Nova CBR1000 RR Fireblade perde peso e ganha potĂȘncia
Na linha conceitual da marca, ela perdeu 15 kg e ganhou 11 cv
De forma bem pragmĂĄtica, a Honda sempre deu preferĂȘncia Ă eficiĂȘncia. E o caso da CBR1000 RR Fireblade Ă© exemplar. Por anos, as superesportivas rivais buscavam ganhar esportividade com o intensivo uso da eletrĂŽnica ou com o puro aumento da potĂȘncia, enquanto a fabricante japonesa se mantinha fiel ao conceito de redução de peso e melhora da ciclĂstica para incrementar a performance. Foi assim atĂ© onde deu. A nova geração da CBR1000 RR nĂŁo conseguiu mais resistir Ă eletrĂŽnica. Ainda assim, a fabricante nĂŁo abrir mĂŁo da leveza e do equilĂbrio dinĂąmico. Diversos conjuntos ciclĂsticos e mecĂąnicos sĂŁo derivados do modelo RC213V-S, versĂŁo de rua do bĂłlido da MotoGP RC213.
Esta nova geração da CBR1000 RR foi mostrada no ano passado, no SalĂŁo Duas Rodas, e teve apenas 25 unidades da linha 2017 vendidas no Brasil, na versĂŁo que comemorou os 25 anos da Fireblade, iniciada em 1992 com o modelo CBR900 RR. E traz diversas mudanças significativas. Na linha conceitual da marca, ela perdeu 15 kg e ganhou 11 cv. Tem agora exatos 191,7 cv a 13 mil rpm, com 11,82 kgfm de torque a 11 mil giros, para empurrar 196 kg em ordem de marcha – 178 kg a seco. A relação de 1,022 kg/cv Ă© 14% melhor que a antiga versĂŁo.
Para chegar aos 15 kg de redução, a Honda fez o que pĂŽde. No motor, perdeu 2 kg com a troca do material do cabeçote e das tampas laterais e do cĂĄrter por magnĂ©sio, diminuição da espessura das peças internas ocas – como eixo de comando – e atĂ© a redução do comprimento dos parafusos. O radiador tambĂ©m diminuiu de tamanho. Nesse sentido, o escapamento agora Ă© em titĂąnio, o subchassi Ă© em alumĂnio, as travessas do quadro foram estreitadas, as rodas passaram de seis para cinco raios e as pinças de freio foram redesenhadas. Com toda esta redução de peso e centralização de massa, a motocicleta ficou naturalmente mais maneĂĄvel.
A versĂŁo SP, de Sport Package, ainda tem outros truques. O tanque de combustĂvel Ă© de feito em titĂąnio e a bateria Ă© de Ăon de lĂtio. Se ficasse por isso mesmo, ela acabaria 4 kg mais leve. Acontece que ela recebe alguns recursos a mais, que acabam reduzindo a diferença para apenas 1 kg. Caso da suspensĂŁo semi-ativa, dos freios especiais da Brembo e do sistema quickshift, para troca de marchas, sem o acionamento manual da embreagem.
A Fireblade “normal” tem freios Tokico e bateria tradicional de chumbo. No mais, recebe todo o pacote tecnolĂłgico apresentado pela versĂŁo SP. Para começar, tem acelerador eletrĂŽnico, para fazer a interação imediata entre piloto e motocicleta. Toda a dinĂąmica da moto Ă© controla por uma unidade de medição de inĂ©rcia, uma espĂ©cie de giroscĂłpio sofisticado que mede os movimentos laterais, horizontais e verticais da motocicleta. Ă a partir dessa leitura que o controle de tração e o ABS com controle de elevação da roda dianteira dosam sua ação. A motocicleta traz cinco modos de pilotagem, sendo trĂȘs deles prĂ©-configurados e dois personalizĂĄveis, a partir do controle da potĂȘncia, do torque e do freio motor. O controle de potĂȘncia tem cinco nĂveis, o de torque tem 10 e o freio motor, trĂȘs. Dependendo do acerto do piloto, a Fireblade pode ficar praticamente analĂłgica.
AlĂ©m de ganhar eletrĂŽnica e perder peso, a superesportiva ficou mais potente, mesmo que o motor tenha se mantido conceitualmente o mesmo. Um dos elementos que ajudaram nesta evolução foi o aumento do volume de ar para o motor. O diĂąmetro das quatro borboletas ficaram com 48 mm, ou 2 mm maiores e o fluxo na caixa do filtro de ar foi melhorado. Com o aumento da capacidade de captar oxigĂȘnio, foi introduzido um segundo injetor de combustĂvel, que Ă© acionado a partir de 4.500 rpm. A taxa de compressĂŁo foi aumentada de 12,3:1 para 13,0:1, o comando ficou mais agressivo – com uma abertura maior das vĂĄlvulas – e todas as peças mĂłveis foram redesenhadas, para liberar o motor para girar mais e finalmente ganhar os 11 cv adicionais. A potĂȘncia mĂĄxima de 191,7 rpm agora surge aos 13 mil giros, contra os 180,8 cv a 12.250 rpm da antecessora. Para completar, a saĂda de gazes foi incrementada com um escapamento ativo, que permite um fluxo maior em giros mais altos e deixa o motor libre para trabalhar.
