Quem não sonhou…
Esqueçam Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar. A realidade de 99,9% dos jogadores de futebol é bem mais dura do que a que acompanhamos nas “selfies” cheias de sorrisos e beldades dos craques mais badalados. A maior parte não tem carrão importado, apesar de grande parte se esforçar em manter um cabelo da moda e a marra típica dos boleiros – mania compartilhada por muitos peladeiros de plantão.
A esmagadora maioria dos boleiros vai para treinos de transporte público, a pé ou de carona com o veterano que veio jogar em um clube de pequeno porte a troco de um último tostão – vale lembrar que a profissão tem vida curta, o que inviabiliza aos atletas a se aposentarem apenas com os serviços prestados em campo. Alguns até conseguem descolar um carango velho, mas a gasolina pesa no bolso. Muitos, aliás, sem grana para bancar um local para morar, amontoam-se em alojamentos de estrutura duvidosa.
O grosso dos profissionais vem de família pobre e convive com a frustração de não ter conseguido juntar o tal pé de meia ou alcançar a incensada independência financeira. Quase todos moram distante de familiares, sem “cascalho” ou tempo – a jornada é das mais pesadas – para visitar, pai, mãe, irmão, cachorro. Enquanto muito trabalhador comum vive de bico, vários atletas vivem de “bichos” – ou da promessa de que a gorjeta irá engordar seus parcos vencimentos.
Em suma, a vida de jogador não é fácil. Trata-se de uma profissão ingrata, de baixos salários e contratos temporários de enorme fragilidade jurídica. Sempre à mercê de empresários e cartolas mais preocupados em burlar acordos para embolsar “unzinho”. A maioria é abandonada a deus dará a cada final de torneio, sem a certeza de estar empregada nos meses subsequentes.
Enfim, a aprovação de algumas “flexibilizações” e “concessões” nas regras trabalhistas por parte do Congresso e outras propostas em andamento podem ser capazes de realizar um grande sonho do “brasileiro”: transformar todo e qualquer trabalhador em um “jogador de futebol”.