Momentos derradeiros
Presidente organiza sua tropa de choque para enfrentar denúncias do procurador-geral da República, mas terá que se fortalecer, pois o instinto de sobrevivência dos políticos sempre fala mais alto
Acuado pela denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o que faz dele um presidente denunciado no exercício do mandato, Michel Temer vive momentos derradeiros em sua carreira política. Se não vencer a “boa vontade” do Congresso em bloquear o prosseguimento da ação, será um homem isolado, uma vez que o instinto de sobrevivência dos partidos irá levá-los para o outro lado da trincheira ou, no mínimo, o muro. Talvez seja por isso que o Planalto se prepara para uma verdadeira guerra, pronto para cobrar do próprio Janot a explicitação das provas, e não os indícios que perpassam a documentação encaminhada ao Supremo. O chefe do Governo, porém, tem que lidar também com o fogo amigo. O artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na “Folha”, pregando o encurtamento do mandato e a convocação de eleições, pode ter sido um arremedo pessoal, mas soa como música para os tucanos que se sentem desconfortáveis na base do Governo. FHC lhes deu munição.
O presidente tem se apegado ao discurso econômico, para indicar que, a despeito de todos os impasses, a economia está indo bem, mas terá dificuldade em sustentar o discurso se sua fragilidade se ampliar. Há vários setores, inclusive da mídia, que apostam na sua queda no curto prazo; outros entendem ser um momento em que a serenidade deve ser a motivação da agenda política das instituições, mas até mesmos estes não apostam no presidente.
O país vive um cenário de incertezas por não ser apenas a situação do presidente Michel Temer o dado em discussão. O juiz Sérgio Moro está praticamente pronto para dar a sentença do ex-presidente Lula no caso do triplex. A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, senadora Gleisi Hoffmann, advertiu que a militância não aceita nenhuma decisão a não ser a absolvição, dando um ultimato ao juiz, embora, em tais casos, o caminho correto é recorrer, e não partir para o enfrentamento.
Por sua vez, os tucanos também vivem o dilema do que fazer com o senador afastado Aécio Neves. Embora tenha tido seu caso arquivado no Conselho de Ética – haverá recurso -, ele tem dificuldade em se manter presidente da legenda. Tucanos do alto escalão acham que, a essa altura do campeonato, ele mais atrapalha do que ajuda a legenda.