Herói do JF Fight, Luís Felipe Alvim conta como saiu da plateia e levou o cinturão
Juiz-forano substituiu lutador do principal desafio da noite, finalizou defensor de cinturão e pediu namorada em casamento
Luís Felipe Alvim (Pro Fight), 22 anos, fez história não apenas no esporte juiz-forano, como no mundial. Lutador e professor de muay thai, além de atleta de jiu-jítsu, o local deu aos fãs de MMA (artes marciais mistas) presentes na 18ª edição do JF Fight na noite do último sábado (7), no Gran Victory Hotel, muito mais que uma luta para ser eternizada. De torcedor, ex-ascendente à modalidade e solteiro, o local que fez brownies para vender na porta do evento e resgatar o preço pago pelo ingresso saiu idolatrado pelo público como campeão dos meio-médios (77kg) e noivo da companheira e aluna Fabiana Mageste.
Durante o evento, a organização informou que o juiz-forano Claudinei Kall desistiu de lutar no combate principal do card contra o defensor de cinturão meio-médio, Carlos Eduardo Blade. Luís Felipe não pensou duas vezes e se ofereceu para o desafio. O restante da história foi relembrada pelo protagonista à Tribuna na tarde desta segunda (9).
“Pedi a luta para o Felipe e Fabiano (Silva, irmãos e treinadores de Luís Felipe), e até eles levaram um susto porque não estava me preparando para uma luta desse porte, ainda mais com um atleta tão duro que só tinha uma derrota no cinturão do Jungle Fight, um dos maiores eventos do país. Eles me colocaram, mas tomei um balde de água fria porque tinham arrumado um outro lutador. Não toquei mais no assunto, o evento foi rolando e, faltando 40 minutos para o fim, o cara desistiu de lutar e me deram a oportunidade. Só deu tempo de me aquecer mais ou menos. Quando vi já estava entrando, a torcida gritando por mim, alguns me chamando de maluco, e eu sabia que se tivesse perdido muitos me julgariam. Mas acreditei o tempo todo que iria ganhar”, conta Luís Felipe. A seguir, confira o depoimento completo do atleta.
A luta
“Como ele é um cara da trocação e eu também, pensei que fosse terminar a luta em pé. Começamos a luta, ganhei espaço do ringue, andei para frente, fiz uma finta para ver qual seria o movimento dele, entrei com um chute muito colocado na costela, forte, e não sei como ele não saiu para trás. A partir disso ele me levou para o chão, melhorou na luta, até eu achar um armlock. Ficou no quase, vi que não ia encaixar e fechei a guarda. Peguei um gás, de pé, voei com uma joelhada aérea que estourou no peito e faltou muito pouco para nocautear. Coloquei bons golpes de mão, vi que ele estava sentindo. Quando fui entrar, ele me derrubou e tive que repor a guarda. Ele encaixou muitos golpes bons, senti a mão dele, veio um flash e cheguei a pensar no que estava fazendo ali e que tinha que fazer alguma coisa. Quando veio esse pensamento, dei um triângulo no automático. O corpo seguiu e, quando vi, estava encaixado. Fiz toda a minha força porque faltava muito tempo, orava para não acabar o round, e ele deu os três tapas e me aplaudiu. A plateia foi à loucura, gente invadindo o octógono, segurança entrando, eu gritando igual maluco, todos me abraçando. Pensei que fosse até apagar porque estava sem ar. Não tive tempo para curtir a vitória, já queriam me entrevistar, então peguei o microfone e fiz o que fiz.”
“Ela (Fabiana Mageste) ficou até meio triste porque, quando todos estavam me abraçando, pedi para ela ir para o canto, nem dei muita atenção. Aí comecei a falar no microfone, igual político, nunca falei tanto na minha vida! Fiz o pedido de casamento, na hora ela começou a chorar e disse sim. A gente já pensava em casar no ano que vem, apesar de nossa relação não ter muito tempo, pouco mais de um ano. Já vivemos muitas coisas juntos, vitórias e algumas derrotas. Um sempre ajudou o outro. Há muito tempo tinha prometido a ela que a pediria em casamento no momento que ela menos esperasse. E cumpri, na frente de todos, para o mundo inteiro.”
Trajetória
“Entrei na luta com 13 anos de idade, no muay thai. Fui ganhando meu espaço, crescendo e entrei no jiu-jítsu, estou treinando há três, quatro anos. Aumentei meu background e fui ficando bom. Tem dez anos que estou nessa jornada, sou grau preto de muay thai, faixa azul de jiu-jítsu e dou aula de muay thai para ganhar a vida. Eu luto. Há muito tempo quero ingressar no MMA, muitas pessoas falavam que eu era um talento, mas eu prolongava, até inventava desculpas. Vi a oportunidade como uma redenção, surgir como uma fênix das cinzas. Ninguém acreditava em mim, pedi uma luta duríssima, e acreditei firmemente que iria nocautear, que o cara iria trocar comigo, mas acabei finalizando”, conta o atleta treinado também pelo Mestre Ricardo Marques.
Repercussão
Juiz-foranos, brasileiros e estrangeiros abraçaram Luís Felipe e Fabiana de uma forma inimaginável. “No outro dia vi que havia feito uma loucura na minha vida, mas que tinha dado certo. Não acreditei no que fiz, com a repercussão, em que sites brasileiros e internacionais, blogs, jornais divulgaram. Fiquei sem sono, não entendi o motivo de tantas pessoas me parabenizarem. Foi uma energia incrível do evento, todos abraçaram a causa e torceram por mim. Pessoas mesmo de outras equipes vieram dizer que sou um talento. Caí de pára-quedas, mas renasci das cinzas e voltei muito mais forte.”
Confiança dos técnicos
Treinadores de Luís Felipe, os irmãos Fabiano e Felipe Silva não resistiram ao pedido do atleta. “Ele disse que era sério e, pelo trabalho e desempenho dele na academia, mesmo não treinando para o evento, sabemos do potencial que tem e o colocamos para lutar. Foi fenomenal. Chegou como o azarão, entrou de última hora e saiu glorioso porque fez uma luta maravilhosa e finalizou um excelente atleta que era o campeão. Ainda foi a primeira luta de MMA, ele já tinha várias de muay thai e de jiu-jítsu”, destaca Fabiano.
Para Felipe, também atleta do UFC, os presentes foram honrados com uma história de cinema. “Momentos antes da luta falei que já tinha escutado muitas histórias parecidas, mas nunca presenciado e que achava que não iria morrer sem ver uma porque pensei que fosse hoje (sábado). E não deu outra. Foi uma história de filme, uma emoção muito grande na vitória, algo bem impactante. Fiquei muito feliz com o resultado, ele estava até um pouco desmotivado com a carreira de lutador, e acho que agora isso vai ser algo para ele voltar à ativa com tudo.”
Companheira
A luta uniu, desde o princípio, Luís Felipe e Fabiana. O pedido, inesperado, fascinou a ex-aluna, fã e noiva do lutador. “Foi realmente surpreendente. Não esperava. Esperava qualquer coisa, menos isso. Foi um sonho de verdade. Recebi muitas mensagens de amigos e pessoas parabenizando a coragem do Luís. E assim que acabou a luta, a Camila (Corrêa), esposa do Felipe Silva, veio me dar um abraço e disse que uma mulher faz muita diferença na vida de um homem e que estou colocando o Luís para frente. Estamos construindo uma história de muito amor e parceria. Sou aluna dele, conheci o Luis na academia, perto da minha casa. Quando conheci ele já me apaixonei. E começamos a construir uma história de cumplicidade, sempre juntos, com um querendo levantar o outro”, conta Fabiana.