Restrição de visitas diárias do Parque do Ibitipoca impacta turismo
Unidade de conservação recebe, atualmente, 600 visitantes diários; turistas têm enfrentado grandes filas
Quase dois meses após o fim do prazo dado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) ao Instituto Estadual de Florestas (IEF) para implementar medidas no Parque Estadual do Ibitipoca, a situação na unidade de conservação continua a mesma. Desde 17 de maio de 2018, a visitação à unidade está restrita a 600 pessoas por dia — metade da quantidade anteriormente permitida. O termo de acordo firmado entre os dois órgãos previa reavaliação do número em 180 dias — prazo encerrado em novembro. A medida vem provocando queixas de turistas, moradores e pessoas que sobrevivem do turismo local. Apesar de reconhecerem a necessidade de proteção do parque, muitos cobram mais transparência e uma ação efetiva do IEF.
A comunidade do arraial de Conceição de Ibitipoca enfrenta distintas realidades dada a restrição imposta. Ao passo que guias locais conduzem passeios no entorno da unidade de preservação devido ao esgotamento de bilhetes, comerciantes lidam com a redução de turistas no vilarejo. “Às vezes, os turistas acordam de madrugada, vão para o parque às 5h, encaram a fila, mas não entram. Os funcionários contam as 600 pessoas na fila. Muitos não conseguem entrar e saem revoltados”, relata um guia turístico local que preferiu não se identificar. As dificuldades aconteceram, por exemplo, no Réveillon.
O guia reclama da falta de divulgação sobre o limite de visitas diárias. “O que deixa a desejar também é que muitos não informam aos clientes a redução do número de entradas. Muitos turistas não sabem. Vão ao parque sem saber. O principal atrativo de Ibitipoca é o parque.” Ainda que crítico à desorganização, o guia defende a preservação da fauna e da flora. “Não adianta colocar 1.200 pessoas no parque e o impacto (ambiental) ser muito grande. Do jeito que estava, as visitas causavam danos ao parque. E muitos não entendem esse lado; visam somente ao lado financeiro.”
A comerciante Danielle Arruda reclama da desinformação sobre a capacidade de visitas diárias na unidade de conservação. “No parque, por exemplo, não há nenhuma orientação. Ninguém sabe por que o limite é de 600 visitas. Algumas pessoas da vila também não sabem.” Embora a demanda por entradas para o parque siga alta, a movimentação de turistas no arraial sofreu redução, como observa Danielle. “A movimentação continua, mas não da mesma maneira; diminuiu nos finais de semana, mas nos dias de semana, caiu muito.” Antes chefe de quatro funcionários, Danielle tem, agora, dois. “A restrição levou a demissões, porque muitos não conseguiam manter a mesma condição de antes.”
Turistas que excedem o número delimitado têm encontrado em trilhas no entorno da unidade de conservação a alternativa para passeios junto aos guias turísticos. “Normalmente, 200 pessoas ficam de fora do parque em feriados, por exemplo. Como trabalhamos com passeios alternativos, exploramos mais o entorno para tentar suprir a limitação do parque”, explica o guia turístico que prefere não se identificar. “Para o entorno, (a limitação de visitas) foi boa; gera renda, emprego etc. Respinga no entorno. Foi boa para a região. Mas, para o parque, para empresários, para nós, guias, foi ruim.”
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Medidas pendentes
Conforme o IEF, nova readequação do número de visitas depende de estudos a serem avaliados pelo Ministério Público, como o diagnóstico completo dos danos ambientais existentes. O documento foi “elaborado pelo próprio IEF e encaminhado ao órgão na segunda semana de dezembro”. Outro estudo que vai subsidiar a decisão é sobre a capacidade de carga do parque, “elaborado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e que também deverá ser encaminhado ao MPMG”, que não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Dentre as medidas determinadas pelo Ministério Público ao IEF, estão também a implementação de sistema eletrônico de venda de ingressos na portaria do parque, com a respectiva cancela eletrônica integrada ao sistema, e a implementação do sistema de venda de ingressos on-line, cujo prazo para vigência é maior — 360 dias.
Conforme o guia turístico, sobre a cancela eletrônica, a situação “está do mesmo jeito”. Segundo o IEF, “a implantação está sendo avaliada e, após análise dos estudos especificados acima, o órgão tomará as medidas para implantação no prazo estabelecido”. Ambas as medidas tornam mais rígido o controle sobre o contingente de visitas diárias recebidas pelo Parque Estadual do Ibitipoca.
Acordo
Em portaria publicada pela então Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o Instituto Estadual de Florestas (IEF) — responsável pela administração do parque — instituiu o limite de 600 visitas diárias, após termo de acordo firmado com o MPMG, número anteriormente fixado em 1.200. Dentre as considerações elencadas, destaca-se o objetivo básico das unidades de conservação, isto é, “a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas (…), o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação (…) e de turismo ecológico”.