Buracos se multiplicam com as chuvas
De acordo com a Empav, seriam necessários cerca de R$ 600 milhões para recuperar todo o pavimento de JF; operações tapa-buracos podem custar mais de R$ 14 mil/dia
Todos os anos a situação se repete. Após dias consecutivos de chuvas, a pavimentação de Juiz de Fora, que é antiga e carece de manutenção, expõe sua fragilidade diante do número crescente de novos buracos. Em corredores de tráfego, onde o movimento de veículos é grande, a falha estrutural representa não apenas desconforto para motoristas, motociclistas e pedestres, mas também perigo e prejuízos. Embora as operações tapa-buracos ocorram de forma intensificada nesta época do ano, o serviço é considerado paliativo se comparado à necessidade de recuperação de todo o pavimento. No entanto, uma atividade como esta, em todo o perímetro urbano, custaria, de acordo com a Empav, aproximadamente R$ 600 milhões.
O valor expressivo está longe de ser amortecido com os recursos que a Prefeitura tem conquistado, por meio de emendas parlamentares e outros convênios com o Governo federal. Levantamento da Tribuna aponta que existem atualmente nove contratos em aberto para a obtenção desta verba, totalizando R$ 4.087.452,22, além de outros relacionados à Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas de Minas Gerais (Setop) e ainda financiamentos próprios. Nos últimos dias, a reportagem percorreu alguns bairros da cidade, além do Centro, para identificar a situação do pavimento após o período chuvoso. A necessidade de recuperação do asfalto é flagrante em todas as regiões, tamanho o número de remendos causados por operações tapa-buracos anteriores, associados, ainda, a atividades emergenciais da Cesama. Mas as erosões, muitas delas profundas, surpreendem em vários pontos. Na Rua Benjamin Constant, na interseção com a Rua Santo Antônio, por exemplo, o buraco está em cima da curva, impedindo qualquer reação do condutor. Situação semelhante foi observada em vários pontos da Avenida Olegário Maciel, entre os bairros Santa Helena e Paineiras; na Rua Mamoré, Bairro São Mateus, Zona Sul; Rua Henrique Dias, Benfica, Zona Norte; Rua José Lourenço, Bairro São Pedro, Cidade Alta; e Rua Diva Garcia, no Linhares, região Sudeste
“Adianta não. Fecham o buraco e, no dia seguinte, já são dois. Precisa quebrar tudo e fazer de novo”, disse um motorista que passou pelo carro da reportagem, no Bairro Santa Helena. “Pagamos os nossos impostos para ter este asfalto. Isso não é favor, deveria ser obrigação. Além do IPVA, depois temos que pagar o conserto do carro, o que não é barato”, lamentou o vendedor Flávio Salgueiro, 33 anos, ao passar pelo Bairro Democrata, onde até a segunda-feira havia um buraco na interseção das ruas Professora Violeta Santos com Benjamin Guimarães.
R$ 4 milhões
De acordo com o Portal de Convênios do Governo federal, o Siconv, o município possui nove contratos de repasses de recursos em aberto para obras de recuperação do pavimento. Os três mais antigos, de novembro de 2014, vencem em 2019, enquanto o mais recente, de dezembro do ano passado, pode terminar apenas em 2021. Os contratos totalizam R$ 4.087.452,22, e, de acordo com o diretor-técnico da Empav, Renê Vieira, os repasses estão sendo feitos gradativamente, mediante o vencimento de todos os trâmites burocráticos, como a elaboração dos projetos, análise técnica, aprovação dos documentos no banco até a liberação da verba pela União.
Empav chega a usar 40 toneladas de asfalto/dia
O paradoxo vivido durante o período chuvoso é o principal desafio da Empav. Afinal, trata-se de uma época em que a demanda pelos serviços de tapa-buracos aumenta, ao mesmo tempo em que as operações de recuperação são condicionadas à situação climatológica. Ou seja, quando chove os buracos não podem ser fechados pela massa asfáltica, salvo em situações extremas. Em dias considerados regulares, quatro equipes despejam, diariamente, cerca de 40 toneladas de asfalto para fechar os buracos em todas as regiões da cidade, sendo que cada tonelada custa aos cofres públicos cerca de R$ 360. “Vou dar um exemplo: na semana passada, tivemos poucas oportunidades para trabalhar. Para o fim dela, e início desta, já conseguimos atuar em várias frentes, e a população já começa a sentir a diferença”, disse o diretor-técnico da Empav, Renê Vieira.
“Adianta não. Fecham o buraco e, no dia seguinte, já são dois. Precisa quebrar tudo e fazer de novo”, disse um motorista que passou pelo carro da reportagem, no Bairro Santa Helena.
Segundo ele, a demanda é muito grande, e por isso os serviços não são feitos na mesmo velocidade em que os buracos aparecem. Para dar dimensão da demanda, Renê cita que o município é composto por cerca de 200 bairros, portanto, bastava apenas uma operação em cada bairro para ter 200 serviços a serem concluídos.
Recuperação do pavimento
Em outra frente, a Empav promove trabalhos de recuperação do asfalto. Neste caso, a Prefeitura tem dado prioridade aos corredores de tráfego e às vias de ligação, por poder atender o maior número de moradores com o investimento obtido. Foram com estes recursos que, recentemente, por exemplo, a Empav atuou no recapeamento de vias dos bairros Vale do Ipê, Benfica, e Poço Rico, este último ainda em andamento. Conforme Renê, já são mais de R$ 30 milhões investidos nos últimos anos, e existe uma expectativa de um montante volumoso de recursos para o próximo ano, por meio de atuações políticas em andamento pelo prefeito.
Além do buraco, as erosões
O período chuvoso evidencia dois problemas distintos na malha viária. O primeiro são os buracos, resultado da infiltração da água na base da via e o enfraquecimento do asfalto antigo, até a sua deterioração. O segundo é a erosão, como a que causou o fechamento da Rua Espírito Santo, entre a Avenida Olegário Maciel e a Rua Espírito Santo, do início da manhã até as 14h desta terça-feira (12). Neste caso, a cratera formada é resultado do rompimento de rede (no caso mais recente, a de captação pluvial). Segundo explica o diretor-técnico da Empav, Renê Vieira, resultado do grande volume de chuvas e das ligações irregulares de esgoto, das casas, na rede de captação das chuvas, causando uma sobrecarga. “Com a topografia acentuada da cidade, o rompimento embaixo da terra acaba levando todo este sedimento, até formar aquele oco. É uma erosão que cresce de baixo para cima.”
O caso da Espírito Santo deixou o trânsito lento na área central do município, principalmente durante a manhã. De acordo com informações do aplicativo Waze, o tráfego na Olegário Maciel, entre as ruas Monsenhor Nogueira e Halfeld, pouco antes das 10h, chegou a ficar com velocidade média de 11 km/h.
Segundo moradores relataram, a erosão surgiu no início da manhã de segunda (11). Para evitar maiores danos, eles sinalizaram o local a fim de evitar o alto fluxo de veículos nas proximidades. Depois, o próprio poder público reforçou a sinalização diante do risco no trecho.