Pesquisador discute a chegada do cinema sonoro no Brasil

Cena de filmes das décadas de 1920 e 30
Em 1929, surgia o primeiro longa-metragem brasileiro com cenas sonorizadas: "Enquanto São Paulo dorme", de Francisco Madrigano. No mesmo ano, o filme "Acabaram-se os otários", de Luís de Barros, tornava-se a primeira obra cinematográfica completamente sonorizada e sincronizada do país. A informação é da "Enciclopédia do cinema brasileiro", que registra ainda a crítica brasileira contra o cinema falado, também visto com maus olhos na imprensa mundial. Esse e outros embates envolvendo os caminhos da sétima arte no decorrer do século XX são tema do bate-papo promovido pelo Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm) hoje. O convidado é o pesquisador Carlos Roberto de Souza, que apresenta, por lá, a chegada do cinema sonoro no Brasil.
"Como era um processo muito caro para ser realizado, no início, somente as grandes capitais e os grandes exibidores tiveram condições de realizá-lo. Os estados mais longínquos só tiveram salas equipadas na segunda metade dos anos 30", afirma o pesquisador, destacando o impacto na indústria do mundo inteiro provocado pelo desenvolvimento do cinema sonoro, a partir de 1926, nos EUA. Ele afirma que, no Brasil, as primeiras salas com equipamentos para exibição de filmes com som começaram a operar, em 1929, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Durante a palestra de Carlos Roberto de Souza, marcada para as 19h, serão exibidos curtas-metragens e cenas de longas da época. Na programação, estão escalados os curtas "O conde de Luxemburgo", de 1909, "Nursery favorites", de 1913, "Al Jolson in a plantation act", de 1926, "The night court", de 1927, "Mussolini fala", de 1928, e "Vamos falar do Norte", de 1929. "Reuni filmes editados em cinematecas estrangeiras e filmes que foram chegando à Cinemateca Brasileira. Alguns são raríssimos", informa o pesquisador.
Referência nacional nas áreas de história e preservação do cinema brasileiro e funcionário da Cinemateca Brasileira desde 1975, Carlos Roberto defendeu, em 2009, a tese intitulada "A cinemateca brasileira e a preservação de filmes no Brasil", por meio da qual obteve doutorado pela Universidade de São Paulo (USP). Também é autor de vários livros e artigos sobre o cinema brasileiro e editor da coletânea de DVDs "Resgate do cinema silencioso brasileiro", lançada pela Cinemateca em 2008. Atualmente é professor do programa de pós-graduação em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSC) e desenvolve pesquisa sobre o tema "O impacto da chegada do som no cinema do Brasil".
Ele destaca que, com a chegada do som, os produtores também tiveram que pensar em soluções para as filmagens. "Em menos de meia década, a indústria cinematográfica brasileira teve de se adaptar. O que no início era novidade, mais tarde, virou um padrão adotado internacionalmente", diz. "Além disso, devem ser consideradas as reações do público ao cinema sonoro. Havia uma expectativa grande cercando esses filmes, que modificaram bastante o espetáculo."
Ainda de acordo com a "Enciclopédia do cinema brasileiro", os críticos Otávio de Faria e Pedro Sussekind chegaram a publicar, no fim da década de 1920, na revista "O Fã", inúmeras lamentações contra o cinema falado, proclamando apenas "a imagem visual como a essência do cinema, em contraposição ao falatório de origem teatral". Com foco nesse imbróglio, porém, o encontro de hoje integra o projeto "Cinemamm" que, pela primeira vez, conta com evento organizado pelo Instituto de Artes e Design (IAD/UFJF).
"O cinema nunca foi, de fato, completamente silencioso. As exibições dos filmes mudos eram acompanhadas de um pianista ou de uma orquestra. Além disso, algumas vezes os atores ficavam por trás da tela do cinema, dublando as imagens. O que era silencioso era o suporte", ressalta a professora do curso de cinema do IAD, Alessandra Brum. "As pesquisas sobre o tema são escassas, ainda mais considerando os problemas com a preservação dos filmes desse período", comenta ela, referindo-se à produção do início do século XX.
Responsável pela vinda do pesquisador, o CPCINE é um grupo de pesquisa que desenvolve trabalhos nas áreas de história, estética e narrativas em cinema e audiovisual na UFJF. "O principal objetivo é a formação de espectadores de cinema na cidade, de modo a construir um pensamento em relação ao cinema a partir da discussão de temas específicos a cada encontro", afirma Alessandra. A previsão, conforme a professora, é realizar a proposta, intitulada "Cinema em foco", a cada dois meses, no Mamm.
O IMPACTO DA CHEGADA DO SOM NO CINEMA DO BRASIL
Hoje, às 19h
Mamm (Rua Benjamin Constant 790)