Festival de Fotografia reĂșne nove mostras locais e nacionais em JF
Organizado pelo coletivo JF Fotogråfico, primeira edição do Festival de Fotografia de Juiz de Fora tem abertura nesta quarta-feira (21), com debates e oficinas
AtĂ© ficamos com aquela vontade de incorporar o Rogerinho do IngĂĄ do “Choque de Cultura” e dizer: “Achou que nĂŁo ia ter festival de fotografia? Achou, errado, otĂĄrio!”, mas nĂŁo somos assim. NĂłs fazemos diferente. Mais ou menos assim:
Desde 2011, Juiz de Fora acostumou-se, no final do ano, a ter uma edição do JF Foto, evento que se tornou referĂȘncia na cidade pela divulgação do trabalho de centenas de artistas. Este ano, porĂ©m, por conta da crise econĂŽmica, a Prefeitura, por meio da Funalfa, teve de cancelar o JF Foto 18. AĂ foi a vez de o coletivo JF FotogrĂĄfico, que reĂșne mais de 300 apaixonados pela fotografia, correr atrĂĄs para o calendĂĄrio nĂŁo ficar com este vazio. O resultado Ă© a primeira edição do Festival de Fotografia de Juiz de Fora, que terĂĄ sua abertura nesta quarta-feira (21), no Museu FerroviĂĄrio e no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM), e permanecerĂĄ em cartaz atĂ© 22 de dezembro.
O evento reĂșne trabalhos de mais de 90 artistas de Juiz de Fora e diversas partes do paĂs, em nove exposiçÔes – oito no CCBM, uma no Museu FerroviĂĄrio. Todas, de visitação gratuita. AlĂ©m das mostras, o festival tambĂ©m oferece outras atividades, como oficinas, mesa-redonda e exibição de curta. Nesta quarta, as primeiras atividades tĂȘm inĂcio Ă s 17h30, no Museu FerroviĂĄrio, com a abertura da exposição “Sobre a impermanĂȘncia do ser”, de Thiago Britto, seguida pela roda de conversa “A fotografia contemporĂąnea”, Ă s 18h, que terĂĄ mediação de Nina Mello. JĂĄ no CCBM, a abertura das exposiçÔes estĂĄ marcada para as 20h, alĂ©m da foto-performance “Xiis – O sorriso da cidade”, de Wagner Emerich, com participação do pĂșblico.
Dois dos responsĂĄveis pela organização do Festival de Fotografia de Juiz de Fora sĂŁo Eridan LeĂŁo e SĂ©rgio Neumann, que participam do coletivo. Segundo eles, o festival Ă© um desdobramento do Varal FotogrĂĄfico, evento mensal promovido pelo grupo desde meados do ano e que este mĂȘs aconteceu no Ășltimo dia 17 e serviu de “aquecimento”. De acordo com a dupla, eles tiveram cerca de 45 dias para organizar todo o festival apĂłs o anĂșncio, em uma das reuniĂ”es do Conselho de Cultura, de que o JF Foto 18 nĂŁo aconteceria por questĂ”es financeiras.
Com a aprovação da maioria, foi questĂŁo de colocar mĂŁos Ă obra, como lembra Eridan. “A Prefeitura nĂŁo tinha como ajudar financeiramente, mas apoiou com a cessĂŁo dos espaços, pessoal para montagem das exposiçÔes, divulgação e elaboração das artes grĂĄficas. A prĂł-reitoria de Cultura da UFJF tambĂ©m ajudou, inclusive com o pagamento das diĂĄrias dos convidados, que nĂŁo vĂŁo cobrar pelas oficinas. Procuramos ainda outros parceiros, e aos poucos fomos montando tudo.”
Diversidade
Ainda que o tempo fosse escasso, o coletivo conseguiu montar nove mostras para o festival, com as curadorias divididas entre alguns fotĂłgrafos. Duas delas reĂșnem trabalhos de dois jovens artistas da cidade, Thiago Britto e JoĂŁo Victor Medeiros. JĂĄ “Virtudes virtuais” apresenta trabalhos de 58 fotĂłgrafos de diversos estados do paĂs, que integram um coletivo virtual. “Altiplano andino” mostra fotografias do Deserto do Atacama de trĂȘs fotĂłgrafos de renome nacional (Jober Costa, Danilo Moscon e Roberto Soares Gomes) feitas em tempos e locais distintos. Com curadoria de Nina Mello, “A fotografia em diĂĄlogo com seu tempo” apresenta trabalhos de diversos artistas tendo como foco a fotografia contemporĂąnea, porĂ©m com linguagens diferentes. “As cores de Santana”, de Gustavo Stephan, mostra a ocupação do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na Fazenda Fortaleza de Santana, em GoianĂĄ. Ligadas Ă religiosidade, as mostras “FĂ©” (MĂĄrio Aquino) e “Romaria” (vĂĄrios artistas) podem ser conferidas na mesma galeria. Por fim, “Rubros” tem trabalhos de carĂĄter documental de nomes como Evandro Teixeira, Stela Martins, CustĂłdio Coimbra, MĂĄrcio Menasce, entre outros.
