Ode ao ofício do artista


Por Renata Delage

17/10/2013 às 07h00

Emílio Orciollo Neto vivencia seis desabafos no palco do Central

Emílio Orciollo Neto vivencia seis desabafos no palco do Central

"Quando se está sozinho no palco, não há para onde fugir, não dá para enganar", constata Emílio Orciollo Neto, definindo o espetáculo "Também queria te dizer – cartas masculinas" como um dos trabalhos mais desafiadores em seus 23 anos de carreira. O primeiro monólogo do ator terá única apresentação em Juiz de Fora nesta sexta, às 21h, no Cine-Theatro Central.

"Procuro me lançar no trabalho da forma mais intensa. Sou muito crítico, cobro muito de mim mesmo", diz, em entrevista por telefone à Tribuna, em meio aos intervalos de gravação da novela "Amor à vida", na qual interpreta o bon vivant Murilo. "O personagem vai ter uma virada bem bacana na trama. Ele começa a trabalhar como professor de etiqueta e oratória da Valdirene (Tatá Werneck), e será bem engraçado", conta.

O texto do espetáculo – que estreou no fim do último ano e teve temporada de sucesso no Rio de Janeiro – é uma compilação de cartas do livro "Tudo que eu queria te dizer", da escritora gaúcha Martha Medeiros, que ultrapassou a marca das cem mil cópias vendidas. Com direção de Victor Garcia Peralta, a peça conta a história de um artista plástico que faz uma instalação usando cartas e se permite viver a vida dos remetentes de algumas delas, narrando seus desabafos. "É um trabalho delicado, artesanal. O público se emociona, se diverte, sai do teatro refletindo sobre questões da vida prática, do dia a dia do ser humano", diz Orciollo.

São seis depoimentos, vividos em primeira pessoa, de homens entre 18 e 70 anos. Com humor e sensibilidade, são abordados medos, mágoas, revoltas, alegrias e tristezas em situações nas quais emergem culpa, traição, tragédias pessoais, preferências sexuais. "Há uma humanização muito grande do texto, a todo tempo contemporâneo e pertinente. É impossível não se identificar com uma das cartas ou não conhecer alguém que já tenha passado pelo que está sendo dito", observa o ator, que no fim de cada sessão se dispõe a participar de um bate-papo com a plateia. "Respondo a perguntas, ouço críticas, elogios. Esse momento tem sido muito importante."

 

"Sou um eterno observador"

Em cena, o processo de criação vem à tona vertiginosamente, já que os personagens são vividos sem recursos de maquiagem ou troca de figurinos e adereços. O caminho toca no sensível trabalho do ator e em todas as suas possibilidades de atuação, utilizando somente as primordiais ferramentas de corpo e voz. Mas ao mergulhar de maneira profunda na alma humana em cena, o ator mergulha também em sua alma de artista. "Como artista, busco a transcendência. Às vezes, consigo, às vezes, não", diz.

"Você goste ou não do trabalho, o artista tem que continuar desenvolvendo a sua arte. Nesse universo poético, é tudo muito pessoal, mas a arte é universal", reflete o ator comparando seu ofício ao do desenvolvido na trama pelo artista plástico em sua instalação. "As cartas que chamam sua atenção são vivenciadas. E são todas muito interessantes e tocam em um determinado momento ou lugar da minha vida."

O que é absorvido pelo ator em todos os anos de interpretação e vivência de vidas alheias, é, segundo Orciollo, uma mistura de tudo. "Você acaba absorvendo um pouco de tudo, mas, com o tempo, aprende que não pode levar esses personagens e seus dramas para a casa, para a cama, porque senão você enlouquece. Passa a fazer tudo de uma forma mais técnica, sem se machucar, mas sem perder a intenção", avalia. "O ator tem um trabalho de observação do comportamento humano constante no seu dia a dia. Eu procuro fazer isso e colocar nos meus personagens. Sou um eterno observador."

Dedicando-se à atuação desde os 15 anos, Orciollo assina diversos trabalhos na TV, no cinema e no palco. "O teatro é a casa de todo ator. Você se recicla, escuta coisas diferentes, cada praça tem uma pegada. Mas amo todos os meios, gosto mesmo é de bons personagens e trabalhos interessantes."

Além de se dedicar à turnê do espetáculo e às gravações da novela, o ator está em cena no longa "O inventor de sonhos", dirigido por Ricardo Nauenberg, que acaba de estrear nos cinemas do país e se passa na época da chegada da família real ao Brasil. "Vem muito trabalho bacana por aí", diz o ator. Em fevereiro, Orciollo também integra o elenco dirigido por Caio Sóh no filme "Por trás do céu".

 

TAMBÉM QUERIA TE DIZER

Sexta, às 21h

Cine-Theatro Central

3215-1400

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