AlĂ©m de ser agressiva na concepção de sua nova superesportiva, a Honda resolveu forçar tambĂ©m no preço. A nova Fireblade estĂĄ sendo oferecida por R$ 69.900 na versĂŁo bĂĄsica e R$ 79.900 na Sport Package. SĂŁo valores menores que o praticados por rivais como Kawasaki Ninja ZX10 RR, BMW S1000 RR. Ainda assim, as expectativas de vendas nĂŁo sĂŁo grandiosas. AtĂ© porque o segmento de superesportivas estĂĄ em franco declĂnio no Brasil. JĂĄ representou 12% do mercado de moto acima de 450 cc e hoje estĂĄ em 8%. E as 300 unidades que a Honda pretende vender da CBR1000 RR este ano devem representar 21,4% do segmento, projetado para 1.400 emplacamentos em 2018.
Primeiras ImpressÔes
A CBR1000 RR nĂŁo esconde suas intençÔes. Os farĂłis bipartidos dĂŁo um ar selvagem que Ă© confirmado logo no acionamento do motor, com um ronco estridente e nervoso. Mas toda esta agressividade da Fireblade Ă© controlada por um sem nĂșmero de recursos eletrĂŽnicos, que acabam fazendo com que fique bastante dĂłcil para o piloto. Na prĂĄtica: Ă© quase impossĂvel passar de segunda para terceira marchas prĂłximo ao limite de giros – quando o motor cai na faixa de torque mĂĄximo – sem que a roda dianteira tente sair do chĂŁo. Ela atĂ© sai, mas volta de forma suave, por conta do controle de elevação do ABS. E esta tendĂȘncia fica ainda mais acentuada na versĂŁo SP, que tem o recurso do quickshift, onde a troca de marcha Ă© feita com o punho torcido e sem usar o manete de embreagem.
A interação entre piloto e mĂĄquina ocorre quase naturalmente. A posição de pilotagem Ă© agradĂĄvel tanto para o uso menos agressivo, com o tronco mais elevado, quanto para momentos de maior exigĂȘncia de esportividade, quando se deita sobre o tanque. Nas curvas, a Fireblade se mostra dĂłcil. Ela deita facilmente com um leve contra-esterço e Ă© fĂĄcil manter a trajetĂłria em todo o contorno. Os comandos mais Ăłbvios, como freio, acelerador, embreagem, setas, buzina, etc, sĂŁo todos bons de usar. Mas acertos mais pormenorizados, como os ajustes dos controles eletrĂŽnicos, sĂŁo mais complicados.
No autĂłdromo do Velo CittĂĄ, em Mogi-Guaçu, a Fireblade estava em casa. Pisa lisa, sem ondulaçÔes, curvas bem-desenhadas e nĂveis de aderĂȘncia altos para os pneus. Sem maiores distraçÔes, dĂĄ para averiguar as diferença entre os diversos mapeamentos disponĂveis. Na configuração mais branda, a rapidez de resposta dos sistemas eletrĂŽnicos Ă© maior. Em outro extremo, a CBR parece nem ter sistemas de auxĂlio Ă condução. Pode-se, por exemplo, quase eliminar o freio motor e aproximar seu comportamento ao de um motocicleta com motor dois tempos. Pode ter um alto nĂvel de rigidez de suspensĂŁo, o uso no dia a dia da CBR1000 RR Ă© previsivelmente cansativo. A Fireblade precisa de asfalto liso e pista livre para exibir o que tem de melhor.
Ficha técnica
Honda CBR1000 RR
Motor: A gasolina, quatro tempos, quatro cilindros em linha, quatro vĂĄlvulas por cilindro, 998,8 cmÂł, duplo comando no cabeçote e arrefecimento lĂquido. Injeção multiponto com injetor duplo e acelerador eletrĂŽnico. Configuração eletrĂŽnica de potĂȘncia, torque e freio motor
CĂąmbio: Manual de seis marchas com transmissĂŁo final por corrente. Sistema quickshift, que permite trocar sem o acionamento manual da embreagem, na versĂŁo SP
PotĂȘncia mĂĄxima: 191,7 cv a 13 mil rpm
Torque mĂĄximo: 11,82 kgfm a 11 mil rpm
DiĂąmetro e curso: 76,0 mm x 55,1 mm
Taxa de compressĂŁo: 13,0:1
SuspensĂŁo: Dianteira com garfo telescĂłpico Showa invertido com ajuste na prĂ©-carga da mola e 120 mm de curso. Traseira com braço oscilante Pro Link com amortecedor Showa e 120 mm de curso e controle de prĂ©-carga e retorno. SuspensĂŁo semi-ativa Ăhlins na versĂŁo SP.
Pneus: 120/70 R17 na frente e 190/50 R17 atrĂĄs
Freios: Disco de 320 mm na frente e disco de 220 mm atrĂĄs com ABS com controle de wheellie
DimensÔes: 2,07 metros de comprimento total, 0,72 m de largura, 1,41 m de distùncia entre-eixos e 0,83 m de altura do assento
Peso seco: 178 kg a seco e196 kg em ordem de marcha (177 kg e 195 kg na versĂŁo SP)
Tanque do combustĂvel: 16,1 litros
Produção: Manaus, Brasil
Lançamento: 2017
Preços: R$ 69.900 e R$ 79.900 na versão SP