Na luta de Davi contra Golias quem perde é o consumidor?

Por Fernanda F. C. Perobelli, Bruno Perry, Cristhian Campos, Kamilla Menezes, Joyce Guimarães, Juliana Laurindo e Vinícius Versiani

A escolha do consumidor acerca de seus investimentos é uma discussão cada vez mais presente nas mídias. Aplicações financeiras diversas podem ser realizadas tanto por meio de bancos, quanto de corretoras e seus agentes de investimento.

Nos bancos, as aplicações possíveis são em CDB’s e fundos de investimento geridos pela própria instituição. Já nas corretoras, é possível investir em títulos públicos, ações, CDB’s e fundos de investimento de diversas instituições, certificados e letras de crédito do agronegócio e imobiliárias. Como se vê, o que difere ambas as instituições é o escopo dos investimentos, que é muito mais amplo nas corretoras, além do serviço ser diferenciado de acordo com o perfil de cada cliente também nessas últimas.

As duas vantagens, entretanto, ainda passam despercebidas pelo grande público. Em 2016, segundo fontes da revista “Exame”, cerca de 95% dos brasileiros ainda investiam por meio de bancos, contra 1% nos Estados Unidos e 30% na Índia. Esse dado revela o ínfimo grau de acesso dos investidores no Brasil ao amplo ‘mercado de capitais’, acessado apenas indiretamente, por meio dos fundos oferecidos pelos bancos. Além de nocivo ao investidor, tal concentração reduz a demanda e causa uma evolução mais lenta do mercado de capitais e um financiamento mais caro para as empresas que dele dependem no Brasil.

Esse excesso de conservadorismo dos brasileiros se deve à herança de um passado de políticas econômicas heterodoxas, com hiperinflação e até confisco das reservas em dinheiro da população, fatos que deixaram uma aversão ao risco muito grande por aqui e explicam porque os brasileiros ainda preferem guardar seu dinheiro em investimentos tidos como mais “seguros”, como imóveis e poupança.

Dados da Fecomércio-RJ revelam que cerca de 76% dos brasileiros ainda preferem a poupança como investimento, aplicação que não raro remunera menos que a inflação. Os que fogem da poupança ainda ficam presos à baixa variedade de produtos oferecida por seu banco tradicional, com apenas 5% da população tendo acesso ao amplo leque de alternativas oferecido pelas corretoras. O dado revela o baixíssimo grau de educação financeira existente no Brasil.

Se poupança e imóveis são reflexo dos anos perdidos na economia brasileira, a ‘preferência’ por bancos é fruto da excessiva concentração do setor. Recentemente, o conglomerado Itaú Unibanco acertou a compra de participação de 49,9% da corretora independente XP Investimentos por um total de R$ 6,3 bilhões. A XP foi criada em 2001 pelos professores de finanças Marcelo Maissonave e Guilherme Benchimol e, após a compra da também corretora independente Ágora pelo grupo Bradesco, tornou-se a maior corretora de varejo do país, com R$ 65 bilhões sob custódia e 230 mil clientes.

Grande parte desse resultado foi baseada na estratégia de educação financeira, aliada ao discurso da “desbancarização”, por meio do qual a XP defendia que corretoras ofereceriam um produto mais voltado aos interesses dos clientes que do banco (as corretoras vendem produtos de diversas instituições, sem compromisso prévio com nenhuma em particular). Até o momento, os envolvidos garantem que a compra não vai interferir no modelo de negócio da XP. É esperar para ver se o gigante Itaú Unibanco vai preservar a independência da valente XP ou se, mais uma vez, o consumidor sairá com menos opções num mercado excessivamente concentrado.

 

Guilherme Arêas

Guilherme Arêas

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