Gestos banais


Por Juliana Netto

05/01/2017 às 09h55

Juiz de Fora, já nos primeiros dias de 2017, registrou dois crimes consumados contra a vida. Segue-se, aí, um roteiro, como em 2016, quando os homicídios bateram recordes em relação a anos anteriores. Mas há um dado emblemático: a motivação que inaugurou a perversa estatística da cidade. Num dos casos, de acordo com as primeiras investigações da Polícia Civil, a vítima não era o alvo, mas foi confundida pelo autor. No outro, a causa teria sido uma tatuagem na namorada do responsável pelo crime.

Tanto num caso quanto no outro ficou clara a depreciação da vida. Mata-se por pouca coisa, muitos por considerarem a impunidade uma realidade; outros por entenderem que são senhores do bem e do mal, como é comum em alguns espaços urbanos, nos quais a comunidade se tornou refém.

A chacina no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, a despeito da distância, é emblemática para esses novos tempos, embora explicite uma realidade de longa data: o Estado, mais por sua inação, está perdendo a batalha contra a violência. O que se viu em Manaus, a despeito de desmentidos formais, foi uma guerra de poder dentro do sistema, que se espalha pelo país afora, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. As facções sofisticaram a tática de cooptação. Por mais espaço, se enfrentam numa guerra suja, na qual o viés escatológico se apresenta como fonte de poder. Metade das vítimas, de acordo com o IML manauara, foi decapitada.

Os governos mudam, mas a agenda sobre a segurança pública não avança, detendo-se em pautas comuns, sem aprofundar uma discussão que se faz necessária. E uma das questões recorrentes é o sistema penitenciário, que desconhece a dimensão das penas, colocando no mesmo espaço internos com e sem periculosidade. Esse caldo, como já foi dito na TM, forma um cenário de dominação.

A sociedade, por sua vez, tem uma postura passiva, sobretudo por considerar que, enquanto as facções se enfrentam, está sendo feita, de uma certa forma, a justiça que o Estado formal não promove, mas trata-se de um equívoco. O avanço dos grupos organizados é um risco coletivo.

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