Nós, que agora caminhamos sobre a Terra, somos os primeiros a ver rock stars morrendo de velhice.
Somos os primeiros a ver anciãos de 70 anos rebolando no palco.
Mick Jagger.
Robert Plant (ano que vem).
Somos os primeiros a ver pais tatuados com a mesma naturalidade que se vê pais de gravata, pais de macacão, pais de jaleco.
Pais cabeludos.
Pais que usam piercing.
Pais que tocam guitarra na festa da escola de seus filhos.
Pais que tocam em bandas e tocarão em bandas daqui a 30 anos.
Pais que são mães.
Nós somos os primeiros a ver como a coisa mais natural do mundo os homens que trocam fraldas, fazem o almoço, lavam a louça, varrem a casa, vão à reunião da escola, fazem o supermercado, supervisionam o dever de casa.
Que preferem dar a receber prazer.
Se não os primeiros, uns dos primeiros a ver homens que amam homens e mulheres que amam mulheres como gente que ama gente.
Os primeiros a jogar videogame com seus filhos e possivelmente com seus netos.
A colecionar quadrinhos e a usar camisetas com estampa de desenho animado sob a barba branca.
Nós, educados por nossas mães e tias a ficar na roda dos homens e colocar as mulheres em seus devidos lugares-outros, agora somos reeducados por nossas mulheres e filhas e vemos nossas irmãs dirigindo motos, táxis, caminhões, barcos, aviões, empresas, cidades, estados, países, destinos.
Anacrônicos, nascidos em um tempo e crescidos em outro, vemos e vivemos tudo isso.
E cozinhamos.
Pintamos as unhas das nossas filhas.
E admitimos que tudo isso ainda pode assustar um pouco.