STF, AĆ©cio e Temer
Wilimar Maximiano Pereira
Colaborador
LamentĆ”vel e inexplicĆ”vel a atitude da ministra CĆ”rmen LĆŗcia ao aliar-se Ć banda podre do STF no julgamento das medidas cautelares impostas a parlamentares. De Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Marco AurĆ©lio e Alexandre de Moraes (este Ćŗltimo pau-mandado de Michel Temer) nĆ£o se esperava outra coisa, uma vez que sĆ£o notĆ³rios defensores de criminosos de colarinho-branco.
Dias antes do julgamento, CĆ”rmen LĆŗcia reuniu-se com EunĆcio de Oliveira, costurando com ele um acordo para acalmar o Senado e tambĆ©m nĆ£o ir muito de encontro ao voto do relator Edson Fachin, pois o empate de 5 a 5 na votaĆ§Ć£o era previsto e jĆ” sabido por ela, a quem coube o voto de minerva, transformando outra vez a Corte maior do paĆs num “supreminho”. Seu voto foi tĆ£o ambĆguo que ela nĆ£o conseguiu traduzi-lo para expediĆ§Ć£o do acĆ³rdĆ£o, tendo que recorrer a Lewandowski e Celso de Mello para a devida traduĆ§Ć£o do que queria dizer. Demonstrou a inseguranƧa de um advogado neĆ³fito na sua primeira defesa perante um tribunal. Que pena. Mais uma vez, a ministra mancha sua biografia.
A primeira foi por ocasiĆ£o do julgamento do maior cĆ¢ncer da polĆtica atual, Renan Calheiros (com licenƧa de Sarney, Maluf, Romero JucĆ”, Collor de Melo, Temer e Lula), quando este pĆ“de permanecer na presidĆŖncia do Senado, apĆ³s ter desobedecido acintosamente medida do Supremo para se afastar do cargo. Mais uma vez, o STF se apequenou diante do Congresso Nacional, decepcionando a maioria honesta do povo brasileiro. Afinal de contas, as leis sĆ£o feitas pelo Poder Legislativo para serem cumpridas, e o Supremo deve dar a palavra final no seu cumprimento. Qual Ć© a razĆ£o de o STF ter que fazer mĆ©dia e abrir as pernas para o Congresso Nacional, que usa o corporativismo para discutir, se rebelar e atĆ© fazer ameaƧas contra o Poder JudiciĆ”rio? Foro privilegiado para crimes comuns por si sĆ³ Ć© uma aberraĆ§Ć£o jurĆdica, que hĆ” muito teria que ter deixado de existir. Ainda mais nos dias de hoje, quando temos 33 senadores e 155 deputados encalacrados atĆ© o pescoƧo com a JustiƧa.
Outro fato curioso foi a mudanƧa de opiniĆ£o de Marco AurĆ©lio Mello e Gilmar Mendes quando do julgamento do mesmo tipo de medida aplicada ao ex-deputado Eduardo Cunha. Naquela ocasiĆ£o, os dois foram taxativos em defender as medidas contra Cunha e agora, quando o envolvido Ć© AĆ©cio Neves, inverte-se o papel dos ministros. Por que serĆ”? AĆ©cio Ć© diferente e melhor que Cunha? Ambos sĆ£o bandoleiros do mesmo calibre.
A triste decisĆ£o do STF delega ao Congresso a tarefa de enquadrar os parlamentares criminosos pelos seus pares. Isso equivale a colocar a raposa para tomar conta do galinheiro. AlĆ©m disso, deixa para o Congresso a tarefa de interpretar quais medidas interferem e criam obstĆ”culos ao mandato parlamentar. Um absurdo.
Quem estĆ” adorando a celeuma Ć© Michel Temer. Primeiro porque Ć© aliado de AĆ©cio (gambĆ” cheira gambĆ”, diz o dito popular) e, segundo, por sair um pouco do foco da imprensa e do povo, enquanto move mundos e fundos para se manter no poder. EstĆ” sempre se articulando para empurrar com a barriga as denĆŗncias contra ele. Na expectativa do julgamento da chapa Dilma-Temer pelo TSE, nomeou dois aliados para ministros do tribunal, um mĆŖs antes da vacĆ¢ncia dos cargos, jĆ” contando com Gilmar Mendes, o “Soltador Geral de Criminosos de Colarinho-Branco”. Deu no que deu: absolviĆ§Ć£o por “excesso de provas”. Nomeou Alexandre de Moraes para o STF para se prevenir de futuros envolvimentos com a Suprema Corte.
O voto do aliado pode livrar sua cara, espera ele. Nomeou Raquel Dodge para a Procuradoria-Geral da RepĆŗblica, ignorando a indicaĆ§Ć£o da lista trĆplice do MinistĆ©rio PĆŗblico, jĆ” que ela Ć© desafeta de Rodrigo Janot, seu algoz. Trabalhou para indicar e manter seu aliado BonifĆ”cio Andrada na relatoria da CCJ, que vai analisar a segunda denĆŗncia contra ele na CĆ¢mara, alĆ©m de usar os mesmos mĆ©todos utilizados na primeira denĆŗncia: conchavos e compra descarada de apoio de deputados que nĆ£o estĆ£o nem aĆ para o Brasil.
Como era esperado, Andrada apresentou um relatĆ³rio chapa-branca, livrando a cara de Temer. Dias antes, em entrevista ao jornal “O Globo”, o deputado defendeu que Temer deveria processar Joesley Batista, que “conseguiu, atravĆ©s de meios nĆ£o muito sĆ©rios, entrar no palĆ”cio”, levando um gravador escondido, “um fato da maior gravidade”. SĆ³ uma perguntinha para o ilustre parlamentar: por que o presidente nĆ£o mandou prender imediatamente o empresĆ”rio pela entrada ilegal no palĆ”cio, preferindo entabular com ele uma longa conversa, citando fatos comprometedores, na calada da noite? O senhor deputado tambĆ©m acredita em Papai Noel e no Coelhinho da PĆ”scoa?