham perspectiva pequena de cura ou vida Ăștil, hoje,podem ter acesso a modernos e eficazes medicamentos. Por outro lado, estes medicamentos tĂȘm diferentes efeitos na imunidade. DaĂ importĂąncia dos programas de prevenção, controle, monitoramento, ferramentas para o diagnĂłsticos precoces. A frequĂȘncia aumenta porque estamos promovendo o maior controle da doença de base que Ă© o objetivo primeiro.
Existem os chamados superfungos como as superbactérias?
Fungos e bactĂ©rias sĂŁo diferentes. As bactĂ©rias sĂŁo um ser mais primitivo e os fungos, mais evoluĂdos, mais protegidos. Por serem mais primitivas, as bactĂ©rias trocam material genĂ©tico entre elas, trocam genes de resistĂȘncia e isto causa o surgimento das bactĂ©rias multirresistentes. Os fungos sĂŁo mais âconservadoresâ. O desenvolvimento da resistĂȘncia deles Ă© mais difĂcil, se comparado Ă bactĂ©ria. Entretanto, uma espĂ©cie de Candida, a Candidaauris, Ă© capaz de causar infecção mortal, e apresenta resistĂȘncia a vĂĄrios agentes antifĂșngicos. HĂĄ registro dessa infecção em vĂĄrias partes do mundo, os mais prĂłximos a nĂłs foram descritos na ColĂŽmbia e Venezuela. AlĂ©m da resistĂȘncia a antifĂșngicos, o fungo tem grande potencialde transmissĂŁo dentro do hospital, tal como uma bactĂ©ria multiresistente.
O que Ă© neutropenia febril e quais os riscos dos pacientes neutropĂȘnicos?
Neutropenia Ă© a diminuição do nĂșmero de neutrĂłfilos sanguĂneos, cĂ©lulas de defesa que protegem o organismo contra micro-organismos invasores. Por isso, uma pessoa com neutropenia tem mais chance de ter infecçÔes causadas por bactĂ©rias ou fungos. OsneutrĂłfilos sĂŁo cĂ©lulas produzidas na medula Ăłssea. A produção de neutrĂłfilos Ă© constante, mas o tratamento contra a leucemia, linfomas e ou de transplantes destrĂłi as cĂ©lulas cancerosas e tambĂ©m os neutrĂłfilos. Dependendo do esquema de tratamento do cĂąncer, a neutropenia pode durar um, dez 15 ou mais dias.Quanto maior o tempo, maior o risco de infecção. O primeiro sintoma de infecção Ă© a febre. Portanto, aneutropenia febril Ă© a condição na qual o paciente estĂĄ com neutrĂłfilo baixo e desenvolve uma febre. No paciente neutropĂȘnico uma febre Ă© emergĂȘncia. O atraso no antibiĂłtico pode custar a vida.
Como estå o acesso dos pacientes oncohematológicos aos tratamentos mais avançados?
O acesso Ă© muito relativo. Da mesma forma que estamos empolgados com as novas drogas que estĂŁo chegando para o tratamento de cĂąncer e de cĂąncer hematolĂłgico, os preços ainda sĂŁo muito altos o que dificulta o acesso. HĂĄ todo um processo que passa inclusive pela judicialização, atĂ© que o medicamento venha a ser oferecido no sistema pĂșblico.Ă um desafio. Os mĂ©dicos que trabalham com Oncologia usam muito tempo para buscar soluçÔes para que o paciente tenha acesso ao remĂ©dio.