“Procuramos dividir as mostras por temas, como a fotografia contemporĂąnea, documental, sobre religiosidade e fĂ©”, explica Eridan. “Assim temos, ao mesmo tempo, esses grandes fotĂłgrafos, que sĂŁo referĂȘncia, e uma nova geração inspirada neles, como o Thiago Britto e o JoĂŁo Victor Medeiros, com uma visĂŁo perifĂ©rica da fotografia, focada na realidade em que vivem.”
Debates e oficinas
Por conta de todas as dificuldades, Eridan define o Festival de Fotografia de Juiz de Fora como um “evento pocket com programação consistente”. Isso se deve, alĂ©m dos trabalhos reunidos, pelos outros eventos que estĂŁo incluĂdos na programação. Entre eles estĂĄ a roda de conversa sobre fotografia contemporĂąnea que acontece logo apĂłs a abertura, no Museu FerroviĂĄrio, com Ana Rodrigues, JĂșlia Milward e Simone Rodrigues, artistas vistas por ela com trabalhos de conceitos diversos mas que se tocam no que diz respeito Ă contemporaneidade fotogrĂĄfica. Mais alĂ©m, em 10 de dezembro, estĂĄ agendada para as 19h, no Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), a exibição do curta “Transformar os silĂȘncios”, produzido pelo Coletivo Movimento FotĂłgrafas Brasileiras. Na sequĂȘncia, a mesa-redonda “Fotografia, arte e eduCAção”, em que se discutirĂĄ a fotografia como ferramenta pedagĂłgica.
Mas sĂŁo outros dois eventos que mais animam Eridan LeĂŁo: as oficinas de fotografia, cujas inscriçÔes podem ser feitas na Funalfa. Uma delas Ă© “Oficina de Papel Salgado”, com a professora da UFJF BĂĄrbara Almeida, que acontece no dia 28 no Mamm. A outra Ă© a “Oficina, periferia e memĂłria”, entre os dias 8 e 11 de dezembro na Escola Municipal Santa CĂąndida, no bairro Santa CĂąndida, com Dante Gastaldoni. “O Dante fez esse trabalho por 13 anos na Favela da MarĂ©, no Rio de Janeiro. Ele esteve aqui no ano passado, para o Foto JF 17, e por conta de um convite da (professora e lĂder comunitĂĄria) Adenilde Petrina assistiu a um evento de hip-hop. O encanto foi tanto que o Dante falou que queria fazer uma oficina de fotografia no bairro, o que vai acontecer (no prĂłximo mĂȘs)”, conta. “Quanto Ă BĂĄrbara, descobrimos que ela Ă© professora de quĂmica e tem um trabalho interessante, pois dĂĄ suas aulas por meio da fotografia.”
Mantendo o foco
“Ă importante ressaltar a importĂąncia do Toninho Dutra (ex-superintendente da Funalfa) na criação do JF Foto, pois alĂ©m das exposiçÔes ajudou a regatar e valorizar o acervo fotogrĂĄfico de Juiz de Fora, e no prĂłprio ‘boom’ da fotografia desde entĂŁo”, destaca SĂ©rgio Neumann. “Ainda falta muito, mas o prĂłprio coletivo, o festival, sĂŁo resultados disso. NĂŁo podemos interromper esse processo”, acrescenta Eridan LeĂŁo.
Festival de Fotografia de Juiz de Fora
Abertura nesta quarta-feira (21), Ă s 17h30, no Museu FerroviĂĄrio, e 20h30, no CCBM. De terça a sexta-feira, das 9h Ă s 21h, e sĂĄbados e domingos das 10h Ă s 18h, no CCBM (Avenida GetĂșlio Vargas 200). 3690-7051. Segunda a sexta-feira, das 9h Ă s 17h, no Museu FerroviĂĄrio (Avenida Brasil 2.001 – Centro). 3690-7055. AtĂ© 22 de dezembro.